Sobre
Pergunte ao Pó (Ask the Dust, 1939)
do
autor norte-americano John Fante (1909-1983)
(trad.
Roberto Muggiati)
A
Literatura que fermenta nas vivências pessoais
De pronto, encontramos o Prefácio do
poeta iconoclasta Charles Bukowski, escrito em junho de 1979, quando
desabafa, enquanto frequentador de biblioteca pública, também em
Los Angeles: “Eu tirava livro após livro das estantes. Por que
ninguém dizia algo? Por que ninguém gritava?” (p. 5) assim
ele critica os autores que não vivem a vida autêntica, e não
carregam suor & lágrimas para dentro dos livros, que não passam
de volumes de tinta e papel, que não fedem nem cheiram, incapazes de
emocionar e fazer despertar. Quanto a Bukowski, um confesso admirador
de Fante, ele sempre entornou sangue & álcool em seus textos, e
nunca foi indiferente ao lado noir da vida.
É preciso mergulhar na vida para
escrever, para ter material para encher páginas e páginas, para
testemunhar e retratar um mundo que possa ser compartilhado com os
leitores ávidos voyeurs. O autor usa suas vivências como
matéria-prima, como argamassa do edifício literário, usa como
tijolos suas dores e privações, seus desejos e desilusões. Não
que a ficcionalidade esteja ausente, mas se entrelaça com o
factual, com o vivido, com o sofrido. O elemento imaginário está em
um segundo nível.
Em Pergunte ao Pó temos a
narrativa é em 1ª pessoa, a voz confessional do jovem Arturo
Bandini, de 20 anos, que tenta ser escritor em Los Angeles, cidade
demasiadamente grande para ele um jovem provinciano que vai para a
metrópole, a ser percorrida por seu olhar de flâneur. “E
assim cheguei à esquina da Quinta com Olive, onde os grandes bondes
mastigavam os ouvidos da gente com o seu barulho e o cheiro de
gasolina fazia a visão das palmeiras parecer triste e o pavimento
negro ainda molhado do nevoeiro da noite anterior.” (p. 12, c.
1)
O sujeito que perambula e se sente
sozinho diante da indiferença da cidade grande,
“Los Angeles, dê-me um pouco de
você! Los Angeles, venha a mim do jeito que eu vim a você, meus pés
sobre suas ruas, bela cidade que adorei tanto, triste flor na areia,
bela cidade.” (p. 13, c.1) (“Los
Angeles, give me some of you! Los Angeles come to me the way I came
to you, my feet over your streets, you pretty town I loved you so
much, you sad flower in the sand, you pretty town!”)
O jovem precisa viver, experimentar,
para então ter matéria para seus escritos. Para escrever sobre o
amor, ele precisa vivenciar o amor. Ele se apaixona por uma garçonete
mexicana, a caprichosa Camilla Lopez, “Oh, uma namorada
mexicana! Eu pensava nela o tempo todo, minha garota mexicana. Não
tinha nenhuma, mas as ruas estavam cheias delas, ...” (p. 16,
c. 1)
Para conquistar uma garota, o jovem
autor precisa de dinheiro – ele que só publicou um conto de
sucesso, “O cachorrinho riu” (the little dog laughed) para
ele um motivo de orgulho, de afirmação enquanto escritor. Em sua
solidão na cidade, ele pensa na província (Colorado, estado do
Centro-Oeste), onde está sua família, principalmente sua mãe que o
apoia com modestas e providenciais remessas de dólares. E ele pensa
também no editor, o Sr. Hackmuth, ‘o grande editor’, em Nova
York a cuidar dos negócios literários, numa revista famosa (a The
Atlantic Monthly?)
Para escrever sobre a vida, o escritor
deve viver e viver todas as experiências, em suas perspectivas.
Assim grandes autores sempre falam sobre suas vivências, suas
vicissitudes, vejamos as obras de Melville, Hamsun, Jack London,
Conrad, Hemingway, Fitzgerald, Jack Kerouac, Lima Barreto, para citar
alguns mestres. Um escritor não pode viver apenas no mundo
imaginário, no ficcional, deve ser um empirista, ao experimentar,
sujar as mãos, estancar as sangrias. Então ter matéria-prima para
a sua escrita.
