sábado, 4 de dezembro de 2010

sobre os Contos de Terror de Edgar Allan Poe (1:3)






Sobre os Contos de Terror
do escritor norte-americano Edgar Allan Poe
(1809-1849)

literatura de terror


Quando o terror jaz no inexplicado

P1


Os contos aos quais dedicaremos atenção neste ensaio são aqueles clássicos do terror encontrados na coleção “Contos do Grotesco e do Arabesco” ( “Tales of the Grotesque and Arabesque”, nos EUA) e “Histórias Extraordinárias” (“Histories Extraordinaires” na tradução de Charles Baudelaire, na França), de dois volumes, com publicação em 1839, numa época em que o autor Poe passava por dificuldades familiares e financeiras.

Várias leituras já foram feitas sobre as características principais do 'conto de terror', mas nos deteremos aqui para pensar um pouco sobre os 'ingredientes' e as 'condições' do terror. Que pode resultar de vários fatores em várias condições. Pois o Terror pode acontecer em ambientes soturnos – a personagem já está pré-disposta a sentir medo – vide as gothic novels clássicas do século 18. Em pleno século das Luzes, o irracionalismo e as superstições reinam num clima de neo-medievalismo de aventuras e fantasmagorias.

Ou situação sinistra, algo estranho que a personagem percebe tarde demais – vide os contos de Poe e H. P. Lovecraft – onde as fronteiras entre o banal e o terror são delimitadas apesar de notadas quando transpostas. Ou o terror meio ao que parece familiar, o não-domesticado irrompe, é o Unheimliche, dos contos de Hoffmann.

Pode ser que o terror apareça subitamente no cotidiano mais banal – assim em alguns contos de Poe, e atualmente em algumas obras do norte-americano Stephen King – vide “Pet Sementary” (O Cemitério Maldito), onde o terror está oculto sob uma máscara de cotidiano. Pode se insinuar com um assassino inesperado – seja monstro ou um psicopata à solta. Pode ser uma antiga maldição que agora fatidicamente se realiza. Ou seja, pode ser algo natural ou sobrenatural que sem mais nem menos rompe o cotidiano banal – e causa terror, devido ao inesperado, ou perigo de morte violenta.


Há também o terror místico – a presença do sobrenatural dentro de um mundo supostamente natural – vide alguns contos de H. P. Lovecraft e o Dracula de Bram Stoker – como as figuras de fantasmas, almas desencarnadas, vampiros, zumbis (mortos-vivos), lobisomens, monstros, semi-deuses que adentram o mundo humano. Não apenas um 'efeito psicológico' mas também um elemento além-do-natural (ou não pertencente a ordem humana, no caso dos 'super-heróis' ou 'titãs' da mitologia grega, por exemplo.)


fonte das citações:Literature Network
http://www.online-literature.com/poe/

cotejado com a edição “Selected prose and poetry” de 1965


A Narração nos contos de Poe

O modo de narrar, como um ato de mostrar, mas sem explicar, elucidar exatamente, é encontrado nos contos de Poe, tais como “O Gato Preto”, “Coração Denunciador”, “Demônio de Perversidade”, “Berenice”, “Ligeia”, dentre outros. O próprio Narrador cria as suspeitas e não passa qualquer explicação convincente (e definitiva) ao Leitor.


Um escritor obcecado com detalhes, com uma lógica do ilógico, com uma geometria do horror, sendo capaz de conjugar (e compor) contos tão arrepiantes (pelo menos para a época...) com tais ingredientes, no que se passou a chamar de ‘narrativas fantásticas’ (ou ‘extraordinárias’), meio ao universo de narrativas de aventuras e mistério (policial, sobrenatural, místico, etc), onde o importante é o esclarecimento dos enigmas, encontrar o culpado pelos crimes, ou o demiurgo dos fenômenos sobrenaturais.


