quarta-feira, 21 de março de 2012

Sobre "O Jovem Törless" - de R. Musil




sobre "O Jovem Törless"
(
Die Verwirrungen des Zöglings Törleß , 1906)
de Robert Musil (1880-1942)


As confusões da época de transição



Adentremos o universo juvenil de “As Perplexidades do Aluno Törless” ou simplesmente “O Jovem Törless“ (por causa de um filme baseado na obra) a ser tecido por lembranças e introspecções do protagonista que, no internato, presencia atos extremos e descobre um mundo além do ambiente familiar.


Temos o mesmo pano de fundo de “O Ateneu”, de Raul Pompeia - comentado em ensaio anterior - onde o jovem na fase de transição descobre o mundo como ele é: ambíguo, confuso, até perverso. Soma-se a isto o momento de transição – crescimento físico, descoberta da sexualidade, exigências de responsabilidade e reivindicações de autonomia.


Podemos comparar “O Jovem Törless” com outras obras de mesma temática, tais como “Demian” e “Sob as Rodas” (ambos de Hermann Hesse), e todos com “O Ateneu”, pois se nota as similaridades. Ou seja, o ambiente de internato, as amizades e inimizades, as afinidades e hostilidades, a dominação e a submissão, a ausência de moças, a presença de mulheres mais velhas.


Também é evidente em “Jovem Törless” a relação dominador e dominado. Os fortes abusam dos fracos – assim o luxurioso Reiting abusa do covarde Basini. Aos demais, o fraco apenas atrai desprezo. É uma atitude 'aristocrática', ao ver o mundo de cima, de uma perspectiva de 'pensamentos sublimes', bem representada em “sair de sua posição privilegiada e juntar-se às pessoas vulgares” (p. 33), que podemos comparar com os 'aristocratas' de “Orlando” e de “Dorian Gray”, que só lembram das classes baixas quando querem se divertir.


Notamos desejo de viver em grupos, ou o costume de jovens alunos aventureiros criarem grupos e/ou sociedades secretas. Seitas com seus ritos, regras, locais secretos, exclusão e segregação de não sócios. Assim é na 'gangue' de 'bandoleiros' de Tom Sawyer e de Huckleberry Finn, assim é na Sociedade do Betume em “Os Meninos da Rua Paulo”.


Todos os alunos usam (e exibem) o sobrenome – Törless, Beineberg, Reiting, Basini – mas nunca o nome que individualiza. Certamente a família define o futuro do aluno – que deve seguir os ditames de pais. Em seguida são entregues ao Estado, ao ensino padronizado, ao cuidado dos professores. E quanto ao nome dos professores? Aqui também são anônimos – apenas peças e engrenagens da máquina educacional...


No novo mundo, o escolar, o jovem procura se inserir em algum grupo, aceitar a proteção de 'amigos' que possam apoiar sua imagem, sua identidade em formação,



“Törless entregou-se completamente à influência deles, pois sua condição espiritual era aproximadamente esta: em sua idade eram lidos no ginásio Goethe, Schiller, Shakespeare, talvez até mesmo os modernos. Os quais, mal-digeridos, retornavam a escreverem-se nas pontas dos dedos. Surgem tragédias romanas ou poesia sentimental, que, com pontuações ao longo de páginas numa renda, se pavoneiam como se na delicadeza de uma tessitura desfeita: coisas, que realmente, em si mesmas são risíveis, porém para a segurança do desenvolvimento significam um valor incalculável. Pois estas associações vindas de fora e sentimentos emprestados conduzem os jovens acima do perigoso e deslizante solo espiritual destes anos, onde deve se significar algo para si mesmo e se é ainda tão incompleto, para significar realmente algo. Se mais tarde algum guarde algo disto e outro não, dá no mesmo, então cada um aceita a si mesmo, e o perigo existe apenas na idade de transição. Se se pudesse trazer à visão de algum jovem o risível de sua pessoa nesta época, o chão se abriria sob os seus pé ou ele cairia como um sonâmbulo, despertado, que de repente vê adiante nada além de um vazio.” (trad. LdeM)

.
Törleß überließ sich gänzlich ihrem Einflusse, denn seine geistige Situation war nun ungefähr diese: In seinem Alter hat man am Gymnasium Goethe, Schiller, Shakespeare, vielleicht sogar schon die Modernen gelesen. Das schreibt sich dann halbverdaut aus den Fingerspitzen wieder heraus. Römertragödien entstehen oder sensitivste Lyrik, die im Gewande seitenlanger Interpunktionen wie in der Zartheit durchbrochener Spitzenarbeit einherschreitet: Dinge, die an und für sich lächerlich sind, für die Sicherheit der Entwicklung aber einen unschätzbaren Wert bedeuten. Denn diese von außen kommenden Assoziationen und erborgten Gefühle tragen die jungen Leute über den gefährlich weichen seelischen Boden dieser Jahre hinweg, wo man sich selbst etwas bedeuten muß und doch noch zu unfertig ist, um wirklich etwas zu bedeuten. Ob für später bei dem einen etwas davon zurückbleibt oder bei dem andern nichts, ist gleichgültig, dann findet sich schon jeder mit sich ab, und die Gefahr besteht nur in dem Alter des Überganges. Wenn man da solch einem jungen Menschen das Lächerliche seiner Person zur Einsicht bringen könnte, so würde der Boden unter ihm einbrechen oder er würde wie ein erwachter Nachtwandler herabstürzen, der plötzlich nichts als Leere sieht.” pp. 14-15




