sobre “As Crônicas Marcianas” (The Martian Chronicles, 1950)
série de contos de Ray Bradbury
A Literatura desbravando o Espaço
A série de contos que se passam em Marte – ou tratam da colonização de Marte – tematizam as aventuras, as vicissitudes e conquistas dos primeiros exploradores espaciais. Conheceremos os pioneiros da conquista aerospacial, os primeiros tripulantes de foguetes rumo ao Planeta Vermelho.
Como seriam as primeiras missões tripuladas? Como elas encontrariam o planeta vizinho? Outras civilizações – amigáveis ou hostis ? Seria possível montar bases no planeta em cooperação com os nativos? Ou seria preciso fazer guerra? Como seriam os conflitos no espaço?
Aliás, a presença dos exploradores do Espaço é também importante nos primeiros livros de Isaac Asimov, integrados na história dos Espaciais (nas série dos Robôs e do Império Galáctico)
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mais sobre os Espaciais de Asimov
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espaciais
http://en.wikipedia.org/wiki/Spacer_(Asimov)
http://en.wikipedia.org/wiki/Settler_(Asimov)
http://en.wikipedia.org/wiki/Robots_and_Empire
Os pioneiros que dependem de toda uma indústria da exploração espacial, com investimentos em tecnologia e foguetes que avancem rumo ao vazio fora da nossa atmosfera. Muitos dos primeiros projetos de foguetes foram desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente nos governos totalitários do III Reich e da URSS, onde os técnicos recebiam ordens 'de cima' para criarem foguetes cada vez mais poderosos, capazes de carregarem cargas (explosivas) através de longas distâncias.
Com a derrota do III Reich – invadido por ingleses, norte-americanos e russos – os projetos dos nazistas foram carregados para os países vencedores, e também muitos técnicos emigraram – voluntaria ou forçadamente – para os novos centros de poder hegemônico – os Estados Unidos e a URSS. Nos EUA as pesquisas com foguetes foram novamente desenvolvidas pelo engenheiro alemão Wernher von Braun (1912-1977), enquanto na URSS os projetos eram conduzidos pelo engenheiro ucraniano Sergei Korolev (1906-1966). A luta pela hegemonia mundial – durante a chamada Guerra Fria (1947-1991) levou os líderes dos EUA e da URSS a se interessarem igualmente pela hegemonia espacial, em disputa na 'Corrida Espacial'.
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mais sobre a exploração espacial na Guerra Fria
http://pt.wikipedia.org/wiki/Exploração_espacial
http://pt.wikipedia.org/wiki/Corrida_espacial
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Wernher_von_Braun
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sergei_Korolev
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Em “As Crônicas Marcianas”, publicadas nos anos 50, foram os norte-americanos quem venceram a 'corrida espacial' e primeiramente se lançaram em expedições tripuladas até os planetas exteriores, possíveis locais da instalação de novas colônias. Enquanto um Gagarin, um russo, seria o primeiro homem a chegar ao espaço em 1961, e a primeira missão tripulada à Lua seria de norte-americanos em 1969, nos primeiros passos da 'conquista' espacial, ainda em 1950 essas proezas soavam como 'ficção científica'.
Na ficção de Bradbury, Marte (ou Tyr, na mitologia nórdica) é um planeta habitável e habitado, com um ar de todo rarefeito, canais de água e terreno pedregoso – algo como o Meio-Oeste norte-americano, o deserto do Arizona, ou o sul-americano Deserto do Atacama. Cientificamente, Marte é inabitável, sem ar e sem água. Não há explicação definitiva para os canais – resto de rios? Falhas geológicas? Obra de civilizações?
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Marte na Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marte_(planeta)
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Podemos fazer algumas comparações quantos às temáticas das Crônicas Marcianas e de A Guerra dos Mundos de H. G. Wells – neste os marcianos invadem a Terra, naquele é o oposto: os terráqueos colonizam Marte.
Marte na Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marte_(planeta)
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Podemos fazer algumas comparações quantos às temáticas das Crônicas Marcianas e de A Guerra dos Mundos de H. G. Wells – neste os marcianos invadem a Terra, naquele é o oposto: os terráqueos colonizam Marte.
Em A Guerra dos Mundos de H. G. Wells , os marcianos atacam a Terra e acabam derrotados (não por nossa ciência ou armamentos) mas pelos vírus terrestres. Em Crônicas Marcianas de Bradbury, os marcianos sofrem com a chegada das expedições terrestres, usam telepatia para auto-defesa, mas acabam contagiados pelos vírus (da varicela, ou catapora, ou chicken-pox) trazidos pelos terráqueos – há, assim, um genocídio marciano! Assim como muitos nativos das Américas morreram em contato com as doenças dos europeus (portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, principalmente)
“O planeta Marte, pouco preciso lembrar ao leitor, gira ao redor do sol numa distância de 240.000.00 quilômetros, e a luz e o calor que Marte recebe do sol é cerca de metade do que recebe este mundo [a Terra]. Deve ser, se a hipótese da nebular for verdadeira, mais velho que nosso mundo; e bem antes esta terra terminar de ser moldada, a vida sobre sua superfície deve ter começado a existir. O fato de ter quase um sétimo do volume da Terra deve ter acelerado seu resfriamento até a temperatura na qual se inicia a vida. Tem ar e água e tudo o que é necessário para abrigar vida animada.