A presença do Narrador em constante dúvida é bastante para situar o conto “A Queda da Casa de Usher” na lista dos ‘contos fantásticos’ (ao contrário de Todorov, que considera o conto um exemplo de ‘conto estranho’, pois enumera fatos que tentam explicar – a fissura das paredes, o terreno pantanoso, o estado de catalepsia da doente), pois o ‘fantástico’ é o que caracteriza os citados contos, que nada têm de explicativos ou científicos, mas descrições de ‘estados psicológicos’ (ainda mais com a narrativa sendo em 1a pessoa, e não feita por um Narrador onisciente), e visam mais um ‘efeito de suspense’ do que resolver ou esclarecer o mistério.

Efeito que conspira para o ‘fantástico’, o nebuloso, o quase sobrenatural, pois nada é evidenciado. Precisamos acreditar na narrativa de um Narrador transtornado, não temos outra alternativa. A própria casa torna-se um ‘fantasma’ na mente do Narrador, que até escolhe narrativas góticas para ler como passatempo junto ao amigo. É um exemplo de ‘psicologismo’, uma narrativa de ‘horror psicológico’ (que é muito explorado por autores como H. P. Lovecraft e Stephen King, influenciados por E A Poe) com uma narrativa enigmática, labiríntica, imagética, alucinada e alucinatória, em tons melancólicos, ou depressivos, em ressonâncias decadentes, em finitudes entranhadas, em desespero lírico, de romantismo gótico.

É na biografia do autor Edgar Allan Poe, escrita por H. Allen, e comentada (entusiasticamente) por Charles Baudelaire, que podem ser encontradas muitas das fontes para a criação de tal narração em 1ª pessoa, o Narrador que hesita, que fica perplexo, que não explica que deixa se levar por sensações, ser dominado por calafrios, e a tecer considerações que exigem a cumplicidade do Leitor, a compartilhar do horror descrito.


The Fall of the House of Usher

Em “A Queda da Casa de Usher”, o narrador é em 1ª pessoa a descrever o ambiente, numa descrição que reflete no cenário o ânimo depressivo do narrador e do protagonista (Roderick Usher).

A considerar o conto “A Queda da Casa de Usher”, tendo em vista a marca autoral de E A Poe, é notável o Narrador (o amigo de Roderick Usher) que o tempo todo tenta se explicar, crendo-se imerso numa fantasmagoria que nasce de ilusões visuais e psíquicas. “Eu não sei como era”, ou “O que era isso – eu parei para pensar – o que era isso que me deprimia (unnerved) ao contemplar a casa de Usher?”, pois assim parece que tudo nasce (e ecoa) na mente do Narrador.

O início é impactante, é magistral. É mórbido, depressivo, psicológico.

“Durante todo um dia desolado, sombrio e silencioso no outono do ano, quando as nuvens pairavam opressivamente baixas no céu, eu passava sozinho, cavalgando, através da singularmente desolada região; e então encontrei-me, quando as sombras da noite já desciam, à vista da melancólica casa de Usher. Eu não sabia como era – mas, ao primeiro relancear da construção, um senso de insuportável desolação invadiu-me o ânimo.

Eu digo 'insuportável'; pois o sentimento era pouco aliviado por algum meio-aprazível sentimento, posto que poético, como que a mente geralmente recebe as imagens naturais mais severas do desolado e do terrível. Eu olhava a cena diante de mim – sobre a casa em si, sobre a simples paisagem dos arredores – sobre as paredes desoladas – sobre as janelas que pareciam olhos-vazados – sobre os poucos arbustos – e sobre uns poucos troncos de árvores decadentes – com uma completa depressão de alma com a qual não posso comparar a nenhuma sensação terrestre mais propriamente que a ressaca de quem desperta após o consumo do ópio.”

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“DURING the whole of a dull, dark, and soundless day in the autumn of the year, when the clouds hung oppressively low in the heavens, I had been passing alone, on horseback, through a singularly dreary tract of country ; and at length found myself, as the shades of the evening drew on, within view of the melancholy House of Usher. I know not how it was - but, with the first glimpse of the building, a sense of insufferable gloom pervaded my spirit.