Fontes das citações (traduzidas por LdeM): Projekt Gutenberg
http://www.gutenberg.org/files/34717/34717-h/34717-h.htm
MUSIL, Robert.
Die Verwirrungen des Zöglings Törleß. Suhrkamp Verlag. 1978


Percebemos o desamparo de Törless, longe da proteção familiar, dos pais que protegem e limitam, o que leva o jovem a voltar-se mais para si mesmo, em indagações que beira questões metafísicas (em dado momento ele vai até animar a ler um Kant...), de modo a preencher um vazio de sentido – ele transita do mundo familiar para o mundo da vida adulta, fora do ninho.


O jovem no internato tenta fazer amigos, mas é sempre frustrado quando descobre que precisa corresponder as expectativas, ainda mais quando a educação aprendida no lar não funciona mais no ambiente onde é preciso decidir por si mesmo, ao desenvolver a autonomia, a defender-se o mínimo num sistema de educação rígida e disciplinadora. Ele não se vê como é visto no olhar dos amigos em potencial e dos próprios pais.



“Eram reações da mente. Porém isto, que se sente como caráter ou alma, linha ou timbre de uma pessoa, em todo caso, o que contra os pensamentos, decisões e ações parecem um pouco típicas, acidentais ou substituíveis, que, por exemplo, tinha ligado Törless ao Príncipe além de todo acessível julgar, aquele pano de fundo imóvel e último estava de todo perdido em Törless naquela época.”

.
Es waren Reaktionen des Gehirns. Das aber, was man als Charakter oder Seele, Linie oder Klangfarbe eines Menschen fühlt, jedenfalls dasjenige, wogegen die Gedanken, Entschlüsse und Handlungen wenig bezeichnend, zufällig und auswechselbar erscheinen, dasjenige, was beispielsweise Törleß an den Prinzen jenseits alles verstandlichen Beurteilens geknüpft hatte, dieser letzte, unbewegliche Hintergrund, war zu jener Zeit in Törleß gänzlich verloren gegangen. p.16



Os pais dele consideravam como uma indisposição da fase de crescimento.[…]


Que isto acontecia a Törless também em outras horas, eles não sabiam. E nos últimos tempos sempre frequente. Ele tinha momentos, quando a vida no internato era de todo indiferente. A massa de preocupações cotidianas desfaziam-se e as horas de sua vida soltavam-se sem uma coerência íntima.”

.

Seine Eltern nahmen es als die Ungelenkigkeit der Entwicklungsjahre hin.

[...]

Daß für Törleß mitunter auch andere Stunden kamen, wußten sie nicht. Und in der letzten Zeit immer zahlreichere. Er hatte Augenblicke, wo ihm das Leben im Institute völlig gleichgültig wurde. Der Kitt seiner täglichen Sorgen löste sich da und die Stunden seines Lebens fielen ohne innerlichen Zusammenhang auseinander. p. 17



As novas apreensões de Törless chegam carregadas de sofrimentos morais e metafísicos, ele que tenta em vão entender os descompassos entre o que aprendeu no lar, no seio da família, e o mundo sórdido dos recantos do internato (tal como vimos no Ateneu de Raul Pompeia), onde outras leis e submissões imperam. Estas confusões levam ao desespero que é simbolizado na imagem metafórica do 'grito', tal como no quadro de Edvard Munch, “O Grito” (1893), com a mesma carga expressionista.


Estava tudo quieto, não se ouvia mais sequer o gorgorejo do rio. De súbito veio de longe até eles um som indeterminado e rompido. E soava como um grito ou aviso. Ou como o estéril chamado de uma criatura incompreensível que logo surgiria dentre os arbustos. Eles seguiram em direção ao som, pararam, seguiram adiante.

.

Es war ganz still, sogar das Gurgeln des Flusses war nicht mehr zu hören. Plötzlich kam von ferne ein unbestimmter, gebrochener Ton zu ihnen. Er hörte sich wie ein Schrei oder eine Warnung an. Oder auch wie der bloße Zuruf eines unverständlichen Geschöpfes, das irgendwo gleich ihnen durch die Büsche brach. Sie schritten auf den Ton zu, blieben stehen, schritten wieder weiter.” (p. 33)


Quase um grito de desespero – a metáfora do grito, numa expressão que lembra aquele do “O Grito”, “para Törless parecia como um grito desesperado” (“wie ein verzweifelter Schrei auf Törleß”. p. 19) pois, vejamos,


E a questão continuava apenas: como é possível ? O que acontecia em tal momento? O que explodia nas alturas gritando e o que desvanecia subitamente?...” (“Und die Frage bliebe nur: wie ist es möglich? Was geschieht in solchem Augenblicke? Was schießt da schreiend in die Höhe und was verlischt plötzlich?...”, p. 60)



mais sobre O Ateneu

http://meucanoneocidental.blogspot.com.br/2012/02/sobre-o-ateneu-de-raul-pompeia.html

o quadro O Grito

http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_%28pintura%29



Assim, com a nova vida limitada e vigiada no internato, com os amigos que podem a qualquer momento se voltar contra ele, o jovem Törless sente um profundo tédio e até ódio por si mesmo,


Ele nada experimentava e sua vida eclipsava-se num torpor em contínua indiferença, mas a isto o soar do sino acrescentava ainda a paródia e sacudia-lhe uma fúria impotente por si mesmo, diante de seu destino, sobre o dia que era enterrado.”