É ainda vão o homem, e tão cego em sua vaidade, que nenhum escritor; até o fim do século dezenove, expressou qualquer ideia que vida inteligente deveria ter se desenvolvido lá, ou realmente afinal, além do nível terrestre. Nem era geralmente entendido que desde que Marte era mais velho que a nossa Terra, com pouco menos de um quarto da superfície e mais distante do sol, segue-se necessariamente que é não apenas mais distante do início do tempo, mas bem mais próximo do próprio fim.” (capítulo 1, The Eve of War, 'A Véspera da Guerra')
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The planet Mars, I scarcely need remind the reader, revolves about the sun at a mean distance of 140,000,000 miles, and the light and heat it receives from the sun is barely half of that received by this world. It must be, if the nebular hypothesis has any truth, older than our world; and long before this earth ceased to be molten, life upon its surface must have begun its course. The fact that it is scarcely one seventh of the volume of the earth must have accelerated its cooling to the temperature at which life could begin. It has air and water and all that is necessary for the support of animated existence.
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Yet so vain is man, and so blinded by his vanity, that no writer, up to the very end of the nineteenth century, expressed any idea that intelligent life might have developed there far, or indeed at all, beyond its earthly level. Nor was it generally understood that since Mars is older than our Earth, with scarcely a quarter of the superficial area and remoter from the sun, it necessarily follows that it is not only more distant from time's beginning but nearer its end.
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link para The War of the Worlds
no Wikisource
http://en.wikisource.org/wiki/The_War_of_the_Worlds
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Que poderes possuem os enigmáticos marcianos? Constroem canais de irrigação e arranha-ceús? Ou preferem pirâmides e estátuas antropomórficas? Desenvolveram a anti-gravidade? Construíram naves espaciais e artefatos bélicos? Podem ousar uma invasão ao nosso desprotegido planeta? Ou seus poderes não são apenas técnicos, mas desenvolveram poderes não-físicos tais como clarividência, projeção astral e telepatia? Principalmente telepatia, segundo percebemos deste o primeiro conto/crônica, “Ylla” e “Homens da Terra”.
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Os Marcianos 'recolhem' as lembranças dos terráqueos e depois criam ilusões, projeções, até 'materializam' telepaticamente os acontecimentos e sensações, além de pessoas do passado – como uma imensa 'realidade alternada' que não passa de armadilha. Assim as três primeiras expedições são eliminadas – um completo fracasso para os 'colonizadores'.
Podemos comparar o poder telepático dos marcianos com o 'Oceano' que materializa pensamentos e desejos em “Solaris” do autor polonês Stanislaw Lem (1921-2006)
Solaris na Wikipedia
http://es.wikipedia.org/wiki/Solaris_(novela)
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na página do Autor S. Lem
http://english.lem.pl/works/novels/solaris/2-introduction
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Devido ao poder telepático, as crianças marcianas cantam 'rimas' sem sentido, as mulheres passam a esperar homens que nada se parecem com os marcianos, as memórias dos viajantes invasores é compartilhadas pelos habitantes do mundo invadido. Os marcianos podem 'falar inglês' porque telepaticamente capturam na mente alheia os mecanismos da linguagem.
Os Marcianos 'recolhem' as lembranças dos terráqueos e depois criam ilusões, projeções, até 'materializam' telepaticamente os acontecimentos e sensações, além de pessoas do passado – como uma imensa 'realidade alternada' que não passa de armadilha. Assim as três primeiras expedições são eliminadas – um completo fracasso para os 'colonizadores'.
Podemos comparar o poder telepático dos marcianos com o 'Oceano' que materializa pensamentos e desejos em “Solaris” do autor polonês Stanislaw Lem (1921-2006)
Solaris na Wikipedia
http://es.wikipedia.org/wiki/Solaris_(novela)
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na página do Autor S. Lem
http://english.lem.pl/works/novels/solaris/2-introduction
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Devido ao poder telepático, as crianças marcianas cantam 'rimas' sem sentido, as mulheres passam a esperar homens que nada se parecem com os marcianos, as memórias dos viajantes invasores é compartilhadas pelos habitantes do mundo invadido. Os marcianos podem 'falar inglês' porque telepaticamente capturam na mente alheia os mecanismos da linguagem.
Através da telepatia – e por causa de alguma demência ou loucura – os marcianos podem projetar 'espectros' como os médiuns terrestres projetam 'ectoplasmas' ao redor de si mesmos. Ectoplasmas que tomam formas corpóreas, antropomórficas, frutos dos 'desvarios' dos loucos telepatas. Assim, um dos primeiros capitães terrestres é exterminado – e com ele os oficiais da tripulação – quando os médicos marcianos acreditam estarem diante de um louco!
A capacidade de gerar todo um mundo por projetação telepática – fazer o outro 'ver e sentir' o que o telepata deseja – é uma das armas dos marcianos para derrotar os viajantes invasores. Toda uma tripulação é recepcionada por um mundo deveras familiar – na verdade, 'sugado' da mente do capitão – e encontram entes queridos já falecidos. Telepaticamente é criada uma cidade idêntica àquela do capitão, que logo desconfia que algo está errado. Mas é tarde demais.
“Suponha que todas estas casas não sejam reais afinal, esta cama não seja real, mas apenas frutos da minha própria imaginação, que ganharam substância através da telepatia e da hipnose dos marcianos, pensava o Capitão John Black. Suponha que estas casas sejam realmente de outra forma, de uma forma marciana, mas, ao jogarem com os meus desejos e vontades, estes marcianos tenham feito com que pareçam iguais às de minha cidade natal, minha velha casa, para distrair-me de minhas suspeitas. Que modo melhor de enganar um homem do que usar seus pais como isca?