“I say insufferable ; for the feeling was unrelieved by any of that half-pleasurable, because poetic, sentiment, with which the mind usually receives even the sternest natural images of the desolate or terrible. I looked upon the scene before me - upon the mere house, and the simple landscape features of the domain - upon the bleak walls - upon the vacant eye-like windows - upon a few rank sedges - and upon a few white trunks of decayed trees - with an utter depression of soul which I can compare to no earthly sensation more properly than to the after-dream of the reveller upon opium -”


O Narrador se indaga sobre o próprio ato de narrar – não tem certeza dos próprios sentimentos – é assim anti-racionalista (o oposto do 'esclarecido' Robinson Crusoé, do clássico de Defoe, no século 18.

“O que era isso – eu parei para pensar – que era que tanto me irritava (ou enervava) ao contemplar a casa de Usher?” (“What was it – I paused to think – what was it that so unnerved me in the contemplation of the House of Usher?”)

Por que temos toda a narrativa? O que sucederá de terrível?

O Narrador – ao lado do amigo depressivo Roderick Usher – é tomado pela atmosfera lúgubre da mansão, à beira de um pântano, a sofrer as rachaduras do tempo, e não sabe como escapar a todas as inspirações melancólicas que a visita ocasiona. Torna-se excitado e desassossegado com a atmosfera ‘sulforosa’ do lugar, além do ambiente doméstico doentio – Roderick sofre pavorosamente com a doença cataléptica da irmã Madeline (que é enterrada ainda viva). O tema da ‘quase-morte’ aparece também nos contos “Enterro Prematuro” e “O Caso do Sr. Waldemar”. Os livros de Roderick já apresentam um universo de hipocondria, fantasia e ocultismo: títulos de quiromancia, mitologia, utopias, magias, eclesiásticos, manuais de inquisidores, etc., que podem até sugerir uma ‘explicação sobrenatural’, tal uma ‘ressurreição dos mortos’.


Aqui os elementos da estranheza, do sinistro (Unheimliche) começam a se manifestar – o que há na casa desolada que a apresenta sempre 'lúgubre'? O aspecto exterior? O recluso interior? O ânimo do Narrador? Afinal, ele está predisposto ao terror...

“Era um mistério de todo insolúvel; nem poderia enfrentar as sombrias fantasias que me povoavam enquanto eu meditava. Era forçado a cair de volta a insatisfatória conclusão que enquanto, além de dúvida, haviam combinações de objetos naturais que têm o poder de nos afetar, ainda a análise deste poder jaz em considerações além do nosso entendimento.”
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It was a mystery all insoluble ; nor could I grapple with the shadowy fancies that crowded upon me as I pondered. I was forced to fall back upon the unsatisfactory conclusion, that while, beyond doubt, there are combinations of very simple natural objects which have the power of thus affecting us, still the analysis of this power lies among considerations beyond our depth.”

O Narrador se esforça por ser racional – analisar as razões do próprio sentimento melancólico diante da morbidez que a antiga mansão desperta. Antes da ação propriamente dita o Narrador de Edgar Allan Poe tece considerações sobre a perspectiva, da possibilidade de narrar – afinal, não há 'onisciência' – e mesmo sabendo o final (pois sobreviveu para narrar!) a voz narrativa não antecipa – semeia pausas e suspensões.


“Eu disse que o único efeito de meu experimento um tanto infantil – de olhar dentro do lago – tinha sido aprofundar a primeira impressão singular. Lá não podia haver dúvida que a consciência do rápido crescimento de minha superstição – pois por que eu não deveria nomeá-la? - servia principalmente para acelerar o crescimento em si-mesmo. Assim, tenho sabido há muito tempo, é a lei paradoxal de todos os sentimentos que têm como base o terror.”