“Eu tinha vinte anos na época. Que
diabo, eu dizia, não se apresse, Bandini. Você tem dez anos para
escrever um livro, vá com calma, saia e aprenda sobre a vida,
caminhe pelas ruas. Este é o seu problema: sua ignorância da vida.”
(p.19, c. 2)
“Ah, grande escritor este aqui!
Como pode escrever sobre mulheres se nunca teve uma mulher? Ora, seu
miserável farsante, seu mentiroso, não admira que não consiga
escrever!” pois é essencial “escrever uma história de
amor, aprender sobre a vida.” Ao demonstrar tal consciência,
na própria escrita, o jovem autor entra em dissertações
confessionais e metalinguísticas. “Os livros dizem não, a
noite grita sim. Tenho vinte anos, cheguei à idade da razão, vou
caminhar pelas ruas lá embaixo, procurando uma mulher.” (p.
21, c. 2)
Advindo da província, o jovem autor
vive a tecer paralelos e comparações entre a cidade interiorana e a
grande cidade (ao estilo das obras dos mineiros Carlos Drummond de
Andrade, Cyro dos Anjos, Aníbal Machado e Pedro Nava, dentre
outros), como se pólos de uma vida em tensão, ora entediada, ora
indiferente, quando o ser segue deslocado em ambas as cidades,
“Então você caminha ao longo de
Bunker Hill e sacode o punho para o céu e eu sei o que está
pensando, Bandini. [...] fugiu da sua pequena cidade do Colorado
porque era pobre, perambula pelas sarjetas de Los Angeles porque é
pobre, esperando escrever um livro para ficar rico, porque aqueles
que o odiavam lá no Colorado não vão odiá-lo se escrever um
livro. [...]” (p. 21)
A partir da cidade, da metrópole, ele
precisa extrair um enredo, uma boa estória para o próximo conto ou
romance, em suma, precisa revirar a vida urbana e encontrar uma cena
dramática ou pitoresca, desde que real, factual, vivencial. Só vale
o ficcional a partir do vivido, “Eis aqui uma ideia com
dinheiro: estes degraus, a cidade lá embaixo, as estrelas quase ao
alcance da mão: ideia do tipo mocinho encontra mocinha, um bom
enredo, ideia para dinheiro graúdo.” (p. 22, c.2)
É um jovem piedoso, honrado, com
educação católica, com leituras materialistas, é ambíguo e
contraditório, por exemplo, quando entra na igreja, reza para uma
santa (Santa Teresa), e depois se justifica (perante si mesmo e os
leitores),
“Por motivos sentimentais apenas.
Não li Lenin, mas o ouvi citado: a religião é o ópio do povo
[nota: na verdade, frase de Marx]. Falando comigo mesmo nos degraus
da igreja: sim, o ópio do povo. Quanto a mim, sou ateu; li ‘O
anticristo’ [de Nietzsche] e o considero uma obra capital. Acredito
na transposição de valores, cavalheiro. A Igreja precisa acabar, é
o refúgio da burroguesia, de bobos e brutos e de todos os baratos
charlatães.” (p. 24, c. 2)
“Certo, uma prece: por motivos
sentimentais. Deus Todo-Poderoso, lamento ser agora um ateu, mas o
Senhor leu Nietzsche? Ah, que livro! Deus Todo-Poderoso, vou jogar
limpo nesta questão. Vou Lhe fazer uma proposta. Faça de mim um
grande escritor e eu voltarei à Igreja.” (p. 24)
A literatura deve se conectar à vida,
a escrita se nutrir de vivências. Assim o autor não inventa, mas
ficcionaliza o factual enquanto um testemunho. “Meu conselho
para todos os jovens escritores é bastante simples. Eu lhes
recomendaria que nunca evitassem uma nova experiência. Eu os
instaria a viver a vida em estado bruto, a atracar-se com ela
bravamente, a golpeá-la com os punhos nus.” e “O livro se
baseia numa experiência real que me aconteceu certa noite em Los
Angeles. Cada palavra daquele livro é verdadeira. Eu vivi aquele
livro, eu o experimentei.” (p. 25, c. 2)
Bandini é um jovem meio antissocial,