…
“E suponha que estas duas pessoas no quarto ao lado, adormecidas, não sejam meus pais afinal. Mas dois marcianos, inacreditavelmente brilhantes, com a habilidade de manter-me sob esta hipnose onírica durante todo esse tempo.” ('A Terceira Expedição')
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“Suppose all of these houses aren't real at all, this bed not real, but only figments of my own imagination, given substance by telepathy and hipnosis through the Martians, thought Captain John Black. Suppose these houses are really some other shape, a Martian shape, but, by playing on my desires and wants, these Martians have made this seem like my old home town, my old house, to lull me out of my suspicions. What better way to fool a man, using his own mother and father as bait?”
[…]
“And suppose those two people in the next room, asleep, are not my mother and father at all. But two Martians, incredibly brilliant, with the ability to keep me under this dreaming hypnosis all of the time.” p. 59
O fato é que os marcianos conseguem 'colocar fora de combate' as três primeiras expedições, mas ainda uma quarta expedição vem aterrissar, em junho de 2001 – realmente uma data muito simbólica, vide “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, filme de Kubrick com roteiro de Arthur Clarke.
A expedição sob comando do capitão Wilder – sempre os militares na frente! - será aquela que encontrará as primeiras ruínas da civilização marciana, que mostrou-se frágil diante de uma coisa básica, simples e controlada pelos terrestre: os vírus e suas viroses. Pois ao entrarem em contato com os terrestres das expedições anteriores, os marcianos se deixaram infectar – e fatalmente!
Os mesmos vírus que derrotariam os marcianos quando aqui eles chegassem – em “A Guerra dos Mundos” de Wells – derrotam os marcianos em casa – assim como os nativos das Américas, os peles-vermelhas, os apaches, os sioux, os cheyene, os tupis, os tapajós, os timbiras, e tantos outros, foram exterminados pelas espadas, pelo fogo e pelas viroses.
As expedições até Marte se assemelham assim as invasões europeias do continente americano ao longo dos séculos 16 a 18, e depois a conquista do Oeste no século 19, com a 'corrida do ouro' e a anexação do Alaska – como mostram os contos de Jack London. Os viajantes invasores não hesitam em se apossar das terras, poluir as águas, dominar a natureza e lucrar. Tudo aquilo que o Chefe Seattle temia que o 'homem branco' fizesse com as terras dos povos tradicionais. Os nativos sempre conviveram integradamente com a Natureza, enquanto os povos europeus pensam apenas em usar os recursos naturais de forma exploradora.
Indiferentes aos marcianos que morreram de uma simples catapora ('chicken pox'), os terrestres surgem como uma ameaça ao meio ambiente marciano. Fato logo percebido por um dos tripulantes, o inteligente e amargurado Spender,
“Não seria correto, na primeira noite em Marte, fazer confusão, montar algo estranho e ridículo como um forno. Seria uma espécie de blasfêmia importada. Haverá tempo para isso mais tarde; tempo para jogar latas de leite-condensado nos orgulhosos canais marcianos; tempo para que exemplares do jornal New York Times possam voar e flutuar e cobrir o fundo dos oceanos marcianos, solitários e cinzentos: tempo para que cascas de bananas e restos de piqueniques nas delicadas ruínas das velhas cidades marcianas lá no vale. Muito tempo para tudo isso. E ele até estremeceu intimamente com o simples pensamento disso.” ('A lua ainda brilha')
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“It wouldn't be right, the first night on Mars, to make a loud noise, to introduce a strange, silly bright thing like a stove. It would be a kind of imported blasphemy. There'd be time for that later; time to throw condensed-milk cans in the proud Martian canals; time for copies of the New York Time to blow and caper and rustle across the lone gray Martian sea bottoms; time for banana peels and picnic papers in the fluted, delicate ruins of the old Martian valley towns. Plenty of time for that. And he gave a small inward shiver at the thought.” p. 63
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A expedição do Capitão Wilder será um referencial importante para vários outros contos – como a primeira a encontrar o que restou dos nativos – ao apresentar os primeiros duelos entre preservadores e exploradores, digamos. Enquanto a tripulação preocupa-se em 'se estabelecer', sem qualquer comoção quanto a ruína dos nativos, um dos tripulantes mostrasse sensibilizado com o fim dos marcianos, e 'passa para o lado' destes.
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“Nós, os terrestres, temos um talento para arruinar as grandes coisas belas. A única razão pela qual ainda não temos carrinhos de cachorro-quente no meio do templo egípcio de Karnak é porque era meio afastado e não serviria como uma grande empresa comercial.” (“We Earth Men have a talent for ruining big, beautiful things. The only reason we didn't set up hot-dog stands in the midst of the Egyptian temple of Karnak is because it was out of the way and served no large commercial purpose. “ pp. 69-70 )
O capitão Wilder, um otimista a acreditar que os colonos terrestres vão aprender a 'lição' (ou seja, ter consciência ecológica ), ainda procura entender as razões para a loucura do tripulante Spender, que passa a se identificar com os marcianos – assim como alguns brancos passam a morar nas aldeias indígenas e adotar nomes e estilos de vida nativos – a ponto de desejar o extermínio dos invasores, os companheiros de expedição. Mas Spender demonstra certa razão na loucura, em sua febril defesa ecológica.