.

Er erlebte ja nichts und sein Leben dämmerte in steter Gleichgültigkeit dahin, aber dieses Glockenzeichen fügte dem auch noch den Hohn hinzu und ließ ihn in ohnmächtiger Wut über sich selbst, über sein Schicksal, über den begrabenen Tag erzittern.” (p. 19)


O passar dos dias, a vida confinada, disciplinada, as desconfianças, estas são as arestas que perfuram o sossego do jovem Törless, sempre atrasado com relação aos impulsos, sempre atormentado pela consciência (a boa moral burguesa não falha, pelo menos na capacidade de causar culpa...), incapaz de verbalizar o que sente ou o que espera da vida (ele ainda não começou a folhear as obras clássicas filosóficas) dentro e fora do internato.


É adentrando o protagonista, com semelhantes perplexidades, que o Narrador ousa descrições de estado psicológico com belas imagens expressionistas a comporem longos trechos do romance, entre a introspecção e epifanias,



“E Törless parecia se alegrar com isso. Nestes momentos, ele não gostava das pessoas, os grandes e adultos. Ele nunca gostava delas, quando estava escuro. Ele estava acostumado não pensar nas pessoas, como se elas não existissem. O mundo parecia-lhe então como uma casa vazia e escura e em seu peito estava um arrepio como se agora ele devesse procurar de sala em sala – sala escura, onde ninguém sabia o que se abrigava pelos cantos – tateando, atravessando os umbrais, os quais nenhum outro pé humano, exceto o dele, pisaria, até – num quarto com as portas subitamente abertas e fechadas depois dele e ele enfrentaria a senhoria própria das hordas sombrias. E neste momento as fechaduras de todas as portas se fechariam, quando ele passasse, e apenas longe dos muros estariam as sombras da escuridão como sombrios eunucos em vigilância e mantendo afastadas as pessoas próximas.”

.
Und Törleß schien es, daß er sich darüber freue. Er mochte in diesem Augenblick die Menschen nicht, die Großen und Erwachsenen. Er mochte sie nie, wenn es dunkel war. Er war gewöhnt sich dann die Menschen wegzudenken. Die Welt erschien ihm danach wie ein leeres, finsteres Haus und in seiner Brust war ein Schauer, als sollte er nun von Zimmer zu Zimmer suchen – dunkle Zimmer, von denen man nicht wußte, was ihre Ecken bargen – tastend über die Schwellen schreiten, die keines Menschen Fuß außer dem seinen mehr betreten sollte, bis – in einem Zimmer sich die Türen plötzlich vor und hinter ihm schlössen und er der Herrin selbst der schwarzen Scharen gegenüberstünde. Und in diesem Augenblicke würden auch die Schlösser aller anderen Türen zufallen, durch die er gekommen, und nur weit vor den Mauern würden die Schatten der Dunkelheit wie schwarze Eunuchen auf Wache stehen und die Nähe der Menschen fernhalten.” p. 30


e

“Ele temia esta fantasia, pois ele estava consciente de seu excessivo segredo, e o pensamento que tais imagens poderiam conquistar mais e mais um domínio sobre ele. Mas justamente quando ele se acreditava mais sério e puro, ela o dominava. Poderia se dizer, como uma reação a este momento em que ele pressentia um conhecimento sensível, que nele já se preparava, mas que não correspondia a sua idade. Então no desenvolvimento de cada refinada força moral havia um ponto precoce onde enfraquecia a alma cuja a mais audaciosa experiência ela talvez seja em algum momento, - como se suas raízes tivessem que procurar mais fundo e a escavar o solo, que elas pretendem sustentar mais tarde, - eis porque jovens com grande futuro geralmente têm um passado rico em humilhações.


A preferência de Törless por determinados ânimos era a primeira indicação de um desenvolvimento espiritual, que mais tarde mostraria um talento de assombrar. Mais tarde, ele seria quase controlado por uma habilidade peculiar. Então ele teria que perceber frequentemente eventos, pessoas, coisas, além do sentimento de um indissolúvel não-entendimento como uma inexplicável e nunca plenamente justificada relação. Pareciam-lhe ser compreensíveis ao tato e, no entanto, nunca deixava-se dissolver plenamente em palavras e ideias. Entre os eventos e seu Eu, entre as suas emoções e seu mais interno Eu, que ansiava por entender, permanecia sempre uma divisória, que como um horizonte retrocedia diante de seu desejo, quanto mais próximo ele chegasse.”

