sábado, 29 de maio de 2010

sobre 'Os Miseráveis' de Victor-Hugo (1)






Sobre Os Miseráveis (Les Misérables, 1862)
do escritor francês Victor-Hugo (1802-1885)
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As Obras Clássicas (ensaio 3)
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O Romance Burguês enquanto Epopeia moderna
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O romance enquanto Épico, enquanto uma Epopeia burguesa em prosa, em contraponto ao romântico Eu Lírico, individual, subjetivo, temos um Eu coletivo, uma Classe Social, um Povo, uma Nação.

Um Romance onde seria justo indagar: Quem é o Protagonista? Ou serão inúmeros Protagonista diante de outros inúmeros Antagonistas? Ou tudo uma coleção de Figurantes?

Se em “O Vermelho e o Negro” (“Le Rouge et Le Noir”) e “Crime e Castigo” temos as personagens enquanto indivíduos, psicologicamente definidos, nas personalidades marcantes de Julien Sorel e Raskolnikov, respectivamente; em “Os Miseráveis” e “Guerra e Paz” (Voyna i Mir), de Leon Tolstoy, cada personagem é indivíduo e também 'representação' de um coletivo.

Os Miseráveis é uma daquelas adaptações que nós lemos enquanto infanto-juvenis e depois julgamos 'entender' a Obra. A adaptação, com toda a boa-vontade do mundo, nada mais consegue do que concentrar-se na 'aventura' e esquece as causalidades internas do Enredo. Assim, os textos adaptados acabam por aleijar o contexto, ceifar as digressões, eliminar as opiniões do Narrador.

O Autor Victor-Hugo, que se confunde com o Narrador, idealiza o Leitor como alguém a ser educado. A Literatura, desse modo, seria até 'pedagógica', não sendo apenas 'entretenimento'. Afinal de contas, o romance Os Miseráveis não é divertido, não para 'passar tempo'. É uma obra que exige conhecimentos de História, Antropologia, Criminalística, Sociedade francesa pós-Revolução Burguesa. É um romance para se ler com um Larousse - dicionário e enciclopédia – bem ao lado.

O caso é claro: o Autor quer educar o Leitor. Esse excesso de explicações não é gratuito. Pressupõe que o Leitor não seja uma pessoa bem informada, que precisa receber pormenores sobre a vida francesa, na Modernidade e na História. Há todo um didatismo – tal qual encontramos em Swift e Melville, os autores, respectivamente, de “Viagens de Gulliver” e “Moby Dick”. Deve-se, o efeito, a uma ênfase maior na 'função referencial' (o 'assunto', a 'informação') do que 'poética' (a expressão, a mensagem).

O Eu coletivo

Os romances históricos, épicos, como são exemplos “Os Miseráveis” e “Guerra e Paz” possuem uma estrutura diversa daqueles dos romances líricos, os romances psicológicos, de detalhes individuais, como são os clássicos “O Vermelho e o Negro” e “Morro dos Ventos Uivantes”. Enquantos nos 'psicológicos' são importantes os indivíduos, nos 'épicos' é importante as 'representações coletivas' (por mais individualizadas que sejam as personagens)

Quem é o Eu de Os Miseráveis? Seria o Narrador onisciente e pedagogo? Assim, é justo que muitos perguntem: Quem é o Protagonista de “Guerra e Paz” ? Será o russo nobre? Ou o russo soldado raso? Serão os russos enquanto povo? Serão os franceses enquanto povo? Afinal, cada personagem pode ser 'ela-mesma' e uma 'representação'.

Assim, o indivíduo é individual e coletivo, pois se Jean Valjean é o pobre vitimado pela lei, o inspetor é uma 'corporificação' do rigor da lei – dura lex, sed lex – enquanto o Monsenhor Bienvenu é a 'caridade cristã', e se Fantine é a mulher seduzida e abandonada, Cosette é a criança adotada e humilhada, enquanto Mauro é o jovem idealista.

Até as crianças que aparecem – episodicamente – são representações da miséria. O pobre petit-Gervais e o esperto Gavroche, o filho dos Thénadier, que prefere viver nas ruas, são as 'crianças das ruas', os desafortunados que sofrem duplamente as injustiças humanas. Se o mundo é cruel para os adultos, imaginem então com as crianças...