“Nós, os terrestres, temos um talento para arruinar as grandes coisas belas. A única razão pela qual ainda não temos carrinhos de cachorro-quente no meio do templo egípcio de Karnak é porque era meio afastado e não serviria como uma grande empresa comercial.” (“We Earth Men have a talent for ruining big, beautiful things. The only reason we didn't set up hot-dog stands in the midst of the Egyptian temple of Karnak is because it was out of the way and served no large commercial purpose. “ pp. 69-70 )
O capitão Wilder, um otimista a acreditar que os colonos terrestres vão aprender a 'lição' (ou seja, ter consciência ecológica ), ainda procura entender as razões para a loucura do tripulante Spender, que passa a se identificar com os marcianos – assim como alguns brancos passam a morar nas aldeias indígenas e adotar nomes e estilos de vida nativos – a ponto de desejar o extermínio dos invasores, os companheiros de expedição. Mas Spender demonstra certa razão na loucura, em sua febril defesa ecológica.
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“E então outros interesses de poder surgiriam. Os mineradores e os desbravadores. Se lembra do que aconteceu ao México quando Córtez e seus bons amigos chegaram vindo da Espanha? Uma completa civilização destruída por tipos intolerantes e gananciosos. A História nunca perdoará Córtez.” (“And then the other power interests coming up. The mineral men and the travel men. Do you remember what happened to Mexico when Cortez and his very fine good friends arrived from Spain? A whole civilization destroyed by greedy, righteous bigots. History will never forgive Cortez” p. 83)
“O que eu poderia fazer? Discutir com vocês? Sou apenas eu contra todo o deturpado esquema ganancioso da Terra. Eles vão jogar suas sujas bombas atômicas aqui, lutando por bases para fazerem guerras. Não é suficiente que eles tenham arruinado um planeta, sem estar arruinando outro; ainda precisam usurpar a morada de outros? Os fanfarrões idiotas! Quando cheguei aqui senti que não estava apenas livre da assim chamada cultura deles, mas também livre de suas éticas e costumes. Estou fora dos padrões deles, eu pensei. Tudo o que preciso fazer é matar todos vocês e ir viver a minha própria vida.”
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“What could I do? Argue with you? It's simply me against the whole crooked grinding greedy setup on Earth. They'll flopping their filthy atom bombs up here, fighting for bases to have wars. Isn't it enough they've ruined one planet, without ruining another; do they have to foul someone else's manger? The simple-minded windbags. When I got up here I felt I was not only free of their so-called culture, I felt I was free of their ethics and their customs. I'm out of their frame of reference, I thought. All I have to do is kill you all off and live my own life.” p. 83
“E então outros interesses de poder surgiriam. Os mineradores e os desbravadores. Se lembra do que aconteceu ao México quando Córtez e seus bons amigos chegaram vindo da Espanha? Uma completa civilização destruída por tipos intolerantes e gananciosos. A História nunca perdoará Córtez.” (“And then the other power interests coming up. The mineral men and the travel men. Do you remember what happened to Mexico when Cortez and his very fine good friends arrived from Spain? A whole civilization destroyed by greedy, righteous bigots. History will never forgive Cortez” p. 83)
“O que eu poderia fazer? Discutir com vocês? Sou apenas eu contra todo o deturpado esquema ganancioso da Terra. Eles vão jogar suas sujas bombas atômicas aqui, lutando por bases para fazerem guerras. Não é suficiente que eles tenham arruinado um planeta, sem estar arruinando outro; ainda precisam usurpar a morada de outros? Os fanfarrões idiotas! Quando cheguei aqui senti que não estava apenas livre da assim chamada cultura deles, mas também livre de suas éticas e costumes. Estou fora dos padrões deles, eu pensei. Tudo o que preciso fazer é matar todos vocês e ir viver a minha própria vida.”
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“What could I do? Argue with you? It's simply me against the whole crooked grinding greedy setup on Earth. They'll flopping their filthy atom bombs up here, fighting for bases to have wars. Isn't it enough they've ruined one planet, without ruining another; do they have to foul someone else's manger? The simple-minded windbags. When I got up here I felt I was not only free of their so-called culture, I felt I was free of their ethics and their customs. I'm out of their frame of reference, I thought. All I have to do is kill you all off and live my own life.” p. 83
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O desloucado Spender é morto – ou se deixar matar, pois a cena é ambígua para o Capitão e até para o leitor – mas a mensagem estará pairando sobre todo o restante do livro – o que o terráqueos pretendem fazer em Marte/ criar um mundo melhor ou reproduzir as insanidades auto-destrutivas da cultura terrestre?
Marte realmente desperta a imaginação. Na crônica “Encontro Noturno” (Night Meeting), cuja cena se passa em 'agosto de 2002', temos uma espécie de viagem no tempo nos vales de Marte, ou um 'cruzamento', uma 'intersecção', um encontro de dois momentos do Tempo – um ponto onde presente se confunde com o passado.
Pois, um colono terráqueo, de repente, percebe a presença de um nativo marciano. Mas estão em níveis temporais diversos – o marciano está no passado, no apogeu da civilização marciana, e enquanto o marciano narra o esplendor das cidades marcianas e dos canais, o terráqueo descreve as ruínas das mesmas cidades.
Neste 'cruzamento temporal' é evidente a incomunicabilidade – cada um é 'fantasma' para o outro – não podem se entender, muito menos de tocar. O marciano é o Passado em relação ao colono, que é o Futuro em relação ao marciano, cuja civilização encontra-se recentemente extinta.