meio misógino, não tanto quanto o ‘homem do subsolo’, mas ao
estilo de Raskólnikov, introspectivo tal qual estas personagens de
Dostoiévski, “há algo errado com você, Arturo Bandini, você
é um misantropo, sua vida inteira está condenada ao celibato, devia
ter sido padre, [...]” (p. 27, c.2) Seres estes que vivem - e
sobrevivem - no mundo dos livros. Nesta condição ele questiona os
literatos, os que vivem da escrita, veículo de sua expressão e modo
de afirmação no mundo indiferente aos seus dramas. Ele é ciente da
situação do literato nos domínios do mercado, daí perceber o
escritor enquanto mercenário, ou prostituto intelectual, tal como já
vimos em Baudelaire (para quem o poeta deixou sua aura cair na lama),
“Mas é [a puta] mais limpa do que eu, porque não tem nenhuma
mente para vender, apenas aquela pobre carne.” (p. 29, c. 2)
O jovem autor sofre na miséria, passa
fome, tanto quanto o protagonista-narrador de Fome, de Knut
Hamsun, também se esforça para ser honesto, se resigna a viver de
frutas doadas, de cafezinhos, sem refeições – e sem inspiração.
Precisa sempre de uma ideia... O protagonista sente fome, se sente
miserável, é meio masoquista, “Senti grande satisfação. Eu
era a criatura mais miserável de Deus, forçado até a me torturar.
Seguramente sobre esta terra nenhuma dor era maior do que a minha.”
(p. 32, c. 3) Ele é ajudado por um vizinho idoso, obcecado por
carne, e depois recebe alguns dólares da mãe, e algum adiantamento
do editor... e vai vivendo, ou sobrevivendo. Enquanto isso perambula
por Los Angeles... “Aqui está você, arrastando-se ao longo dos
dias, um gênio passando fome, fiel à sua sagrada vocação. Que
coragem você possui!” (p. 37, c. 3)
Link para ensaio sobre “Fome”
É dentro de tal contexto, neste
cenário urbano, que ele conhece a mocinha mexicana. Num café, o
Columbia Buffet, na Spring Street, Arturo Bandini observa uma
modesta garçonete mexicana, a deslizar entre as mesas, a usar
rústicas sandálias (huaraches) e não sapatos femininos. Ele
se interessa, mas despreza e maltrata a atendente. Não gosta do café
barato, ‘Chama isso de café?’ e ‘Talvez nem seja
café, mas a água onde ferveram seus sapatos sujos.’ Ele só
consegue o ódio dela. Mas tudo é o começo de um jogo: de desejo e
menosprezo, paixão e ódio. Ao sair ele derrama o café sobre a
mesa. Depois descobriu o nome dela – Camilla Lopez. E deixa um
exemplar da revista (com o conto ‘de sucesso’) para a mocinha.
Mas quando a encontra novamente, ele se mostra inconveniente,
ríspido, a ponto de ofendê-la. Ele se julga americano e humilha a
mexicana.
Enquanto isso, temos mais descrições
das ruas de Los Angeles, a cidade grande com seus cidadãos
deslocados, os nativos e os forasteiros (os provincianos que buscam
prosperidade na cidade grande), então o moço se refugia na ficção,
nos livros, na introspecção, em trechos que lembram muito aquelas
visões do poeta beat Allen Ginsberg em seu poema alucinado
‘Howl’, Uivo (traduzido no Brasil pelo poeta
beatnik paulista.Claudio Willer).
Sabemos como ele chegou a Los Angeles,
mais sobre o hotel, a modesta hospedaria, os hóspedes e seus dramas
pessoais. Seus primeiros contatos na selva da cidade grande e os
potenciais leitores. O que é um autor sem leitores? Enquanto isso a
carta enviada ao editor Hackmuth é adaptada para conto – e
publicada! E Bandini recebe um cheque de 175 dólares! Paga as
dívidas e resolve fazer compras. Roupas novas para ficar
apresentável. Mas, por fim, acaba saindo com as ruas velhas – mais
familiares. De fato, ele não quer ser apresentável. Ele prefere o
sofrido velho Bandini, o autor de (futuro) sucesso.
