sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os Miseráveis - Parte 4 (2/2)




Sobre Os Miseráveis (Les Misérables, 1862)
do escritor francês Victor Hugo (1802-1885)

As Obras Clássicas (ensaio 3)

O Romance Burguês enquanto Epopeia moderna


Parte IV – O Idílio da Rua Plumet e a Epopeia da Rua Saint-Denis
(2/2)

Livro VI – O pequeno Gavroche

O menino das ruas que fala em dialeto coloquial dos marginais (um dialeto devidamente 'traduzido' pelo Narrador ) como escrevemos na introdução desta série de ensaios, aqui Gavroche é o “Oliver Twist”, é o “capitão da areia”, o arquétipo do menino marginal.

Gavroche é também outra vítima da decadência dos decadentes Thénardier. A velha Thénardier que cuida das filhas e despreza os filhos. E Gavroche é um destes filhos, que acaba por ir viver nas ruas, junto aos marginais.

Temos aqui cenas parisienses vista na perspectiva de um menino pobre e muito esperto (ou o Narrador o faz ser esperto...). É possível encontrar as mesmas figuras dos poemas de Baudelaire e dos romances de Balzac. Até porque o Narrador não hesita em diluir aqui nessa narrativa as várias leituras do Autor – temos (só no início da Parte IV) referências à Dante, João Evangelista (do Apocalipse), Machiavel, La Fontaine, Racine, Shakespeare, Goethe, Walter Scott, etc!

Destaque para os diálogos breves, diretos e cubistas. Várias personas, vários ângulos para captar o ir e vir da fauna urbana. É um capítulo difícil de ler – requer um estudo da época retratada – para entender, p.ex., “Ulisses” o leitor é obrigado a estudar a Dublin do fim do século 19 e do início do século 20. Assim, “Os Miseráveis” requer um conhecimento sobre a Paris da época pós-Revolução.

O Autor tenta recriar (em 1860) uma época (de 30 anos antes) através de um Narrador onisciente, enciclopédico, detalhista, digressivo. Dedica muito tempo e espaço a florear a moldura do quadro – a ponto de desfocar a pintura, a cena retratada. Há um verdadeiro histórico dos monumentos parisienses, a moda da época, tudo retratado em 'fotos literárias'.

Vemos um menino que mora dentro de um monumento público em forma de elefante (!), um monumento da época napoleônica, de causar sensação, “uma criança surpreendida escondida dentro do elefante da Bastilha” (p. 1007), afinal, para quê há de servir um tal excêntrico monumento? Pelo menos pode dar abrigo a um menino das ruas. “Esse monumento desmensurado que contera um pensamento de imperador tornara-se morada de um vadio” (“Ce monument démesuré qui avait contenu une pensée de l'empereur était devenu la boîte d'un gamin.” II, p. 1009). Há uma ironia, uma 'desconstrução' do 'monumento público', do 'bem público', a forma como a miséria de apropria dos 'espaços públicos'. A pompa e elegância vazia da cidade que ignora a sua multidão de pobres e miseráveis.

Os miseráveis que se tornam bandidos, de batedores de carteiras até assassinos em série. Vemos estes bandidos em fuga, na noite escura, lá os vultos de Thénardier, Brujon, Babet, Gueulemer. A fuga de Thénardier que terá importante função no ápice da narrativa da rebelião. É também interessante o registro das gírias e coloquialismos, aqui 'devidamente traduzidos'.

Tanto que o Livro IV é todo dedicado às gírias (L'argot), numa longa digressão sobre bases etimológicas, semânticas e sociais. O Narrador problematiza: em história tão grave e séria pode-se introduzir a gíria de ladrões? Sim! E justifica: por que o horror de dedicar-se a tal estudo? “O pensador que se desvia da gíria se assemelharia a um cirurgião que se desvia de uma úlcera ou de uma verruga. Seria um filólogo hesitando em examinar um fato da língua, um filósofo hesitando em pesquisar um fato da humanidade.” ( “Le penseur qui se détournerait de l'argot ressemblerait à un chirurgien qui se détournerait d'un ulcère ou d'une verrue. Ce serait un philologue hésitant à examiner un fait de la langue, un philosophe hésitant à scruter un fait de l'humanité.” I, pp. 1036-37)