Este meninos das ruas são aqueles mesmos de “O Príncipe e o Mendigo”, de Mark Twain, ou de “Capitães da Areia”, de Jorge Amado. Geralmente, não individualizados quanto o Oliver Twist, de Charles Dickens. Servem mais como um aviso aos donos do poder: a exclusão gera violência. Os excluídos de hoje podem ser os bandidos de amanhã. Dickens não hesitou em apontar as chagas sociais, “A civilidade que o dinheiro compra raramente se estende àqueles que não o têm”
Nosso objetivo aqui não é detalhar o enredo, a narrativa, de Os Miseráveis, do mesmo modo que dedicamos a leitura de “O Vermelho e o Negro” e “Morro dos Ventos Uivantes”, onde os conflitos interpessoais eram o leitmotiv dos eventos narrados. Nos romances épicos as personagens atuam numa contextualização maior - um drama histórico – e o contexto dificilmente poderia ser 'resumido' – afinal, a História já é um 'resumo' dos 'eventos'. Neste contexto, as personagens são 'marionetes' de 'forças sociais', ao sofrerem a ação de movimentos históricos – revoltas, revoluções, guerras, catástrofes, etc – que determinam as ações/reações dos indivíduos.

Volume 1 – Fantine

O Romance se inicia com um panorama da França na época da Revolução de 1789, as guerras do Império Napoleônico (1804-1814) e a Restauração (1815). É esta – basicamente – a 'linha do tempo' da Narrativa. A realeza e o Clero sofre um desafio da Burguesia e do povo. Há uma sucessão de lutas internas e externas. Uma tentativa de estruturar uma República democrática, mas desestabilizada por partidarismos e ameaças de invasões estrangeiras. Surge um novo líder militar, genial e carismático – Napoleão Bonaparte – que estabelece uma 'nova nobreza' imperial. E após a queda brutal do 'novo César' ocorre a Restauração – a volta da Realeza e do Clero.

O clero é personificado na figura do bispo de Digne, Monsenhor Charles Bienvenu Myriel, ou Monsenhor Benvindo, cuja biografia é um verdadeiro 'retrato de época' – tal qual percebemos nas 'digressões históricas' em “O Vermelho e o Negro” (de Stendhal) – onde há um painel da 'vida eclesiástica', o clero sob o Código Napoleônico, e início da Restauração, em 1815, justamente quando começa a Narrativa.

Sabemos que o atual bispo de Digne, nomeado por Napoleão, é de uma família nobre (noblesse de robe), que foi arruinada durante a Revolução, e ele vive com uma irmã, a piedosa mademoiselle Baptistine, e com uma governanta, a madame Magloire. É reconhecido por ter cedido o palácio do bispo para o hospital – então com vinte e seis leitos – crendo ter feito apenas o 'justo', afinal um palácio tão grande – para 3 pessoas! - e para tantos doentes, um hospital tão reduzido e abafado!
O 'flashback' é para informar o Leitor sobre quem é o Monsenhor Benvindo, que com sua sensível bondade vai atuar sobre o Protagonista do Romance, o ex-forçado Jean Valjean – que somente vai aparecer 80 páginas depois. É um longo trecho que usa anotações, cartas, memórias, como um imenso pré-enredo. Não que a figura do Monsenhor seja medíocre. Ao contrário, ele se destaca por sua humildade e presteza, ao ceder a casa episcopal para o funcionamento do hospital. Esta 'singularidade' do Monsenhor Benvindo é uma forma do Narrador atacar os demais eclesiásticos: seres ambiciosos sob suas batinas de humildade e resignação. Na verdade, o Clero sempre esteve na base do poder do Antigo Regime (ancien règime), ao legitimar o 'poder absoluto dos reis' segundo a 'vontade divina' (“ele é Rei porque Deus assim o deseja”) ou seja, o “direito divino dos reis”.

O Monsenhor Myriel é aquele capaz de lembrar aos nobres que 'existem os meus pobres' enquanto não hesita em pregar um sermão sobre a miséria dos camponeses num sistema de exploração, onde os pobres pagam impostos, enquanto os ricos vivem de renda. Há, claramente um 'tom paternalista' – o padre não é 'revolucionário' – mas ele ao menos ousa mencionar os 'miseráveis', os personagens – a coletividade – que justifica os título do Romance.