“Eles apontaram um ao outro, com a luz das estrelas bronzeando seus membros como adagas e cristais de gelo e vaga-lumes, e então avaliaram seus membros novamente, cada um se sentindo intacto, quente, excitado, surpreso, assustado, e o outro, oh sim, que o outro estava lá, irreal, um prisma espectral reluzindo a acumulada luz de mundos distantes.” (“They pointed at each other, with starlinght burning in their limbs like daggers and icicles and fireflies, and then fell to judging their limbs again, each finding himself intact, hot, excited, stunned, awed, and the other, ah, yes, that other over there, unreal, a ghostly prism flashing the accumulated light of distant worlds.” p. 106)
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No filme The Martians Chronicles a cena se passa com o Coronel da Expedição, vejam
http://www.youtube.com/watch?v=wEMWtyAKRhQ
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Novas ondas de colonos se dirigem para Marte, em foguetes que atravessam um espaço de solidão, com tripulantes que nutrem uma esperança de riqueza, assim como os pioneiros das Grandes Navegações atravessavam os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico rumo às Américas, rumo a Austrália, onde os europeus passariam a estabelecer civilizações dependentes da terra-mãe Europa.
O desloucado Spender é morto – ou se deixar matar, pois a cena é ambígua para o Capitão e até para o leitor – mas a mensagem estará pairando sobre todo o restante do livro – o que o terráqueos pretendem fazer em Marte/ criar um mundo melhor ou reproduzir as insanidades auto-destrutivas da cultura terrestre?
Marte realmente desperta a imaginação. Na crônica “Encontro Noturno” (Night Meeting), cuja cena se passa em 'agosto de 2002', temos uma espécie de viagem no tempo nos vales de Marte, ou um 'cruzamento', uma 'intersecção', um encontro de dois momentos do Tempo – um ponto onde presente se confunde com o passado.
Pois, um colono terráqueo, de repente, percebe a presença de um nativo marciano. Mas estão em níveis temporais diversos – o marciano está no passado, no apogeu da civilização marciana, e enquanto o marciano narra o esplendor das cidades marcianas e dos canais, o terráqueo descreve as ruínas das mesmas cidades.
Neste 'cruzamento temporal' é evidente a incomunicabilidade – cada um é 'fantasma' para o outro – não podem se entender, muito menos de tocar. O marciano é o Passado em relação ao colono, que é o Futuro em relação ao marciano, cuja civilização encontra-se recentemente extinta.
“Eles apontaram um ao outro, com a luz das estrelas bronzeando seus membros como adagas e cristais de gelo e vaga-lumes, e então avaliaram seus membros novamente, cada um se sentindo intacto, quente, excitado, surpreso, assustado, e o outro, oh sim, que o outro estava lá, irreal, um prisma espectral reluzindo a acumulada luz de mundos distantes.” (“They pointed at each other, with starlinght burning in their limbs like daggers and icicles and fireflies, and then fell to judging their limbs again, each finding himself intact, hot, excited, stunned, awed, and the other, ah, yes, that other over there, unreal, a ghostly prism flashing the accumulated light of distant worlds.” p. 106)
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No filme The Martians Chronicles a cena se passa com o Coronel da Expedição, vejam
http://www.youtube.com/watch?v=wEMWtyAKRhQ
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Novas ondas de colonos se dirigem para Marte, em foguetes que atravessam um espaço de solidão, com tripulantes que nutrem uma esperança de riqueza, assim como os pioneiros das Grandes Navegações atravessavam os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico rumo às Américas, rumo a Austrália, onde os europeus passariam a estabelecer civilizações dependentes da terra-mãe Europa.
Primeiro chegavam os tripulantes de expedições lideradas por militares, depois vieram os técnicos e os construtores, os engenheiros e os marceneiros, os mineradores, os encarregados-de-obras. Depois os pesquisadores, os cientistas, os intelectuais. E em seguida, chegavam as famílias. E outras famílias, com suas tradições e ambições terrestres.
Os colonos se apropriam das terras, das colinas e vales que outrora abrigaram a majestosa civilização marciana, e agora renomeiam, rebatizam com topônimos terrestres – assim como os europeus re-batizaram as terras e águas dos povos nativos, dos ameríndios – com algumas exceções, pois ainda encontramos alguns lagos e rios com nomes indígenas, por serem tradicionais, adotados pelos desbravadores.
O sentimento de 'posse' do mundo marciano faz com que se estabeleça um 'continuísmo' de tradições e superstições terrestres que são inadequadas em Marte – onde o ser humano (pelo menos para otimista Capitão Wilder) poderia aprender uma nova vida e não repetir os erros do passado, ao destruírem o planeta-mãe, a Terra. Mas parece que as profecias do paranóico Spender se concretizam, pois não tardam as formações de aparatos burocráticos e repressores nos moldes do militarismo e imperialismo terrestres.
Assim os burocratas, a polícia política, os repressores logo descem para trazer 'ordem' e 'disciplina' sobre a colonização. Aqui há uma crônica central - chamada Usher II , numa referência ao conto de Edgar Allan Poe – onde o terror (ainda que técnico-mecanizado) se instala na Ficção Científica. É o modo que o construtor da casa-máquina-mal-assombrada encontra para protestar contra a repressão exercida através da censura contra as obras de arte, contra a literatura, que chega ao extremo de condenar e queimar as 'obras proibidas' – atitude típicas dos regimes totalitários, vejamos o Japão militarista, a Itália fascista, a Alemanha nazista e a Rússia estalinista, a China maoísta.