A digressão do Autor se aproxima do decadentismo: o belo ao lado do feio, o escuro ao lado do claro; o escritor, o artista não deve ignorar o horrendo, e preferir o formoso. (Assim entendemos Victor Hugo, o autor de “Notre Dame du Paris” onde o protagonista é o disforme corcunda Quasímodo.) E ele diz mais: “a gíria não é nada mais que um vestiário onde a língua, tendo alguma má ação a fazer, ser disfarça. Ela se reveste ali de frases-máscaras e metáforas-farrapos. Às vezes, torna-se horrível.” (“L'argot n'est autre chose qu'un vestiaire où la langue, ayant quelque mauvaise action à faire, se déguise. Elle s'y revêt de mots masques et de métaphores haillons. / de la sorte elle devient horrible.” p. 1041)

Pois o Estudo, a Literatura deve ter um objetivo: fazer a luz superar as trevas: “A verdadeira divisão humana é esta: os luminosos e os tenebrosos. // diminuir o número de tenebrosos, aumentar o número de luminosos, eis o objetivo. Eis porque clamamos: educação! ciência! Aprender a ler, é acender o fogo; toda sílaba soletrada é faísca.” (“La vraie division humaine est celle-ci: les lumineux et les ténébreux. // Diminuer le nombre des ténébreux, augmenter le nombre des lumineux, voilà le but. C'est pourquoi nous crions: enseignement! science! Apprendre à lire, c'est allumer du feu; toute syllabe épellé étincelle.” p. 1042)

Segue-se uma longa digressão – interessante aos eruditos em linguística francesa. É para eles que o Narrador exercita o seu papel de pedagogo. A Literatura enquanto 'ensinamento' para iluminar as trevas da ignorância. Assim o Autor Victor Hugo cria sua imagem de “Iluminista”.

As relações entre linguagem e classe social (as raízes da Sociolinguística?) A importância da educação para iluminar os revolucionários. A Revolução de pobres armados que tanto traz o bem quanto o mal. Assim foram (e são!) as revoltas camponesas (as 'jacqueries') dos séculos 16 e 18, e as que ocorrem depois na América Latina. E então? Diante do 'perigo social', o dever do burguês é 'vigiar e esperar', pois, afinal de contas, a sucessão de 'grandes civilizações' a desaparecerem uma após a outra: a História em movimento. Os benefícios e malefícios da civilização moderna (“nossa civilização, obra de vinte séculos”) entre a monstruosidade e o prodígio.

Livro VIII

Após a digressão erudita-semiótica, voltamos a narrativa propriamente dita. Voltemos ao amor romântico (e romantizado) de Marius e Cosette, que certamente inspirou muitos dos prosadores românticos brasileiros (Alencar, e o primeiro Machado). Enquanto fora do jardim, onde se abrigam os amantes, as forças revolucionárias se erguem para o confronto contra o 'rei-cidadão', no plano individual o drama é a pobreza de Marius e a vida burguesa de Cosette.

Os amantes acreditam que 'o amor os conduz', que o amor leva à perfeição, mas faz esquecer o lado perverso. Os jovens em seu idílico jardim ignoram as 'forças sociais' – logo as barricadas se erguerão entre eles. Marius fala de política; Cosette fala sobre adornos. Enquanto isso, Éponine impede que os bandidos (entre eles, o próprio pai Thénardier) roubem a casa de Cosette...

Com a revolta, Valjean acha oportuno deixar Paris, e fazer uma excursão à Inglaterra. Marius, atordoado, precisa tomar uma decisão. Ir para a Inglaterra? Como, se ele vive na pobreza? Marius decide procurar o avô Gillenormand, após 5 anos do desentendimento entre eles. Decide se casar, e para isso ele precisa da aprovação do avô. Mas é impossível. O avô conservador não aceita a rebeldia do neto – que vive na pobreza – o neto que pede perdão – mas o avô mostra firmeza – não aceita o casamento com a tal 'Mademoiselle Fauchelevent'. Humilhado, e vendo humilhada a sua 'noiva', Marius afasta-se do avô, que então percebe que a separação agora é definitiva – não há mais perdão.

Livro IX

Erguem-se as barricadas. Enterro do general Lamarque. Valjean vê um aviso em seu quintal – escrito por Éponine, sabemos – dizendo 'Mude-se' ('Déménagez') Marius arrasado após o fracasso diante do avô. Numa esquina, ele ouve uma voz, 'seus amigos o esperam na barricada!' Pois as barricadas esperam os heróis e os desesperados. A decadência do Sr. Mabeuf – quem poderá ajudá-lo?