.

Er fürchtete diese Phantasie, denn er war sich ihrer ausschweifenden Heimlichkeit bewußt, und der Gedanke, daß solche Vorstellungen immer mehr Herrschaft über ihn gewinnen könnten, beunruhigte ihn. Aber gerade dann, wenn er sich am ernstesten und reinsten glaubte, überkamen sie ihn. Man könnte sagen, als eine Reaktion auf diese Augenblicke, wo er empfindsame Erkenntnisse ahnte, die sich zwar in ihm schon vorbereiteten, aber seinem Alter noch nicht entsprachen. Denn in der Entwicklung einer jeden feinen moralischen Kraft gibt es einen solchen frühen Punkt, wo sie die Seele schwächt, deren kühnste Erfahrung sie einst vielleicht sein wird, – so als ob sich ihre Wurzeln erst suchend senken und den Boden zerwühlen müßten, den sie nachher zu stützen bestimmt sind, – weswegen Jünglinge mit großer Zukunft meist eine an Demütigungen reiche Vergangenheit besitzen.


Törleß' Vorliebe für gewisse Stimmungen war die erste Andeutung einer seelischen Entwicklung, die sich später als ein Talent des Staunens äußerte. Späterhin wurde er nämlich von einer eigentümlichen Fähigkeit geradezu beherrscht. Er war dann gezwungen, Ereignisse, Menschen, Dinge, ja sich selbst häufig so zu empfinden, daß er dabei das Gefühl sowohl einer unauflöslichen Unverständlichkeit als einer unerklärlichen, nie völlig zu rechtfertigenden Verwandtschaft hatte. Sie schienen ihm zum Greifen verständlich zu sein und sich doch nie restlos in Worte und Gedanken auflösen zu lassen. Zwischen den Ereignissen und seinem Ich, ja zwischen seinen eigenen Gefühlen und irgendeinem innersten Ich, das nach ihrem Verständnis begehrte, blieb immer eine Scheidelinie, die wie ein Horizont vor seinem Verlangen zurückwich, je näher er ihr kam.” pp. 31-32



As paixões adolescentes, as primeiras descobertas sexuais, as paixões fulminantes – daquelas que notabilizaram o jovem Werther – e que guardam uma dor, enquanto momentos de transição, de descobertas de si mesmo. Como corresponder as expectativas dos colegas, e ao mesmo tempo ser coerente com a educação recebida no lar? Ou seria mais fácil tentar destruir toda a moral familiar quando sem mantém contatos com pessoas moralmente 'desqualificadas'? Assim a reação de Törless diante da mulher, aqui personificada na figura da decaída Bozena.


"Isto não era diferente com os outros jovens rapazes. Se Bozena fosse pura e bela e ele pudesse amar então, então ele talvez a tivesse mordido, com o prazer dele e dela crescendo a ponto de doer. Pois a primeira paixão de um jovem não é amor por alguém, mas, antes, ódio por todas. O sentir-se incompreendido e não compreender o mundo não acompanha a primeira paixão, mas antes é sua única causa não acidental. E em si mesma ela, a paixão, é apenas um refúgio onde estar com o outro significa apenas uma solidão duplicada.


Quase sempre a primeira paixão dura pouco e deixa um gosto amargo. Ela é um engano, uma decepção. Ao ficar pra trás não se entende e não se sabe a quem se deve culpar. Acontece assim porque as pessoas neste drama são casuais umas às outras na maior parte: companheiros casuais numa fuga. Após a calmaria não se reconhecem mais. Eles percebem-se contraditórios porque não mais percebem algo em comum.”

.

Das war nicht anders als bei jungen Leuten überhaupt. Wäre Božena rein und schön gewesen und hätte er damals lieben können, so hätte er sie vielleicht gebissen, ihr und sich die Wollust bis zum Schmerz gesteigert. Denn die erste Leidenschaft des erwachsenden Menschen ist nicht Liebe zu der einen, sondern Haß gegen alle. Das sich unverstanden Fühlen und das die Welt nicht Verstehen begleitet nicht die erste Leidenschaft, sondern ist ihre einzige nicht zufällige Ursache. Und sie selbst ist eine Flucht, auf der das Zuzweiensein nur eine verdoppelte Einsamkeit bedeutet.


Fast jede erste Leidenschaft dauert nicht lange und hinterläßt einen bitteren Nachgeschmack. Sie ist ein Irrtum, eine Enttäuschung. Man versteht sich hinterher nicht und weiß nicht, was man beschuldigen soll. Dies kommt, weil die Menschen in diesem Drama einander zum größeren Teile zufällig sind: Zufallsgefährten auf einer Flucht. Nach der Beruhigung erkennen sie sich nicht mehr. Sie bemerken aneinander Gegensätze, weil sie das Gemeinsame nicht mehr bemerken.” p. 38


e também,


Amor? Não, agora o pensamento ocorreu-lhe pela primeira vez. Geralmente era algo de todo diferente. Nada para os grandes e adultos; nem para os seus pais. À noite, sentava-se junto a janela aberta e deixava-se sentir, sentir-se diferente dos adultos, com todas as risadas e caretas que pareciam não entender, e a ninguém pudesse explicar, o que já significava, e ansiar por alguém que compreendesse... é isto o amor! Mas, para isso, deve-se ser jovem e solitário. Junto a eles, os pais, devia ser diferente; algo calmo e tranquilo. Simplesmente a mãe cantava de tardinha no jardim que escurecia e estava alegre...”