Encontramos várias referências e citações de contos macabros de Poe, por exemplo, os sete salões de sete cores – Mask of Red Death , o coração pulsante de Tell-Tale Heart, o macaco que enfia o cadáver na chaminé – Murders of the Rue Morgue, o poço e o pêndulo – de O Poço e o Pêndulo, o enterro prematuro do conto de mesmo nome – The Premature Burial , o enterro-emparedamento de O Barril do Amontillado e obviamente A Queda da Casa de Usher.
Além de referências aos Contos de Fadas, sejam dos irmãos Grimm, de Perault ou de Andersen, tais como Rapunzel, e/ou de fantasia, tipo Alice (in Wonderworld), e do Mundo de Oz (O Mágico de Oz, de L. Frank Baum), onde os seres e aberrações são reproduzidos por robôs controlados por um computador integrado à casa-inteligente, que re-cria os enredos de terror e fantasia – para a escândalo das autoridades!
Aqui aparecem robôs, verdadeiros andróides idênticos aos humanos – dificilmente são distinguíveis dos humanos reais – segundo encontramos nas obras de Isaac Asimov, o criador das Leis da Robótica. Claro, que aqui os robôs tem algo de sinistro, de unheimilich, segundo percebemos.
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Mais sobre os Robôs de Asimov em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_da_Robótica
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O idealizador da casa, um milionário excêntrico - cujo nome em composto de nomes evocativos de autores famosos , assim como outros personagens aqui – William Stendahl procura se vingar das autoridades, dos burocratas repressores, que incendiaram seus livros, ao promover agora uma 'escandalosa' festa das bruxas, um Halloween subversivo.
“Sim, eu e minha biblioteca. E uns poucos iguais a mim. Oh, Poe foi esquecido há muito tempo, e Oz e as criaturas. Mas eu tenho minha reserva modesta. Nós tínhamos nossas bibliotecas, uns poucos cidadãos livres, até vocês enviarem seus homens com tochas e incineradores e empilharem milhares de livros e queimando-os todos. Do jeito que enfiaram uma estaca no coração de Halloween e disseram aos seus produtores de cinema que se eles fizessem algo que deveriam é filmar e refilmar Ernest Hemingway. Ó Céus! Quantas vezes eu vi 'Por quem os Sinos Dobram?'! Umas trinta versões diferentes. Todas realistas. Oh, o Realismo! Oh, eis, oh, que inferno!” (Usher II)
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“Yes, me and my library. And a few others like me. Oh, Poe's been forgotten for many years now, and Oz and the creatures. But I had my little cache. We had our libraries, a few private citizens, until you sent your men around with torches and incinerators and tore my fifty thousand books up and burned them. Just as you put a stake through the heart of Halloween and told your film producers that if they made anything at all they would have to make and remake Ernest Hemingway. My God, how many times have I seen For Whom the Bells Tolls done! Thirty different versions. All realistic. Oh, realism! Oh, here, oh, now, oh hell!” pp. 172-173
Eis as figuras eficientes e sombrias dos bombeiros que incendeiam livros – de bibliotecas inteiras, sejam públicas ou particulares. Será a temática central de outra obra clássica de Bradbury, “Fahrenheit 451”, que será abordada na categoria Distopias, em Meu Cânone Ocidental.
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Info sobre Fahrenheit 451
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fahrenheit_451
http://recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/504918
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Podemos tecer algumas comparações internas entre os contos/crônicas, quanto as temáticas e obsessões que cercam os invasores e os poucos nativos marcianos sobreviventes – no presente ou no passado – por exemplo nos contos/crônicas “O Marciano” e “A Terceira Expedição”. Ambos tratam do poder telepático dos marcianos e como tal poder vem agir sobre os terráqueos.
As identidades dos marcianos se adaptam aos desejos e expectativas dos terráqueos. Os marcianos telepaticamente 'colhem' os desejos e ambições na mente do terrestre e por telepatia e hipnose 'convencem' o outro que ele/ela (marciano/a) é quem o outro espera que ele/ela seja!
Eu sou quem você quer que eu seja! E ambos os contos falam de sonhos e entes perdidos, de imagens do passado que 'assombram' os expedicionários cheios de repressões e saudosismos. Os marcianos aprendem assim a 'manipular' as obsessões dos terrestres contra os próprios terrestres!
As casas, os móveis , as pessoas tudo é 'recriado' a partir das imagens dolorosas e obsessivas das mentes dos visitantes. Para os marcianos é fácil fazer a confusão ideia-realidade: o que o terráqueo pensa e deseja é prontamente encontrado: amores do passado, um irmão que morreu na juventude, uma avó querida, uma família já desfeita.
Info sobre Fahrenheit 451
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fahrenheit_451
http://recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/504918
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Podemos tecer algumas comparações internas entre os contos/crônicas, quanto as temáticas e obsessões que cercam os invasores e os poucos nativos marcianos sobreviventes – no presente ou no passado – por exemplo nos contos/crônicas “O Marciano” e “A Terceira Expedição”. Ambos tratam do poder telepático dos marcianos e como tal poder vem agir sobre os terráqueos.
As identidades dos marcianos se adaptam aos desejos e expectativas dos terráqueos. Os marcianos telepaticamente 'colhem' os desejos e ambições na mente do terrestre e por telepatia e hipnose 'convencem' o outro que ele/ela (marciano/a) é quem o outro espera que ele/ela seja!