Ele volta ao Columbia Buffet
para conquistar Camilla – mas só consegue deixa-la irritada. Ela
que até usava sapatos brancos – e não os velhos huaraches.
O escritor pobre e a garçonete mexicana tentam criar personas
para impressionar um ao outro, mas acabam se hostilizando. Ele finge
ser endinheirado, ela quer ser elegante. Ambos falseiam. Ela tem um
carro, meio arruinado, mas é um carro – e podem sair pelas ruas.
Ela vive um tanto à vontade, é caprichosa, e incomoda os demais
motoristas – na década de 1930, uma época de Depressão econômica
após as gastanças da Era do jazz, testemunhada por
Fitzgerald. Eles decidem tomar um banho de mar – ele idealiza a
cena, vive tudo como se preparando para escrever sobre o vivido
(‘vendo aquilo escrito ao longo de uma página numa máquina de
escrever’, p. 83, c. 9) – e não consegue relaxar, se
divertir, levar na esportiva os caprichos dela. Estão fora de
sintonia. Ele sente desejo quando ela o desafia ou se ausenta.
Depois, sozinho, recolhido à solidão,
ele escreve a cena tal como gostaria que acontecesse. A literatura
enquanto descrição do ideal. Mas é falso, ele rasga tudo. Ele
tenta se reaproximar – mas sofre com os desprezos e ironias dela.
Ele volta a perambular: ‘Errei através de multidões de párias
maltrapilhos e famintos sem destino.’ (p. 89)
O resto do cap. 10 e os próximos (11
e 12) são digressões, onde Camilla é contornada – não esquecida
– e Bandini procura um padre, frequenta dancings / boates,
se relaciona com uma mulher que o assedia, então a visita em Long
Beach, sobrevive a um terremoto, atinge L.A. com baixa escala, se
entrega a meditações metafísicas de apóstata, “Eu soube o
que tomara conta de mim. Foi uma grande cruz branca apontando para o
meu cérebro e me dizendo que eu era um homem estúpido, porque ia
morrer e nada havia que pudesse fazer a respeito.” (p. 119, c.
12) e “Você leu Nietzsche, você leu Voltaire, deveria saber.
Mas o raciocínio não ajudava. Eu podia me livrar daquilo por meio
do raciocínio, mas não era o meu sangue.” (p. 120, c. 12)
Continua a paranoia de Bandini com um
novo terremoto, que destrua a grande cidade – ‘todos vão morrer’
– como uma punição final, um apocalipse. Se afasta de edifícios,
dorme do lado de fora – medo de ser esmagado, sepultado vivo. “Los
Angeles estava condenada. Era uma cidade amaldiçoada. [...] Certo,
sou um covarde, mas sejam corajosos, seus lunáticos, vão em frente,
sejam corajosos e caminhem debaixo desses grandes edifícios. Eles os
matarão.” (p. 128) Pois “o mundo era pó e ao pó
voltaria. Comecei a ir à missa de manhã. Fui à confissão. Recebi
a sagrada comunhão.” (p. 130, c. 13)
Bandini volta a procurar Camilla no
Columbia Buffet , onde ele tenta forçar um diálogo,
constrangendo a moça e a si mesmo. Enfim, desiste. Então, o
escritor volta ao trabalho. Nova publicação, outro cheque com
dólares redentores. Paga dívidas, envia dinheiro para a mãe, e
continua a escrever.
De repente, eis que a moça mexicana o
procura. Ela quer algumas orientações de escrita para o amante
dela, um dos barmen do Buffet. Mesmo enciumado, Bandini
recebe os textos originais e tenta uma crítica. Primeiro quer
humilhar o rival, depois resolve fazer uma resenha, ou revisão,
séria e intelectual. Nada de passionalidades... Mas Camilla volta e
toda charmosa para seduzir Bandini – mas não dá certo. Há
hostilidade entre eles. “Ela era muito melhor do que eu, tão
mais honesta que fiquei enojado de mim mesmo e não podia enfrentar
seus olhos cálidos.” (p. 154)
A presença de Camilla constrange
Arturo, que não consegue realizar tudo o que imaginou – a
impossibilidade de ser romântico. Ele a decepciona e frustra a si
mesmo. Ele se refugia no sonho: “[Ela] saiu sem falar de novo.