Liebe? Nein, der Gedanke kam ihm jetzt zum erstenmal. Überhaupt war das etwas ganz anderes. Nichts für große und erwachsene Menschen; gar für seine Eltern. Nachts am offenen Fenster sitzen und sich verlassen fühlen, sich anders fühlen als die Großen, von jedem Lachen und von jedem spöttischen Blicke mißverstanden, niemandem erklären können, was man schon bedeute, und sich nach einer sehnen, die das verstünde ... das ist Liebe! Aber dazu muß man jung und einsam sein. Bei ihnen mußte es etwas anderes gewesen sein; etwas Ruhiges und Gleichmütiges. Mama sang einfach am Abend in dem dunklen Garten und war heiter....” p. 43



O jovem observa a si mesmo, em comparação com os pais, e com os colegas. Ser 'filhinho da mamãe' é até uma forma de humilhação pública, pois o jovem deve aprender a se proteger. Deve agir por si mesmo – e muitas vezes haverá de não agradar a família. Mas o que fazem os pais? São realmente bons? São seres perfeitos?


E podemos comparar o jovem Törless com o jovem artista Stephen Dedalus (de “Retrato do Artista quando Jovem”), ambos intrigados com o fenômeno feminino. A mulher enquanto símbolo da luxúria e do pecado. Afinal, os rapazes não tinham oportunidades de encontrarem mocinhas, mas geralmente mulheres mais velhas, geralmente prostitutas.


Törless procura uma 'mulher da vida', uma 'mulher decaída', pois parece ter prazer em objetos rebaixados, como argumenta S. Freud em certas teorias sobre a sexualidade (exemplar o caso do marido que traí a esposa, sempre correta e exemplar, com prostitutas as mais vulgares) de cunho psicologista. Mas há outra abordagem, moralista e mesmo religiosa. Assim é procurar a prostituta para melhor trair a imagem sacrossanta da família – e a experiente Bozena sabe disso: ela é a Mulher, não a Mãe.


Não nos desviamos muito se lembrarmos daquela atração de Raskólnikoff pela jovem prostituta Sonja (em “Crime e Castigo”) e do Príncipe Michkín por Nastássia (em “O Idiota”) onde o autor russo Dostoiévski mostra o fenômeno da vertigem, da tentação que arrasta o pecador para uma queda, o amor proibido, a paixão infernal, que leva ao fundo do poço, e depois ao arrependimento.


Junto com Beineberg, Törless se encontra com a decaída Bozena, e junto com Reiting, ele assiste aos maus tratos que afligem o colega Basini, submisso e desarmado. Assim Törless é uma testemunha – não participa da tortura contra o covarde Basini, mas é cúmplice passivo.


Sabemos mais sobre os colegas de Törless ao longo das torturas físicas e psicológicoas sofridas pelo jovem Basini. Assim expõe-se o sombrio Beineberg, o obcecado com a mística oriental – aquele que duvida dos padres e dos mestres, despreza os religiosos e os racionalistas – mas busca a sabedoria de velhos gurus. A metáfora da aranha: Beineberg enreda uma trama , a testar os colegas, a fazer experiências com o sofrimento alheio.


Lembramos que Törless vem de uma família liberal, de livre-pensadores, burgueses que desprezam irracionalismos em nome do 'bom tom', das conveniências. De início, Törless já criou inimizades ao exercitar o 'livre-pensar', e agora ele não leva muito a sério as experiências de Beineberg, mais voltado ao místico, como veremos.


Antes, os colegas pretendem arrastar o protagonista numa vertigem de experimentos morais, a ponto de fazê-lo desequilibrar-se, inclinar-se para o 'pecado', o moralmente considerado 'pecado', que apenas aumenta a culpa. Assim é com a decaída Bozena, uma mulher que acreditava na vida, mas agora só guarda a amargura e a ironia.


Irônica com a família, a luxuriosa Bozena ironiza os jovens que fazem tudo para agradar aos pais, para manterem as aparências de 'bons mocinhos'. Ela tem até pena das mães iludidas,



“Com estas palavras, Törless teve diante de si a antiga imagem de si mesmo. Como ele deixava tudo para trás e traía a imagem de seus pais. E agora ele tinha visto que o que fazia não era terrivelmente solitário, mas apenas um pouco vulgar. Ficou envergonhado. Porém outros pensamentos voltavam. Eles, os pais, também faziam isso! Eles te traem! Você tem secretos parceiros de jogo! Talvez com eles seja diferente de qualquer modo, mas isto deve ser mesmo com eles: um prazer terrível e confidencial. Algo no qual podemos mergulhar com toda angústia da regularidade dos dias... Talvez eles até soubessem mais...?! … Algo totalmente incomum? Pois durante o dia eles são tão calmos; … e aquele riso de sua mãe? Como se ela andasse com passos sossegados, a fechar todas as portas.”