Eu sou quem você quer que eu seja! E ambos os contos falam de sonhos e entes perdidos, de imagens do passado que 'assombram' os expedicionários cheios de repressões e saudosismos. Os marcianos aprendem assim a 'manipular' as obsessões dos terrestres contra os próprios terrestres!
As casas, os móveis , as pessoas tudo é 'recriado' a partir das imagens dolorosas e obsessivas das mentes dos visitantes. Para os marcianos é fácil fazer a confusão ideia-realidade: o que o terráqueo pensa e deseja é prontamente encontrado: amores do passado, um irmão que morreu na juventude, uma avó querida, uma família já desfeita.
“Mas eu devo considerar estas pessoas agora. Como elas se sentiriam se, de manhã, eu fosse embora novamente, quando tudo ia bem? De qualquer modo, a mãe sabe quem eu sou; ela percebeu, do mesmo modo que você. Acho que eles percebem, mas não questionam. Você não questiona a Providência. Se você não pode ter a realidade, um sonho é tão bom quanto. Talvez eu não seja a morta que voltou, mas sou algo quase melhor para eles; um ideal formatado pela mente deles. Eu tenho que escolher entre magoá-los ou magoar a sua esposa.” diz o marciano-mutante em “O Marciano”, quando um colono, pai saudoso, insiste que o pequeno ser pode ser seu filho, seu falecido filho, o ente querido que ele deseja de volta.
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“But I must consider these people now. How would they feel if, in the morning. I was gone again, this time for good? Anyway, the mother knows what I am; she guessed, even as you did. I think they all guessed but didn't question. You don't question Providence. If you can't have the reality, a dream is just as good. Perhaps I'm not their dead one back, but I'm something almost better to them; an ideal shaped by their minds. I have a choice of hurting them or your wife.” p. 198
Vivemos agora, nos anos 2000, a época da ficção de Bradbury. Nos anos 50, o Autor julgava que a Terra – em 2005 – teria 2 bilhões de habitantes. Ele certamente errou feio! Será que ele poderia imaginar que vinte anos antes dessa data já seríamos uns 5 bilhões? A ficção, afinal, não é exercício de futurologia ou profecia, mas um ideal de futuro – ou ideal invertido, nas Distopias – quando percebemos o que as gerações anteriores esperam das gerações seguintes.
“But I must consider these people now. How would they feel if, in the morning. I was gone again, this time for good? Anyway, the mother knows what I am; she guessed, even as you did. I think they all guessed but didn't question. You don't question Providence. If you can't have the reality, a dream is just as good. Perhaps I'm not their dead one back, but I'm something almost better to them; an ideal shaped by their minds. I have a choice of hurting them or your wife.” p. 198
Vivemos agora, nos anos 2000, a época da ficção de Bradbury. Nos anos 50, o Autor julgava que a Terra – em 2005 – teria 2 bilhões de habitantes. Ele certamente errou feio! Será que ele poderia imaginar que vinte anos antes dessa data já seríamos uns 5 bilhões? A ficção, afinal, não é exercício de futurologia ou profecia, mas um ideal de futuro – ou ideal invertido, nas Distopias – quando percebemos o que as gerações anteriores esperam das gerações seguintes.
O que um Autor dos anos 50 pensava sobre a época em que vivemos agora? Há um tom de ironia amarga, ainda que algum otimismo – há tecnologia para levar os colonos a Marte, logo ainda não voltamos a Idade Média da barbárie, pelo menos no que diz respeito a tecnologia, porque quanto ao respeito ao meio-ambiente ainda precisamos aprender muito.
Notamos a indiferença ecológica dos colonos, por exemplo, no conto “A Baixa Estação” que trata de um tripulante da 4ª Expedição (o conto “E a Lua ainda brilha...”), um ex-militar que se torna vendedor de hot-dogs! O que é isso? Marte a se tornar o país do fast-food? Mais descartáveis para os recém-inaugurados lixões de Marte? Mas o comerciante tem a companhia dos poucos marcianos sobreviventes, não mais que 150... (Os marcianos que agora podem ser comparados aos povos nativos das Américas – povos indígenas – que foram exterminados ao longo da colonização europeia.) Os sobreviventes, sempre encarados como hostis, e exterminados, apenas desejam avisar das calamidades da própria Terra.
O conto/crônica Os longos anos – com data de Abril de 2026 - também sobre a 4ª Expedição, aquela do Capitão Wilder, sempre referencial. O Capitão que retornaria então de uma expedição até Júpiter, Saturno e Netuno! (Como eram otimistas – e irônicos? - estes autores de Sci Fi nos anos 40 e 50! ) O tempo passa e comprova que os produtos terrestres são descartáveis – desaparecem antes das antiquíssimas cidades marcianas, depois que os moradores teriam retornado para a Terra, quando estourou outra Grande Guerra em escala mundial. A terceira ou quarta guerra, não sabemos, que guerra é um vício explosivo que os povos ditos civilizados não podem evitar...
Encontramos novamente a temática dos robôs – aqui a família de andróides a ocupar o lugar da família humana – a dependência dos humanos em relação às máquinas – a angústia da solidão no meio do planeta novamente deserto. Afinal, o pano de fundo é a guerra global – o fim da Terra? – quando os colonos abandonam Marte e retornam ao planeta natal em extertores! A Terra que perde novamente os habitantes para o terror das guerras – agora atômicas, em hecatombes nucleares, presentes na paranoia da Guerra Fria – pano de fundo da 'Corrida Espacial'.