“A miséria de uma criança interessa à uma mãe, a miséria de um homem jovem interessa à uma moça, a miséria de um velho interessa a ninguém.” (“La misère d'un enfant intéresse une mère, la misère d'un jeune homme intéresse une jeune fille, la misére d'un vieillard n'intéresse personne.” III, p. 1109)

Em miséria, o Sr. Mabeuf passa a vender os seus livros raros – é a ruína de um pequeno-burguês. É justamente quando começam os motins de 5 de junho de 1832, narrados no livro X.

Mais digressões sobre as revoltas, as tormentas sociais, num eco das considerações do capítulo III do Livro VII. As desordens dos motins correspondem às desordens da vida social, com privilegiados e excluídos, com milionários e miseráveis. Para outros as revoltas apenas reforçam o 'sistema', ao unir os burgueses na defesa de seus interesses.

Por viver num época de instabilidade política – a França do século 19 – o Narrador faz ecoar a fala do Autor, que inclusive exilou-se numa das muitas reviravoltas de governos e desgovernos.
É justa a revolta? Pode ser democrática, ou levar à democracia? Mas sem revolta nada mais existiria que inércia social, pois as elites se perpetuariam no poder – ou lutariam entre si. Motins, revoltas, insurreições, revoluções: um tratado enciclopédico sobre as variações de 'resistência'. Despotismos, tirania, bonapartismo, golpes de estado, quarteladas, rodízio de elites, nada que as ciências sociais do século 20 já não tenham catalogado e conceituado.

Mas para a época, o tratado de Victor Hugo se justifica pela antecedência diante da 'profissionalização' do chamado cientista social (ou sociólogo). Afinal, o que determina a legitimidade de uma 'revolução'? O progresso? O acesso das 'massas' ao poder político? A mudança de governos corruptos? Para o Narrador, a revolta de 1832 continua o processo de 1830 (e, podemos dizer mais, tem seu ápice em 1848) Depois da digressão historiográfica, o Narrador volta à narrativa (o 'récit')

Estopim: a morte do general Lamarque. Um enterro: ocasião de renascer. As jornadas de 5 e 6 de junho de 1832. as forças governamentais de prontidão nas principais ruas de Paris. Enquanto o cortejo fúnebre congrega militares, estudantes, refugiados, todos de aspiração republicana num regime de monarquia liberal.

A hostilidade entre os 'dragões' da guarda e os simpatizantes republicanos. Aproxima-se o momento de confronto. O exército atira contra a multidão, que se dispersa. Mas recua apenas para ir buscar as armas – 'aux armes!'. Erguem-se as barricadas.

Aqui a descrição se assemelha àquela da Batalha de Waterloo, na Parte II, com detalhes geográficos, só possíveis de serem recuperados com a posse de um mapa da Paris anterior a reforma urbana feita pelo prefeito Haussmann, entre 1853 e 1870. o Narrador se explica,

“Tudo isso que narramos aqui lentamente e sucessivamente acontecia de uma vez em todos os pontos da cidade em meio a um vasto tumulto, como uma multidão de clarões num só trovejar.” (“Tout ce que nous racontons ici lentement et sucessivement se faisait à la fois sur tous les points de la ville au milieu d'un vaste tumulte, comme une foule d'éclaires dans un seul roulement de tonnerre.” IV, p. 1130)

A grandiosidade da Narrativa eleva o Romance Os Miseráveis a categoria de épico moderno. A enumeração de personagens – anônimos em anonimato de multidão – as referências às ruas e locais se assemelham a uma descrição de batalha medieval – agora travada dentro de uma metrópole.

“A insurreição tinha feito do centro de Paris uma espécie de cidadela inextricável, tortuosa, colossal.
Lá estava a fornalha, lá estava evidentemente a questão. Todo o resto não passava de escaramuças. O que provava que tudo se decidiria lá, é que ainda não se combatia lá.”
(“L'insurrections'était fait du centre de Paris une sorte de citadelle inextricable, tortueuse, colossale. // Là était le foyer, Là était évidemment la question. Tout le reste n'était qu'escarmouches. Ce qui prouvait que tout se déciderait là, c'est qu'on ne s'y battait pas encore.” p. 1132)

A posterior reforma urbana de Paris objetivava justamente impedir a possibilidade de focos de resistência – as barricadas – durante as revoltas da população.