.
"Bei diesen Worten bekam Törleß wieder die frühere Vorstellung von sich selbst. Wie er alles hinter sich ließ und das Bild seiner Eltern verriet. Und nun mußte er sehen, daß er damit nicht einmal etwas fürchterlich Einsames, sondern nur etwas ganz Gewöhnliches tat. Er schämte sich. Aber auch die anderen Gedanken waren wieder da. Sie tuen es auch! Sie verraten dich! Du hast geheime Mitspieler! Vielleicht ist es bei ihnen irgendwie anders, aber das muß bei ihnen das gleiche sein: eine geheime, fürchterliche Freude. Etwas, in dem man sich mit all seiner Angst vor dem Gleichmaß der Tage ertränken kann.... Vielleicht wissen sie sogar mehr...?!... Etwas ganz Ungewöhnliches? Denn sie sind am Tage so beruhigt; .. und dieses Lachen seiner Mutter?.. als ob sie mit ruhigem Schritte ginge, alle Türen zu schließen." p. 45



Assim o sentir-se dividido entre o burguês e o aventureiro - assim como estava Tonio Kroeger – mezzo burguês, mezzo artista. Com a diferença que Törless parece mais um filósofo kantiano – dividido entre o nomeno e o fenômeno - do que um artista. Antes ele se revela preocupado com questões morais, dos limites do conhecimento. Parece que tanto a vida regulada quanto a luxuriosa o desesperariam – ele tem consciência demais para ser 'feliz',


“No entanto, às vezes, dominava-o a consciência do que perdia por causa dessa dependência íntima. Ele sentia que tudo o que fazia era apenas um jogo. Apenas algo que o ajudava a superar aquela fase de existência de larva lá no internado. Sem relação com o seu verdadeiro ser que vem apenas depois, numa incerta distância temporal.


Quando ele via que, em certas oportunidades, como seus dois amigos consideravam seriamente tais coisas, ele sentia falhar o entendimento. Teria com muito gosto se divertido com eles, mas temia que por detrás das fantasias havia mais verdade do que ele suportaria ver. Ele se sentia praticamente dividido entre dois mundos: de uma sólida burguesia, na qual, afinal, tudo seguia regulado e sensato, como ele estava acostumado em casa, e de um aventureiro, cheio de escuridão, mistério, sangue e surpresas inesperadas. E um mundo parecia excluir o outro. Um sorriso de zombaria, que ele teria gostado de manter nos lábios, e um arrepio, que percorria a espinha, cruzaram-se. Um piscar de pensamento surgia...”

.

Manchmal kam ihm aber doch zu Bewußtsein, was er durch diese innerliche Abhängigkeit einbüßte. Er fühlte, daß ihm alles, was er tat, nur ein Spiel war. Nur etwas, das ihm half, über die Zeit dieser Larvenexistenz im Institute hinwegzukommen. Ohne Bezug auf sein eigentliches Wesen, das erst dahinter, in noch unbestimmter zeitlicher Entfernung kommen werde.


Wenn er nämlich bei gewissen Gelegenheiten sah, wie sehr seine beiden Freunde diese Dinge ernst nahmen, fühlte er sein Verständnis versagen. Er hätte sich gerne über sie lustig gemacht, hatte aber doch Angst, daß hinter ihren Phantastereien mehr Wahres stecken könnte, als er einzusehen vermochte. Er fühlte sich gewissermaßen zwischen zwei Welten zerrissen: Einer solid bürgerlichen, in der schließlich doch alles geregelt und vernünftig zuging, wie er es von zu Hause her gewohnt war, und einer abenteuerlichen, voll Dunkelheit, Geheimnis, Blut und ungeahnter Überraschungen. Die eine schien dann die andere auszuschließen. Ein spöttisches Lächeln, das er gerne auf seinen Lippen festgehalten hätte, und ein Schauer, der ihm über den Rücken fuhr, kreuzten sich. Ein Flimmern der Gedanken entstand ...” p. 53



Agora havia, pela primeira vez, como se uma pedra atingisse a incerta solidão de seu devanear; havia; nada há que possa ser feito; era a realidade.” (“Da war nun etwas zum ersten Male wie ein Stein in die unbestimmte Einsamkeit seiner Träumereien gefallen; es war da; da ließ sich nichts machen; es war Wirklichkeit.” p.59)

É visível no jovem aquela dificuldade de expressar o que se sente, pois desconfia da linguagem. Ou antes: da capacidade da linguagem em traduzir nossas emoções e pensamentos, para que a originalidade não se perca em lugares-comuns da fala banal, afinal o idioma que recebemos – onde fomos inseridos – já é uma fala viciada,


Justo agora ele cuidava disso. Ocorreu-lhe que , certa vez, quando ele estava com o pai diante de uma daquelas paisagens, subitamente ele gritara: Ó é tão bonito! - e ficara confuso quando seu pai se alegrara. Pois ele poderia ter dito também: É terrivelmente triste. Era a falha das palavras que o atormentava, uma meia consciência de que as palavras eram apenas equívocos acidentais para o que se sentia.