Sentimos o desamparo do ser humano no angustiante conto “Chegarão chuvas suaves” (“There will come soft rains”) onde uma casa-inteligente se move sozinha, a operar o cotidiano de uma família de classe média que faleceu com os ataques. O computador central está intacto e continua executando todas as tarefas – enquanto nada mais resta dos moradores da casa.
“Até este dia, a casa mantivera bem a sua calma. Quão cuidadosamente perguntava. 'Quem vem lá? Qual a senha?' e, não tendo respostas de raposas solitárias e gatos lamuriantes, ela fechava as janelas e descia as persianas numa preocupação de velha-governanta com tanta proteção que beirava uma paranóia mecânica.”
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“Until this day, how well the house had kept its peace. How carefully it had inquiered. 'Who goes there? What's the password?' and, getting no answer from lonely foxes and whining cats, it had shut up its windows and drawn shades in an old-maidenly preoccupation with self-protection which bordered on a mechanical paranoia.” p. 250
É em plena Grande Guerra com o bombardeamento de London, New York, e o total arrasamento da Austrália – que os terráqueos percebem que a civilizações são mortais... Os colonos retornam ao planeta-mãe, mas inutilmente, a guerra é inevitável e global. Quem sobreviver, buscará abrigo no planeta-vermelho, de onde contemplam a Terra agonizante.
“Timothy olhou para o profundo céu oceânico, tentando ver a Terra e a guerra e as cidades em ruínas e os homens matando uns aos outros desde o dia em que ele nasceu. Mas ele nada via. A guerra estava bem longe igual a duas moscas lutando até a morte no arco de uma grande e silenciosa catedral. E sem qualquer sentido.”
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“Timothy looked at the deep ocean sky, trying to see Earth and the war and the ruined cities and the men killing each other since the day he was born. But he saw nothing. The war was as removed and far off as two flies battling to the death in the arch of a great high and silent cathedral. And just as senseless.” pp. 257-258
Assim os terrestres sobreviventes preferem roubar os foguetes que sobraram e seguir rumo a Marte, com o propósito de começarem uma nova civilização, que supere aquela terrestre, numa nova colônia agora de novos marcianos. A família recém-chegada admira a solidão e a paz do novo mundo. “Eles ficaram lá, Reis da Colina, Topo da Elite, Governantes de Tudo O Que Descobriam, Monarcas Absolutos e Presidentes, tentando entender o que significa ter um mundo e quão grande um mundo realmente era.” (“They stood there, King of the Hill, Top of the Heap, Ruler of All They Surveyed, Unimpeachable Monarchs and Presidents, trying to understand what it meant to own a world and how big a world really was.” p. 265)
Abr/mai/11
Leonardo de Magalhaens
http://leoliteraturaescrita.blogspot.com/
Mais sobre As Crônicas Marcianas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Crônicas_Marcianas
Alguns filmes sobre viagens espaciais
e sobre colonização de Marte
filme baseado em “Martian Chronicles”
The Martian Chronicles
série anos 80
http://www.youtube.com/watch?v=wEMWtyAKRhQ
http://www.disclose.tv/action/viewvideo/56210/the_martian_chronicles_1980__ep1_pt1_6/
Outros videos
http://wn.com/Ray_Bradbury__The_Martian_Chronicles
Alguns filmes sobre choques de civilizações
com os terrestres rumo a outros planetas
Solaris
1972
http://www.youtube.com/watch?v=1Tob56MebI8&feature=related
2001
http://www.youtube.com/watch?v=J2i9BjClEX8&feature=related
Blade Runner (1982)
http://www.youtube.com/watch?v=KPcZHjKJBnE&feature=fvst
Total Recall (1990)
(no Brasil: O Vingador do Futuro)
http://www.youtube.com/watch?v=WFMLGEHdIjE&feature=related
Avatar (2009)
http://www.youtube.com/watch?v=d1_JBMrrYw8
Quando os marcianos invadem a Terra
War of the Worlds
(baseados na obra de H. G. Wells)
1953
http://www.youtube.com/watch?v=P9T9f3UbGuo&feature=related
2005
http://www.youtube.com/watch?v=MJYnHA2OzfA&feature=related
Independence Day (1996)
http://www.youtube.com/watch?v=NZZvtQtdbzM
The Salena Incident (2005)
http://www.youtube.com/watch?v=kHQqanIAcPw
Skyline (2010)
http://www.youtube.com/watch?v=qdOGJi5Sne4
Battle Los Angeles (2011)
http://www.youtube.com/watch?v=ORb3zC8z94w
Algumas obras musicais inspiradas em Marte
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o cantor inglês David Bowie se celebrizou pelo álbum de 1972
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars
e as canções “Life on Mars?”, “Starman” , “Space Oddity”
e “Ziggy Stardust”
http://www.youtube.com/watch?v=cpvpNFLqH74&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=muMcWMKPEWQ&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=XXq5VvYAI1Q&feature=related
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A banda húngara Solaris gravou em 1984 o álbum Marsbéli Kronikak
que significa justamente “Martian Chronicles”
http://www.youtube.com/watch?v=EJQsBL6vEk4&feature=related
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O projeto musical prog-metal Ayreon tem também um álbum conceitual
(The Universal Migrator, 2000) com cenário em Marte
http://www.youtube.com/watch?v=Yqqsbd9ZYmw
LdeM
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