Pois bem, em outubro de 1815, parece em Digne um andarilho, que é rejeitado por todos. Nem no albergue consegue estadia. E ele garante ter dinheiro para pagar as despesas – mas é ignorado. Então uma madame aponta uma humilde residência - “lá mora o homem que pode te ajudar” - e é justamente o Bispo. Encontramos o 'humilhado e ofendido' diante da porta do Monsenhor.

O Narrador 'joga uma luz' sobre a personagem, “Este homem, nós já o conhecemos. É o viajante que nós vimos, agora há pouco, perambular a procurar um lugar para dormir.” (“Cet homme, npus le connaisons dejà. C'est le voyager que nous avons vu tout à l'heure errer cherchant un gîte.” III, p. 81) O Monsenhor abriga o andarilho, que finalmente se apresenta, “Eu me chamo Jean Valjean. Sou um forçados nas galés. Passei dezenove anos em trabalhos forçados. Fui liberado depois...” (“Je m'appelle Jean Valjean. Je suis un galérien. J'ai passé dix-neuf ans au bagne. Je suis libré depuis...” pp. 81/82)

Mas o que fez semelhante homem para viver remando durante quase duas décadas? Será um assaltante de estradas? Um assassino? De início o fato não se esclarece, o Narrador deseja mesmo a nossa dúvida enquanto Leitores. O Monsenhor mesmonão se incomoda. Hospitaleiro, convida o viajante a entrar e a se acomodar à mesa de jantar. Jantar humilde, mas digno. Valjean fica perplexo com a cordialidade do Monsenhor, a quem confunde com um 'aubergiste'. Valjean admira-se, pois o religioso não o despreza. Mas aqui o viajante não sabe que está diante de uma 'autoridade da Igreja', um bispo. E quando fala em 'pagamento', o Bispo fala em hospitalidade, “você tem sede e fome, seja bem-vindo”.

Mas o Narrador quer logo elucidar tudo, insere falas anteriores, cartas, notas explicativas. Quem é Jean Valjean? Ele é o pobre que é prontamente punido pelos rigores da lei. Ele é o pobre condenado à pobreza, e quando se rebela, nem que seja roubando um pão, ao morrer de fome, ele é logo enjaulado! Jean Valjean é o homem condenado às galés porque roubou um pão!

Os 'flashbacks' revelam as tragédias na vida de Valjean, suas punições e fugas, e novas punições. Mas estará o Protagonista recuperado após penosa punição? Apesar de todo o sofrimento, o homem ainda é 'tentado' pelo crime. Ainda mais quando percebe os talheres de prata sob a mesa. A prataria e uns candelabros são a única 'vaidade' do Monsenhor, que deseja assim 'honrar o visitante'. Mas Valjean não resiste a cometer um roubo. Noite adentro, ele abre a porta do quarto do bispo, onde contempla o velho a dormir, hesita em golpeá-lo, e acaba por levar a prataria.

No momento do crime, Valjean é golpeado pela culpa, hesita sobre a sua 'falha moral', quando atenta contra a vida do bispo, “Se diria que ele hesitava entre os dois abismos, aquele em que se perde e aquele em que se salva. Parecia estar pronto a quebrar este crânio ou beijar esta mão” (“On eût dit qu'il hésitant entre les deux abîmes, celui où l'on se perd et celui où l'on se sauve. Il semblait prêt à briser ce crâne ou à baiser cette main.” XI, p. 113)

No dia seguinte, é descoberto o roubo da prataria. A criada mostra-se alarmada, “É o homem de ontem a noite que a roubou!”(“C'est homme d'hier soir qui l'a volée!”), “Monsenhor, o homem foi embora! A prataria foi roubada!” (“Monseigneur, l'homme est parti! L'argenterie est volée!”) E logo aparece um grupo a conduzir um vulto cabisbaixo. Ninguém mais que Valjean. “Jean Valjean abre os olhos e olha o venerável bispo com uma expressão de que nenhuma língua humana poderia comunicar.” (“Jean Valjean ouvrit les yeux et regarda le vénérable évêque avec une expression qu'aucune langue humaine ne pourrait rendre.” XII, p. 115)

Mas o Bispo não apenas afirma ter presenteado visitante com a prataria, mas também entrega-lhe dois candelabros de prata (“flambeaux d'argent”). O ex-forçado é golpeado por tamanha bondade, não entende que o Bispo – que Valjean nem sabia ser 'o Bispo' – deseje salvar o resto de 'humanidade' que exista no homem 'humilhado e ofendido'.