E hoje ele se lembrava da cena, lembrava-se das palavras e claramente a sensação de ter mentido, sem saber o motivo. Seu olhar atravessava, na lembrança, diante de tudo que era novo. Mas sempre e sempre voltava sem qualquer salvação. Um sorriso de contentamento sobre a riqueza das inspirações, que ele ainda mantinha um tanto distraído, lentamente mudava-se num pouco perceptível traço doloroso.”

.

Gerade um dieses bemühte er sich jetzt. Ihm fiel ein, daß er einstens, als er mit seinem Vater vor einer jener Landschaften stand, unvermittelt gerufen hatte: o es ist schön – und verlegen wurde, als sich sein Vater freute. Denn er hätte ebensogut sagen mögen: es ist schrecklich traurig. Es war ein Versagen der Worte, das ihn da quälte, ein halbes Bewußtsein, daß die Worte nur zufällige Ausflüchte für das Empfundene waren.


Und heute erinnerte er sich des Bildes, erinnerte sich der Worte und deutlich jenes Gefühles zu lügen, ohne zu wissen, wieso. Sein Auge ging in der Erinnerung von neuem alles durch. Aber immer wieder kehrte es ohne Erlösung zurück. Ein Lächeln des Entzückens über den Reichtum der Einfälle, das er noch immer wie zerstreut festhielt, bekam langsam einen kaum merklichen schmerzhaften Zug...” pp. 84-85


A dificuldade de expressão? Numa classe de pensadores, comerciantes, funcionários públicos, burocratas, de boa vida e em ascensão? Mas a burguesia não é muito de nutrir bens eruditos mas, antes, tesouros materiais para financiar jogos de poder, de modo que a literatura é vista enquanto exibição do burguês. Eis a estante cheia de livros nunca lidos, sequer folheados – mas apenas ostentação de um saber.


Antes de agora diante de Törless o nome Kant nunca fora pronunciado diferente e com tal expressão, como diante de algo misteriosamente sagrado. E Törless nada diferente podia pensar além de que os problemas da filosofia finalmente foram solucionados por Kant, e que esta permanecia desde então como uma atividade sem propósito , assim como ele também acreditaria que após Schiller e Goethe não valia mais a pena escrever.


Em casa, os livros ficavam nas estantes com portas verdes no escritório do pai e Törless sabia que este nunca era aberto, exceto para ser mostrado a alguma visita. Era como um santuário de uma divindade, da qual não se gosta de se aproximar, e que apenas se reverencia, por que é agradável que não se precise mais, graças a sua existência, se preocupar com certas questões.


Esta relação distorcida com a filosofia e a literatura exerceu mais tarde sobre Törless um tardio desenvolvimento cuja influência infeliz lhe concederia muitas horas tristes. Pois desviava sua ambição de seus reais temas e voltava-o, enquanto ele, sem seu objetivo, procurava por outro, - sob a brutal e resoluta influência de seus colegas. Suas inclinações voltavam vez ou outra e envergonhadas e a todo tempo a consciência de fazer algo inútil e risível. Elas eram, porém, ainda fortes, que ele não podia se livrar completamente delas, e esta constante luta era o que roubava de seu ser as linhas estáveis e o andar altivo.”

.

Nun war vor Törleß der Name Kant nie anders als gelegentlich und mit einer Miene ausgesprochen worden, wie der eines unheimlichen Heiligen. Und Törleß konnte gar nichts anderes denken, als daß von Kant die Probleme der Philosophie endgültig gelöst seien, und diese seither eine zwecklose Beschäftigung bleibe, wie er ja auch glaubte, daß es sich nach Schiller und Goethe nicht mehr lohne zu dichten.


Zu Hause standen diese Bücher in dem Schranke mit den grünen Scheiben in Papas Arbeitszimmer und Törleß wußte, daß dieser nie geöffnet wurde, außer um ihn einem Besuch zu zeigen. Er war wie das Heiligtum einer Gottheit, der man nicht gerne naht, und die man nur verehrt, weil man froh ist, daß man sich dank ihrer Existenz um gewisse Dinge nicht mehr zu kümmern braucht.


Dieses schiefe Verhältnis zu Philosophie und Literatur hatte später auf Törleß' weitere Entwicklung jenen unglücklichen Einfluß ausgeübt, dem er manche traurige Stunde zu danken hatte. Denn sein Ehrgeiz wurde hiedurch von seinen eigentlichen Gegenständen abgedrängt und geriet, während er, seines Zieles beraubt, nach einem neuen suchte, – unter den brutalen und entschlossenen Einfluß seiner Gefährten. Seine Neigungen kehrten nur noch gelegentlich und verschämt zurück und hinterließen jedesmal das Bewußtsein, etwas Unnützes und Lächerliches getan zu haben. Sie waren aber doch so stark, daß es ihm nicht gelang, sich ihrer ganz zu entledigen, und dieser beständige Kampf war es, der sein Wesen der festen Linien und des aufrechten Ganges beraubte.” pp. 102-103



Contudo a presença da erudição percebe-se na obra, nas indagações, onde o leitor é conduzido entre a ciência, a lógica, o raciocínio e a poesia, o metafórico, a lacuna irracional, a perceber a posição de cada personagem - quem é iluminista, quem é irracionalista, quem é teocrático (algo semelhante acontece, e com mais rigor, em “A Montanha Mágica” de Thomas Mann, onde o jovem Hans Castorp é confrontado com várias visões de mundo, às vésperas da Primeira Grande Guerra) no embate filosófico com o outro.