Livro XI

As personagens se reintegram à narrativa. Gavroche canta ou recita, enquanto eleva sua arma. O menino marcha junto aos republicanos – uma nova Marseillaise entoada meio aos combates. Figuras do povo desfilam com suas reivindicações e misérias. (O povo alcançará realmente o poder?)

Os amigos do ABC – Enjolras, Courfeyrac, Combeferre, Feuilly, Bahorel, Jean Prouvaire – seguem o apelo 'aux armes!' e também 'aux barricades!', e recebem o 'reforço' de um velho. O desesperado Sr. Mabeuf, indiferentes às balas de fuzil, às balas de canhão, atordoado, integra a defesa da barricada.

O pequeno Gavroche marcha cantando – seguem para as barricadas da rue Saint-Denis.

Livro XII

Corinthe é o nome de um cabaré, na rue de la Chanvrerie. Local estratégico para os revoltosos. O Narrador tem consciência de seu estilo de narrar fatos históricos, dramas sociais, “Que se nos permita recorrer, para a clareza da narrativa, ao método simples já usado por nós sobre Waterloo” (“Qu'on nous permette de recourir, pour la clarté du récit, au moyen simple déjà employé par nous pour Waterloo”. I, p. 1152) e descreve o 'espaço geográfico' do campo de batalha urbano.

Outras personagens reaparecem: Grantaire, Laigle, Joly... Os diálogos longos e densos servem igualmente para situar o Leitor no contexto político das 'forças sociais' em confronto. (Recurso usado por Dostoiévski, em “Os Possessos” e “Os Irmãos Karamázovi”; por Hemingway, em “Por quem os sinos dobram”; por Simone de Beauvoir em “Os Mandarins”; por B. Pasternak em “Doutor Jivago”)

Fala de Grantaire, o cético, “Isso que chamais o progresso marcha por dois motores, os homens e os acontecimentos. Mas, coisa triste, de tempos em tempos, o excepcional é necessário. Para os acontecimentos como para os homens, a turba ordinária não é suficiente; é preciso entre os homens os gênios, e entre os acontecimentos as revoluções.” (“Ce que vous autres appelez le progrès marche par deux moteurs, les hommes et les évènements. Mais, chose triste, de temps en temps, l'exceptionnel est nécessaire. Pour les évènements comme pour les hommes, la troupe ordinaire ne suffit pas; il faut parmi les hommes des génies, et parmi les évènements des révolutions.” II, p. 1161)

Para os revolucionários, Marius é um moço que trocou a luta social pelo amor de uma senhorita, ou que Marius é um da 'raça dos poetas' – isto é, não são práticos, ao contrário, vivem de sonhos.
Mesmo dizendo-se cético, Grantaire 'crê' na liderança de Enjolras, e assim une-se ao grupo nas barricadas. Lá estão Combeferre e Courfeyrac dirigindo os esforços. Claro, lá está o animado Gavroche.

O Romance tem algo de realismo e de epopeia, não hesita em recursos, de tragicomédia, e até fantasia. Tudo parece, às vezes, superdimensionado e até caricatural. (O mesmo efeito em muitas páginas de Tolstoy e Dostoiévski – enquanto é proposital e estilístico em Gógol, Turgueniev e Tchecov, para ficar só entre os russos...)

Acompanhamos os preparativos da barricada na rue de la Chanvrerie, na noite de 5 de junho. Um tipo adentra o 'teatro de operações' dos revoltosos. O mesmo homem que observava atentamente os 'amigos do ABC', em outras ocasiões. Surpreendido, o espião diz chamar-se Javert, e ser mesmo agente da lei. É prontamente desarmado e amarrado.

Pronto. Aqui as personagens vão se reunindo. Ainda faltam três – Marius, Cosette e Valjean – e os coadjuvantes Thénardier.