“Jean Valjean, meu irmão, não pertenceis mais ao mal, mas ao bem. É a vossa alma que eu vos compro; eu a retiro dos pensamentos sombrios e do espírito de perdição, e eu a entrego a Deus.” (“Jean Valjean, mon frère, vous n'appartenez plus ao mal, mais au bien. C'est votre âme que je vous achète; je la retire aux pensées noites et à l'esprit de perdition, et je la donne à Dieu.” p. 116)

Esta aposta cristã na 'regeneração' de Jean Valjean será válida - e testada – em todo o Romance. Até onde o 'paternalismo' do Bispo terá influenciado as 'virtudes' do ex-forçado? Como poderá o Leitor confiar na 'conversão' do violento prisioneiro em um homem de 'boa vontade'? Afinal, um leitor 'voltaireano' não levria muito à sério esta mensagem 'cristã' de 'deixe o Mal e converta-se ao Bem' (futuramente, um Leitor de Nietzsche até poderia 'saltar' esta parte do livro...)

Na cena seguinte, encontramos Valjean indo embora da cidade, seguindo pelos caminhos, quando encontra um menino pobre, o Petit-Gervais, a pedir uma moeda, mas esta é negada. O protagonista chega até a ser cruel, expulsando a criança. Depois, é golpeado pelo remorso. Há uma luta interior, onde a 'bondade' vem reprovar a crueldade gratuita, “Jean Valjean chora por muito tempo. Chora lágrimas quentes, chora com soluços, com mais abandono que uma mulher, com mais assombro que uma criança.” (“Jean Valjean pleura à chaudes larmes, il pleura à sanglots, avec plus de faiblesse qu'une femme, avec plus d'effroi qu'un enfant.” XIII, p. 124)
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Livro 3 – Ano de 1817

Deixemos Jean Valjean de lado, e encontremos outras personagens. Em plena época de Restauração – após vinte anos de guerras napoleônicas - as ruas de Paris se enchem de jovens esperançosos, que afluem das províncias em busca de trabalho e ascensão social. Muita literatura será feita com estas proezas da 'novas geração', que não sofreu com a Revolução e as guerras. Será a geração retratada por Stendhal, Flaubert, Baudelaire, Balzac, e será os pais daqueles representados em Maupassant e Zola.

Jovens sorridentes, brincalhões não podem deixar de seduzir moças solteiras, moças do povo, humildes e facilmente 'encantadas' com os prazeres da vida na Metrópole. O grupo do jovem Tholomyès chama a atenção de um grupo de jovens criadas, empregadas do comércio ou de casas de família. Esta crônica de seduções serve mais para deixar ao Leitor um grupo da vida parisiense – aos olhos dos miseráveis, aqueles que podem ver o luxo, mas não podem compartilhar do luxo.

O Narrador concentra-se sobre a jovem Fantine – que nomeia este Volume – a protagonista que atrai os olhares de Tholomyès, e é ataída por ele. A beleza modesta de Fantine, com longos cabelos, dentes lustrosos – coisa rara numa época sem serviços odontológicos... - ou seja, uma moça desejável, sem ser mais uma 'cocote' (moça fácil). A pobreza de Fantine é mais um traço do seu 'caráter de vítima'. Se fosse uma filha de burguês, certamente o rapaz não a abandonaria...

De início tudo são encantamentos, mas a realidade pode ser cruel, tudo pode não passar de um 'divertimento' de rapazes. Mas para Fantine aquele homem foi seu primeiro amor, e daquele prazer veio uma consequência que é mais pesada sobre a mulher: a gravidez.

No Livro seguinte, a mãe solteira Fantine abandona a vida pariense, e retorna para a província. Na estrada, junto ao povoado de Montfermeil, ela encontra uma taverna, onde se lê numa tabuleta: “Au sergent de Waterloo” (Ao Sargento de Waterloo), e na plaqueta um desenho a lembrar um homem a carregar outro homem, a representar provavelmente uma batalha. Justamente, a Batalha de Waterloo. (Não demoraremos a receber uma aula completa sobre o assunto...)