“I have said that the sole effect of my somewhat childish experiment - that of looking down within the tarn - had been to deepen the first singular impression. There can be no doubt that the consciousness of the rapid increase of my superstition - for why should I not so term it ? - served mainly to accelerate the increase itself. Such, I have long known, is the paradoxical law of all sentiments having terror as a basis.”

O terror que congrega um sentimento íntimo em consonância com um externo opressor – tais aquelas descrições de paisagens nos poemas românticos (e também em alguns trechos de “Frankenstein”, como já vimos.) “Um ar de severa, profunda, e irremediável desolação pairava sobre tudo e invadia tudo.” (“An air of stern, deep, and irredeemable gloom hung over and pervaded all.”)

Pálido, cadavérico, o protagonista recebe o Narrador. Que tormentos arruinaram o nobre Roderick Usher?

“Descobri nas maneiras de meu amigo um incoerência – uma inconsistência; e logo percebi que surgiam de uma série de lutas febris e fúteis para dominar um tremor habitual – uma excessiva agitação nervosa. Para algo desta natureza eu tinha realmente sido preparado, não menos pela carta do que pela lembrança de certo modo juvenil, e por conclusões deduzi da peculiar conformação física e do temperamento dele. As ações dele ora eram exaltadas ora eram melancólicas.”

“In the manner of my friend I was at once struck with an incoherence - an inconsistency ; and I soon found this to arise from a series of feeble and futile struggles to overcome an habitual trepidancy - an excessive nervous agitation. For something of this nature I had indeed been prepared, no less by his letter, than by reminiscences of certain boyish traits, and by conclusions deduced from his peculiar physical conformation and temperament. His action was alternately vivacious and sullen.”

A descrição considera as afetações do psicológico sobre o corporal, como se a doença fosse psicossomática (como se diz atualmente) quando um evento psíquico afta o corpo – p. ex. Ficar melancólico devido a uma forte sugestão (artística, estética, etc) e perder o vigor corporal.

“Ele sofria muito com uma mórbida agudeza dos sentidos”, “He suffered much from a morbid acuteness of the senses.”, tal um alérgico, o mundo externo tortura o hipersensível. O próprio protagonista Usher se percebe condenado, aterrorizado (o que contagia o Narrador, tal como a visita ao Conde Dracula irá sugestionar o narrador Jonathan Harker, no clássico vampírico de Bram Stoker, publicado meio século depois)

“Eu o encontrei escravo de uma espécie estranha de terror. 'Morrerei', dizia, 'Morrerei nesta deplorável loucura. Assim, e não de outro modo, estarei perdido. Temo os eventos do futuro, não neles mesmos, mas os resultados. Estremeço ao pensamento de que mesmo o mais trivial incidente pode causar uma intolerável agitação na alma. Eu tenho, realmente, nem ódio do perigo, exceto de seu absoluto efeito – no terror. Nesta enervante e lastimável condição eu sinto que o momento, que mais cedo ou mais tarde chegará, quando eu deverei abandonar a vida e pensar junto, em alguma luta com o medonho fantasma, o MEDO.”

“To an anomalous species of terror I found him a bounden slave. "I shall perish," said he, "I must perish in this deplorable folly. Thus, thus, and not otherwise, shall I be lost. I dread the events of the future, not in themselves, but in their results. I shudder at the thought of any, even the most trivial, incident, which may operate upon this intolerable agitation of soul. I have, indeed, no abhorrence of danger, except in its absolute effect - in terror. In this unnerved - in this pitiable condition - I feel that the period will sooner or later arrive when I must abandon life and reason together, in some struggle with the grim phantasm, FEAR."

A doença da irmã, a débil Srta. Madeleine Usher, vem agravar o ambiente familiar em elementos mórbidos – temos a mansão e os moradores em decadência. As relações entre ânimo e saúde física são narradas com vocabulário médico, como uma tentativa (aqui, frustrada ) de recorrer às bases científicas. A fantasia precisa de alguma verossimilhança, não trata-se de uma fábula ou lenda – mas de um outro mundo em nosso universos possível. O leitor encontra o 'estranho' dentro de um mundo familiar (há uma tradução, uma genealogia, uma propriedade, uma família) – o 'sinistro' irrompe dentro do 'doméstico',

“Enquanto ele falava, a Srta Madeleine (pois assim ela se chamava) passou lentamente através da parte remota do aposento, e, sem notar minha presença, desapareceu. Eu a observei com um total assombro não sem ser misturado com medo – e ainda percebi ser impossível explicar tais sentimentos. Uma sensação de estupor me oprimia, enquanto meus olhos seguiam seus passos ao se recolher. [...]

A doença da Srta. Madeleine tinha há muito tempo frustrado a destreza dos médicos. Uma instalada apatia, uma gradual perda da personalidade, e frequentes e temporários sintomas de uma caráter parcialmente cataléptico, foram os diagnósticos incomuns.”
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“While he spoke, the lady Madeline (for so was she called) passed slowly through a remote portion of the apartment, and, without having noticed my presence, disappeared. I regarded her with an utter astonishment not unmingled with dread - and yet I found it impossible to account for such feelings. A sensation of stupor oppressed me, as my eyes followed her retreating steps. [...]

The disease of the lady Madeline had long baffled the skill of her physicians. A settled apathy, a gradual wasting away of the person, and frequent although transient affections of a partially cataleptical character, were the unusual diagnosis.”

O Narrador tenta descrever as próprias sensações, no ambiente, “Das pinturas sobre as quais sua elaborada fantasia ruminava, e a qual crescia, toque após toque, na vagueza na qual eu estremecia o mais agitado, pois estremecia sem saber o motivo; - destas pinturas (vívidas como as imagens delas agora diante de mim) em vão eu poderia me esforçar para deduzir mais que uma pequena porção que deveria jazer dentro do limite de palavras meramente escritas.” (“From the paintings over which his elaborate fancy brooded, and which grew, touch by touch, into vaguenesses at which I shuddered the more thrillingly, because I shuddered knowing not why ; - from these paintings (vivid as their images now are before me) I would in vain endeavor to educe more than a small portion which should lie within the compass of merely written words.”)

O anfitrião Roderick Usher é um erudito – tem uma vasta biblioteca, cujo os livros são cuidadosamente listados – alguns reais, outros inventados pelo Autor (essa também será a mania de um Jorge Luis Borges, um século depois...) - títulos sobre ocultismo, alquimia, esoterismo, utopias – não é de admirar que tanto protagonista quanto narrador estejam tão sugestionáveis, prontos para o terror.

Aqui será morte (e o retorno) de Madeleine – e como a fatalidade atua sobre o doentio Roderick Usher,

“E agora, alguns dias de amarga aflição tinha passado, uma observável mudança ocorreu nos traços da desordem mental de meu amigo. Seus modos comuns se perderam. Suas ocupações comuns foram negligenciadas e esquecidas. Ele vagava de um cômodo a outro com passos apressados, desiguais, sem rumo. Sua palidez tinha assumido, se isto é possível, uma nuance lívida – mas a luminosidade de seu olho se perdera totalmente.”

“And now, some days of bitter grief having elapsed, an observable change came over the features of the mental disorder of my friend. His ordinary manner had vanished. His ordinary occupations were neglected or forgotten. He roamed from chamber to chamber with hurried, unequal, and objectless step. The pallor of his countenance had assumed, if possible, a more ghastly hue - but the luminousness of his eye had utterly gone out.”

As leituras fazem parte da narrativa – algo de metalinguagem – com um poema - “The Haunted Palace” - a descrever o passado idílico da casa e também a decadência, depois uma narrativa (“Mad Trist”, de Sir Launcelot Canning) que entra em paralelismo com o ressurgir de Madeleine – até os ruídos descritos no livro acabam por ressoar nos porões da mansão dos Usher,

“para mim parecia que, de alguma parte remota da mansão, chegava aos meus ouvidos, o que deveria ter sido, numa exata similaridade de modo, o eco (mais abafado e surdo, certamente) de um som de algo a se quebrar ou dilacerar tal qual Sir Launcelot tinha particularmente descrito.”