“O quadro trágico que iniciamos não seria completo, o leitor não veria no seu relevo exato e real esses grandes minutos de gênese (parto) social e nascimento revolucionário onde há a convulsão mesclada ao esforço, se nós omitíssemos, no esboço disposto aqui, um incidente pleno de horror épico e bravio que sobreveio quase de imediato à saída de Gravroche.” (“La peinture tragique que nous avons entreprise ne serait pas compète, le lecteur ne verrait pas dans leur relief exact et réel ces grandes minutes de gésine sociale et d'enfantement révolutionnaire où il y a de la convulsion mêlée à l'effort, si nous omettions, dans l'esquisse ébauchée ici, un incident plein d'une horreur épique et farouche qui survint presque aussitôt après le départ de Gavroche.” VIII, p. 1184)

Segue-se uma cena de excessos revolucionários, e a pronta justiça do líder revolucionário. É preciso autoridade. O homem que comete um assassinato gratuito, covarde, junto aos revolucionários, é nada mais que um bandido que se aproveita da desordem. Mas Enjolras 'encarna' a disciplina,

“Este homem foi morto, porque matou” e “sobre nós está o olhar da revolução, nós somos os pais fundadores da república, nós somos as hostes do dever, e é preciso não caluniar nossa luta.” (“nous sommes sous le regard de la révolution, nous sommes les prêtres de la république, nous sommes les hosties du devoir, et il ne faut pas qu'on puisse calomnier notre combat.” p. 1187)

Enjolras executa o criminoso em nome da República, em nome da 'fraternidade', da 'lei do progresso'. Assim, é um tanto contraditório. Humanista? Mas se o 'progresso' está acima da vida humana?

Livros XIII a XV

Eis o cenário: da rua Plumet ao quartier Saint-Denis. É onde Marius tenta digerir sua desesperança, sua perda da amada Cosette. Afinal, como ele poderá casar? Suas reflexões são íntimas, românticas e épicas. Marius avança para a morte?

“Marius queria com a vontade do homem que não espera mais. Tivesse sido chamado, precisaria seguir. Ele encontra o meio de atravessar a multidão e de atravessar o bivaque das tropas, ele se oculta das patrulhas, ele evita as sentinelas.” (“Marius voulait avec la volonté de l'homme qui n'espère plus. On l'avait appelé, il fallait qu'il allât. Il trouva le moyen de traverser la foule et de traverser le bivouac des troupes, il se déroba aux patrouilles, il évita les sentinelles.” I, p. 1191)

O ataque das tropas à barricada da rue de la Chanvrerie, onde alta se ergue a flâmula da república e da fraternidade, sob os golpes das tropas governistas – golpe após golpe se abate sobre a barricada. Lá onde um velho toma. É o Sr. Mabeuf, o ex-tesoureiro da igreja, o ex-livreiro. Mas os demais jovens resistem. E para lá que segue o Marius, a unir-se aos amigos do ABC. Depois de ouvir aquele aviso (no Livro 9, II) - “seus amigos o esperam na barricada da rue de la Chanvrerie”. Logo ao chegar, Marius enfrenta o avanço da tropa, e consegue fazer as tropas recuarem ao ameaçar explodir um barril de pólvora.

Sabemos de que lado o Narrador (e o Autor) está: sua historiografia é parcial. Ele pouco descreve as tropas, e enquanto adentra os pensamentos e sentimentos dos amigos do ABC, que tombam diante da repressão. Marius presencia a morte de Éponine (na barricada, ela se vestia de homem) que é ferida ao interpor-se entre um fuzil e o alvo, o próprio Marius. Ela se sacrifica por ele. Ela que sempre amou o estudante pobre. A mesma Éponine que o ajudou a reencontrar o jardim idílico de Cosette. Aliás, a moça agonizante traz uma carta de Cosette, a avisar sobre a mudança para a Inglaterra.

A mudança de Valjean e Cosette foi precipitada pelo aviso “Déménagez” (Mude-se) escrito por Éponine e lido por Valjean. Cosette escreve uma carta para avisar Marius, e entrega a um rapaz na rua. O 'rapaz' era justamente Éponine, que não foi ao correio... Marius escreve uma carta, a declarar que é impossível o casamento com a Srta. Cosette. O avô tem recusado, e ele, Marius, não tem dinheiro. Assina a carta. Escreve seu nome e família em outro papel. Sabe que sua morte é certa. Em seguida, Gavroche é encarregado de entregar o bilhete à Cosette. Mas, o menino encontra Valjean, que já sabe do 'affair' da filha adotiva. Valjean que sente verdadeiro ciúme ao temer que a moça, ao casar, possa se afastar. É compreensível: ele dedica todo o seu afeto à filha adotiva. Valjean agora precisa decidir: permitir a morte do rapaz ou tentar salvá-lo?
É o drama para a próxima Parte (V – Jean Valjean).

jun/jul/10

por Leonardo de Magalhaens
http://leoleituraescrita.blogspot.com/
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