Diante da taverna, uma mãe cantorolando para as duas filha. A recém-chegada (que é Fantine) carrega a filha nos braços. A dona da taverna chama-se Sra. Thénardier, e as filhas são Éponine e Azelma, nomes com 'ares clássicos'. Já a viajante sabemos ser Fantine, e sua filha chama-se Cosette.

Preocupada com o futuro da criança – uma filha de mãe solteira! - Fantine resolve deixar Cosette sob os cuidados de uma mãe (ao mesno parece...) tão zelosa. O Sr. Thénadier logo aparece – a exigir pagamento. E pagamento adiantado. Logo saberemos quem são estes Thénardier – que vão certamente 'assombrar' o resto da Narrativa.

As descrições do casal Thénardier têm algo de 'naturalismo', lembram (antecipam?) aquelas de Zola (em “Germinal”) ou de Aluisio Azevedo (em “O Cortiço”), “Esta senhora Thénardier era uma mulher ruiva, magra e angulosa; o tipo mulher-de-soldado em toda a sua desventura. E, coisa bizarra, com um ar lânguido que ela devia às leituras de romances.” (“Cette madame Thénardier était une femme rousse, charnue, anguleuse; le type femme-à-soldat dans toute sa disgrâce. Et, chose bizarre, avec un air penché qu'elle devait à des lectures romanesques.” I, p. 162)

“Esse Thénardier, só fosse mesmo de acreditar, tinha sido soldado; sargento, ele dizia; tinha feito provavelmente a campanha de 1815, e havia até mesmo se comportado bravamente, ao que parece. Nós veremos mais tarde o que ele fizera. O emblema de seu albergue era uma alusão a de seus feitos de armas. Ele mesmo o teria pintado, pois ele sabia fazer um pouco de tudo; mal-feito.”
Ce Thénardier, s'il fallait l'en croire, avait été soldat; sergent,disait-il; il avait fait probablement la campagne de 1815, et s'était même comporté assez bravement, à ce qu'il paraît. Nous verrons plus tard ce qu'il en était. L'enseigne de son cabaret était une allusion à l'un de ses faits d'armes. Il l'avait peinte lui-même, car il savait faire un peu de tout; mal.
p. 166

Por uma pagamento adiantado e um valor de mensalidade, o casal de ambiciosos e exploradores assumem a 'guarda' da pequena Cosette, filha de Fantine. A mãe obviamente quer o bem da filha, e imagina que a menina ficará em 'boas mãos'. Mas engana-se totalmente. Os Thénardier vão 'lucrar' com o pagamento, além de se servirem da criança como uma nova 'empregada'.

Assim, Cosette passa a ser maltratada. “A Sra. Thénardier era cruel para com a Cosette, Eponine e Azelma foram cruéis. As crianças, nessa idade, nada mais são do que exemplares da mãe. O formato é menor, só isto.” (“La Thénardier étant méchante pour Cosette, Eponine et Azelma furent méchantes. Les enfants, à cet âge, ne sont que des exemplaires de la mère. Le format est plus petit, voilà tout.” III, p. 168)

Explorada em serviços domésticos ou obrigada a carregar baldes de água, a filha de Fantine então vai crescer também 'humilhada e ofendida'. Será que a miséria vai mesmo passando de geração a geração? Será que o Narrador só tem a mostrar a miséria humana em 'moto-contínuo'? A menina Cosette é reconhecida como “A Cotovia”, mas é uma cotovia que nem cantava.

“Na região era chamada a Cotovia. O povo, que ama as metáforas, era inclinado a nomear com este nome um pequenino ser pouco maior que uma ave, trêmulo, assustado e arrepiado, despertado primeiro a cada manhã na casa ou na vila, sempre na rua ou nos campos antes da aurora. Somente acontecia que a pobre Cotovia não cantava.” (”Dans le pays on l'appelait l'Alouette. Le peuple, qui aime les figures, s'était plu à nommer de ce nom ce petit être pas plus gros qu'un oiseau, tremblant, effarouché et frissonnant, éveillé le premier chaque matin dans la maison et dans le village, toujours dans la rue ou dans les champs avant l'aube. Seulement la pauvre Alouette ne chantait jamais. III, p.169
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continua...
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abr/mai/10
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por Leonardo de Magalhaens
http://leoleituraescrita.blogspot.com/

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