“it appeared to me that, from some very remote portion of the mansion, there came, indistinctly, to my ears, what might have been, in its exact similarity of character, the echo (but a stifled and dull one certainly) of the very cracking and ripping sound which Sir Launcelot had so particularly described.”

e

“Novamente aqui eu fiz uma pausa de repente, e agora com um sentimento de selvagem assombro – pois não poderia haver dúvida de que algo, neste momento, que eu realmente ouvira (apesar de ser impossível dizer de que direção) um som dissonante ou grito incomum, baixo e aparentemente distante, mas estridente, prolongado – a exata contraparte do que minha fantasia tinha já conjurado para o grito desnaturado do dragão tal qual descrito pelo romancista.”

Here again I paused abruptly, and now with a feeling of wild amazement - for there could be no doubt whatever that, in this instance, I did actually hear (although from what direction it proceeded I found it impossible to say) a low and apparently distant, but harsh, protracted, and most unusual screaming or grating sound - the exact counterpart of what my fancy had already conjured up for the dragon's unnatural shriek as described by the romancer.”


O terror no romance lido se materializa na situação vivenciada – para o leitor é apenas um conto lido – a ponto de se confundir as vozes narrativas – a do romance Mad Trist e a do conto House of Usher, e a tirar o resto de sanidade do transtornado Roderick,

“Mas, quando eu coloquei a mão sobre o seu ombro, sobreveio um violento sobressalto em toda a sua pessoa; em seus lábios tremeu um sorriso doentio; e vi que ele falava num murmúrio baixo, precipitado e incoerente, como se inconsciente de minha presença. Inclinando-me junto dele, pude ouvir enfim o significado horrível de suas palavras.”

“But, as I placed my hand upon his shoulder, there came a strong shudder over his whole person ; a sickly smile quivered about his lips ; and I saw that he spoke in a low, hurried, and gibbering murmur, as if unconscious of my presence. Bending closely over him, I at length drank in the hideous import of his words.”

A morta-viva irrompe no momento de loucura – os últimos descendentes da linhagem dos Ushers se matam – e o narrador consegue fugir – e sobreviver. Pode então observar o fim da família e a ruína da mansão – assim a 'casa' de Usher tem duplo sentido: a família e o edifício, o simbólico e o material, a genealogia e a arquitetura.


A temática do corpo enterrado precocemente, como é o caso de Madeline Usher, ou do corpo ocultado, está presente em outras narrativas do Autor. O corpo emparedado, em “O Gato Preto”; o cadáver enfiado na chaminé, em “Crimes da Rue Morgue”; o corpo desmembrado, enterrado sob as tábuas do piso, em “O Coração Denunciador” (The Tell-Tale Heart); todas estas ocorrências (ou semelhanças) evidenciam as marcas ‘fisionômicas’ do estilo autoral presente nos textos. São temáticas fantásticas, inconscientes, mas usadas numa técnica consciente, estética, visando um determinado efeito. A plenitude do texto seria a totalidade da Forma que causa um Efeito estético (segundo o próprio Poe, em “A Filosofia da Composição” (The Philosophy of Composition) , onde a Beleza, mais que uma Forma, é um Efeito)

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Fonte: http://www.online-literature.com/poe/31/


Fall of the House of Usher
movies
http://www.youtube.com/watch?v=wimNsfqbqkw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=lk6xV5sQ8KA
http://www.youtube.com/watch?v=lk6xV5sQ8KA
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theatre
http://www.youtube.com/watch?v=gQrdFdiNd7I&feature=related
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music
http://www.youtube.com/watch?v=h4RIIoZuBhU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=65tVSUhYxgs&feature=related
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animation
http://www.youtube.com/watch?v=_41ER3SL5f4&feature=related

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continua....


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nov/10


Leonardo de Magalhaens
http://leoleituraescrita.blogspot.com/


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