Fiquei sentado num sonho de deleite, uma orgia de confiança
confortável: o mundo era tão grande, tão cheio de coisas que eu
podia dominar. Ah, Los Angeles, pó e névoa em tuas ruas solitárias,
não me sinto mais solitário.” (p. 156, c. 15) Novas
tentativas de aproximação. Eles precisam aceitar um ao outro do
jeito como eles são. Ela precisa aceitar a introspecção dele, e
ele a sedução caprichosa dela.
A escrita continua, “nada para
fazer dia e noite a não ser escrever e pensar em literatura”
(p. 161) Mas Camilla reaparece e quer a ajuda de Bandini para a
‘carreira literária’ de Sammy (Samuel Wiggins), que está
realmente doente (tuberculose) e isolado num galpão em pleno
deserto. Mas toda vez em que Bandini e Camilla se aproximam logo uma
discussão se inicia. Até que ele descobre que ela usa droga
(maconha) e quer reconquistar o amante.
A doença e isolamento de Sammy e o
vício de Camilla dominam os capítulos finais, com o internamento (e
a fuga) da moça e a misantropia de Sammy, enquanto Bandini escreve o
romance de 200 páginas e se deixa perambular,
“Era a vida ideal para um homem,
perambular e parar e depois continuar, sempre seguindo a linha branca
ao longo da costa errante, um tempo para relaxar ao volante, acender
outro cigarro, e buscar estupidamente significados naquele
desconcertante céu do deserto.” (p. 190, c. 17)
Em meio aos dramas pessoais do
protagonista, temos algumas referências ao contexto de época, a
superação da Grande Depressão, o rearmamento das potências
imperialistas, uma ‘guerra na Europa, discurso de Hitler,
confusão na Polônia’ (p. 182), que pouco importam para
Bandini com suas carências afetivas e financeiras. Os dramas
coletivos estão distantes, a miséria está por perto.
Por fim uma última tentativa de vida
em comum, o sonho de Bandini se realiza? Não, infelizmente para ele.
Pois ele aluga casa, a beira-mar, onde cuidar de Camilla, mas ela
volta a procurar o Sammy, se humilhar para ser aceita, enquanto o
doente a despreza. Percebe-se que o destino de Bandini é circular,
ao fim volta ao início. Ele continua o flâneur que
conhecemos no primeiro capítulo. “Saí para uma caminhada pelas
ruas. Meu Deus, aqui estava eu de novo, perambulando pela cidade.”
(p. 200, c.18)
O romance [dentro do romance] que
Bandini escrevera é finalmente publicado, e ele se deixa admirar a
obra nas vitrines. Estará assim legitimado enquanto escritor? É
quando recebe bilhete de Sammy, acusando a visita de Camilla. Ele a
expulsa, e ela se perde no deserto. Bandini inutilmente a procura na
extensão de dunas, e acaba por jogar na areia árida um exemplar do
livro dedicado a ela. Ele teve sucesso enquanto autor, mas,
melancolicamente, continua sozinho.
Com seu personagem Arturo Bandini, o
autor John Fante conseguiu, satisfatoriamente, um meio de, através
de um alter-ego, criar uma obra literária confessional,
verossímil, com o entrelaçar de factual e ficcional, para melhor
exemplificar a importância do vivencial na criação imaginativa.
Este tom de literatura-verdade é que empolgou toda uma geração que
viria a ser chamada Beat Generation, ou Beatnik, com
seus romances & poemas viscerais & turbulentos nascidos da
experiência pessoal de cada autor, seja Burroughs, Kerouac ou
Ginsberg, todos em sintonia com a busca de Fante, o jovem autor que
perambula pelas ruas, a se perder e a se encontrar.
Fonte:
FANTE, John. Pergunte ao Pó. (Ask the dust) Trad.
Roberto Muggiati. 5ª ed. Rio de Janeiro : José Olympio Ed., 2005.
fev/mar/13
Leonardo
de Magalhaens
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