Vimos que Törless foi educado família liberal, burguesa, de tradição iluminista, enquanto o colega Beineberg defende o misticismo oriental, não o pensamento iluminista (próprio da família liberal de Törless), e no embate entre ambos conhecemos os limites e incoerências das visões-de-mundo que se negam mutuamente. O místico não hesita em desmerecer o pensamento racionalista,


Nós nunca antes falamos tão seriamente sobre isso, afinal não se gosta de gastar palavras com tais coisas, mas agora você pode ver, quão fraca é a visão com a qual as pessoas lidam com o mundo. É desilusão, é engano, é idiotice! Anemia! Desde que o entendimento delas não vai além de conceberem em suas cabeças suas explicações científicas, afora isto se congelam, entendes? Há, há! Todos estes pontos, estes extremos que os professores nos dizem que eles são sutis, os quais nós ainda não somos capazes de apalpar, estão mortos – congelados, - entendes? Em todas as direções se observa estas admiradas pontas de gelo e nenhuma pessoa é capaz de começar algo com elas, pois são tão sem vida!

.

Wir zwei haben noch nie so ernst darüber gesprochen, schließlich macht man über solche Dinge nicht gern viel Worte, aber du kannst jetzt sehen, wie schwach die Ansicht ist, mit der sich die Leute über die Welt begnügen. Täuschung ist sie, Schwindel ist sie, Schwachköpfigkeit! Blutarmut! Denn ihr Verstand reicht gerade so weit, um ihre wissenschaftliche Erklärung aus dem Kopf herauszudenken, draußen erfriert sie aber, verstehst du? Ha ha! Alle diese Spitzen, diese äußersten, von denen uns die Professoren erzählen, sie seien so fein, daß wir sie jetzt noch nicht anzurühren vermögen, sind tot – erfroren, – verstehst du? Nach allen Seiten starren diese bewunderten Eisspitzen und kein Mensch vermag mit ihnen etwas anzufangen, so leblos sind sie!” p. 107



No meio de questões filosóficas – pois o jovem se interessa por leituras de Kant – o aluno-protagonista acaba por confundir os professores, incapazes de entenderem a profundeza de suas indagações, em questionamentos dos quais somente o jovem e artista é capaz. Ver o mundo com assombro, ver a vida com maravilhamento, eis atitudes dignas de um jovem em crescimento físico e mental. Quanto mais 'desperto' para a inquietude, mais propenso a criticar, inovar, criar.


Não sabemos qual o futuro de Törless – se burocrata, filósofo, artista, médico – mas suas inclinações são para o pensamento introspectivo, o que o habilita a ser um bom questionador da 'vida como ela é', assim como acontece com um jovem Tonio Kroeger (o artista da obra de Thomas Mann), igual ao jovem artista Stephen Dedalus (na obra de James Joyce). São jovens que encontram uma aspiração, um guia íntimo (ou desassossego íntimo) que é desconhecido dos demais. Ou jovens que se sentem marcados – 'cains' com uma 'marca na testa' – vide os casos de Demian (H. Hesse) e Tonio Kroeger (T. Mann)


Talvez o jovem Törless, quando adulto, seja uma espécie de 'Homem do Subterrâneo', ou um Raskolnikov (ambos personagens-protagonistas de obras de F. Dostoiévski), ou mesmo um Harry Haller (de “O Lobo da Estepe” de H. Hesse) ou um Antoine Roquetin (de “A Náusea” de J-P Sartre), adultos que questionam à exaustão a sociedade e o mundo, verdadeiros niilistas ou iconoclastas, em crise de identidade e boicotando as próprias carreiras.


Para conservar a identidade, para cultivar a própria personalidade, em sua jornada de auto-conhecimento, o jovem precisará vencer as barreiras de classe e educação, inserir-se num grupo social, num clube, numa gangue, numa vanguarda artística, numa sociedade de desiguais, de exigências e de punições. Veremos mais estes conflitos nos próximos ensaios sobre as obras citadas.



dez/11 e mar/12


Leonardo de Magalhaens


http://leoleituraescrita.blogspot.com

http://leoliteraturaescrita.blogspot.com




mais info


Die Verwirrungen des Zöglings Törleß

in: Projekt Gutenberg
http://www.gutenberg.org/files/34717/34717-h/34717-h.htm


filme

"
O Jovem Törless" (1966)

de Volker Schlöndorff

http://www.youtube.com/watch?v=Oz_RsCiz6Ns&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=n6zNGw-CEJA



Um comentário: