sobre “A Máquina do Tempo” (“The Time Machine”, 1895)
obra de H G Wells (1866-1946)
A Literatura para viajar no Tempo
obra de H G Wells (1866-1946)
A Literatura para viajar no Tempo
2:2
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Ao tecer considerações sociológicas sobre o mundo futuro – o sistema comunal, os aspectos físicos, a ausência de grupos familiares, o estado de bem-estar e segurança (ou antes, a ausência de violência), e de que como a tal segurança geraria a estabilidade e a posterior debilidade, com os seres incapazes de se defenderem (Afinal, defenderem-se de que? Ou de quem?), o Viajante-Narrador ocupa-se em construir um esquema investigativo sobre que mundo era (ou será!) aquele do futuro. Algo inexplicado exige uma observação apurada, um instinto de detetive.
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Como se descreveria sociologicamente tal civilização? Um mundo de comunismo? Que tipo de 'comunismo'? Aqueles Elois seriam os habitantes do mundo perfeito onde tudo é compartilhado e não há diferenças nem necessidades? Haveria afinal um equilíbrio entre civilização e natureza? Não havendo, portanto, conflitos sociais, nem política nem arte. Os Elois são débeis e acomodados porque vivem num mundo 'pacificado', e não há mais 'luta pela vida'. São hipóteses.
Como se descreveria sociologicamente tal civilização? Um mundo de comunismo? Que tipo de 'comunismo'? Aqueles Elois seriam os habitantes do mundo perfeito onde tudo é compartilhado e não há diferenças nem necessidades? Haveria afinal um equilíbrio entre civilização e natureza? Não havendo, portanto, conflitos sociais, nem política nem arte. Os Elois são débeis e acomodados porque vivem num mundo 'pacificado', e não há mais 'luta pela vida'. São hipóteses.
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Na verdade, ao longo da 'investigação' ele vem descobrir a existência de outro povo além dos Elois. Mais abaixo da superfície estão os trogloditas do futuro – os Morlocks. Quais as relações entre os dois povos? Quem 'domesticou' quem? Quem domina quem? A Raça superior expulsou a raça inferior para as cavernas? Ou a raça das cavernas cria a raça de nobres como se não passasse de um gado bem engordado? Eis as dúvidas e angústias do Viajante.
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Os Elois não tem medo de morrer afogados, nem se importam em assistir alguém morrer afogado. Eles não têm individualidade (pelo menos como nós a entendemos), vivem em casas coletivas. Têm fartura de alimentos naturais, e roupas leves – um classicismo helênico meio arcadista? Parece tudo bem. Mas por que tanto medo do entardecer, do cair da noite?
“Eu pensava sobre a debilidade física das pessoas, a falta de inteligência, e sobre aquelas grandiosas e abundantes ruínas, e isto fortalecia minha crença numa perfeita conquista da Natureza. E após a batalha veio a calma. A Humanidade tinha sido forte, enérgica, e inteligente, e tinha se acostumado em abundante vitalidade a alterar as condições sob as quais tinha vivido. E agora veio a reação das condições alteradas.
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“Sob as novas condições de perfeito conforto e segurança, aquela energia inquieta, que junto a nós era força, se tornaria em fraqueza. Mesmo em nossa própria época certas tendências e desejos, uma vez necessárias para a sobreviver, são uma constante fonte de fracasso. Coragem física e o amor da batalha, por exemplo, não são de grande ajuda – seriam até mesmo obstáculos – para o homem civilizado. E num estado de equilíbrio físico e segurança, poder, tanto intelectual como físico, estaria fora de lugar. Durante incontáveis eras eu imaginava que não houvera qualquer perigo de guerra ou violência solitária, nenhum perigo vindo de animais selvagens, nenhuma doença a exigir um saúde robusta, nenhuma necessidade de esforço. Para tal vida, que diríamos estarem tão bem equipados os fracos quanto os fortes, seria, realmente, não mais que enfraquecer. Melhor preparados eles seriam, pois os fortes seriam atormentados por um energia para a qual não teria válvula de escape. Sem dúvida a exótica beleza das construções que eu vira eram o efeito dos últimos esforços da nova energia sem rumos da humanidade antes de encontrar-se em perfeita harmonia com as condições sob as quais vivia – o florescer do triunfo que inaugurava a última grande paz. Este havia sido o destino da energia num mundo de segurança; levou à arte e ao erotismo, e então sucedeu a languidez e decadência.
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"I thought of the physical slightness of the people, their lack of intelligence, and those big abundant ruins, and it strengthened my belief in a perfect conquest of Nature. For after the battle comes Quiet. Humanity had been strong, energetic, and intelligent, and had used all its abundant vitality to alter the conditions under which it lived. And now came the reaction of the altered conditions.
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"Under the new conditions of perfect comfort and security, that restless energy, that with us is strength, would become weakness. Even in our own time certain tendencies and desires, once necessary to survival, are a constant source of failure. Physical courage and the love of battle, for instance, are no great help—may even be hindrances—to a civilized man. And in a state of physical balance and security, power, intellectual as well as physical, would be out of place. For countless years I judged there had been no danger of war or solitary violence, no danger from wild beasts, no wasting disease to require strength of constitution, no need of toil. For such a life, what we should call the weak are as well equipped as the strong, are, indeed, no longer weak. Better equipped indeed they are, for the strong would be fretted by an energy for which there was no outlet. No doubt the exquisite beauty of the buildings I saw was the outcome of the last surgings of the now purposeless energy of mankind before it settled down into perfect harmony with the conditions under which it lived—the flourish of that triumph which began the last great peace. This has ever been the fate of energy in security; it takes to art and to eroticism, and then come languor and decay. Cap. 5
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Somente os belos e pacíficos – mas um tanto 'abobados' – Elois habitam as ruínas esplendorosas do mundo futuro? Mas e os animais meio-humanóides que rondam as habitações coletivistas do Elois? Seres notívagos que odeiam a luz. Serão animais de caça dos Elois? Serão seres mutantes expulsos da civilização ?
O Viajante descobre que existem duas 'raças' : os Elois, os da superfície, e os Morlocks, aqueles dos subterrâneos – os nobres e os párias – como consequência da 'divisão social do trabalho' e da desigualdade social – é também um tema no filme norte-americano “Demoliton Man” (de 1993, no Brasil “O Demolidor”) com Sylvester Stallone, onde na cidade alta vive os pomposos cidadãos, enquanto nos 'subúrbios' subterrâneos toda uma 'gentalha' de marginais, contraventores sobrevive fora das vistas. Na superfície os cidadão sob um governo asséptico e paternalista, sem crimes e sem violência, enquanto sob as solas de seus sapatos o literalmente 'submundo' é a imagem contrária – impera a lei do mais forte.
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Assim, na Los Angeles de 2032 do filme, há a 'civilização' (com o Sr. Governador, ou líder paternalista, um Doutor 'esclarecido') enquanto os que habitam o submundo são uma espécie de resistência ao mundo normatizado da superfície. Assim também no filme (também norte-americano “Equilibrium”, 2002), onde os poderosos neutralizam as emoções, enquanto os marginais traficam obras-de-arte, romances clássicos, em suma, tudo o que pode causar emoção estética. (Abordaremos este filme nos ensaios sobre as Distopias, ou Utopias-invertidas)
Na verdade, ao longo da 'investigação' ele vem descobrir a existência de outro povo além dos Elois. Mais abaixo da superfície estão os trogloditas do futuro – os Morlocks. Quais as relações entre os dois povos? Quem 'domesticou' quem? Quem domina quem? A Raça superior expulsou a raça inferior para as cavernas? Ou a raça das cavernas cria a raça de nobres como se não passasse de um gado bem engordado? Eis as dúvidas e angústias do Viajante.
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Os Elois não tem medo de morrer afogados, nem se importam em assistir alguém morrer afogado. Eles não têm individualidade (pelo menos como nós a entendemos), vivem em casas coletivas. Têm fartura de alimentos naturais, e roupas leves – um classicismo helênico meio arcadista? Parece tudo bem. Mas por que tanto medo do entardecer, do cair da noite?
“Eu pensava sobre a debilidade física das pessoas, a falta de inteligência, e sobre aquelas grandiosas e abundantes ruínas, e isto fortalecia minha crença numa perfeita conquista da Natureza. E após a batalha veio a calma. A Humanidade tinha sido forte, enérgica, e inteligente, e tinha se acostumado em abundante vitalidade a alterar as condições sob as quais tinha vivido. E agora veio a reação das condições alteradas.
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“Sob as novas condições de perfeito conforto e segurança, aquela energia inquieta, que junto a nós era força, se tornaria em fraqueza. Mesmo em nossa própria época certas tendências e desejos, uma vez necessárias para a sobreviver, são uma constante fonte de fracasso. Coragem física e o amor da batalha, por exemplo, não são de grande ajuda – seriam até mesmo obstáculos – para o homem civilizado. E num estado de equilíbrio físico e segurança, poder, tanto intelectual como físico, estaria fora de lugar. Durante incontáveis eras eu imaginava que não houvera qualquer perigo de guerra ou violência solitária, nenhum perigo vindo de animais selvagens, nenhuma doença a exigir um saúde robusta, nenhuma necessidade de esforço. Para tal vida, que diríamos estarem tão bem equipados os fracos quanto os fortes, seria, realmente, não mais que enfraquecer. Melhor preparados eles seriam, pois os fortes seriam atormentados por um energia para a qual não teria válvula de escape. Sem dúvida a exótica beleza das construções que eu vira eram o efeito dos últimos esforços da nova energia sem rumos da humanidade antes de encontrar-se em perfeita harmonia com as condições sob as quais vivia – o florescer do triunfo que inaugurava a última grande paz. Este havia sido o destino da energia num mundo de segurança; levou à arte e ao erotismo, e então sucedeu a languidez e decadência.
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"I thought of the physical slightness of the people, their lack of intelligence, and those big abundant ruins, and it strengthened my belief in a perfect conquest of Nature. For after the battle comes Quiet. Humanity had been strong, energetic, and intelligent, and had used all its abundant vitality to alter the conditions under which it lived. And now came the reaction of the altered conditions.
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"Under the new conditions of perfect comfort and security, that restless energy, that with us is strength, would become weakness. Even in our own time certain tendencies and desires, once necessary to survival, are a constant source of failure. Physical courage and the love of battle, for instance, are no great help—may even be hindrances—to a civilized man. And in a state of physical balance and security, power, intellectual as well as physical, would be out of place. For countless years I judged there had been no danger of war or solitary violence, no danger from wild beasts, no wasting disease to require strength of constitution, no need of toil. For such a life, what we should call the weak are as well equipped as the strong, are, indeed, no longer weak. Better equipped indeed they are, for the strong would be fretted by an energy for which there was no outlet. No doubt the exquisite beauty of the buildings I saw was the outcome of the last surgings of the now purposeless energy of mankind before it settled down into perfect harmony with the conditions under which it lived—the flourish of that triumph which began the last great peace. This has ever been the fate of energy in security; it takes to art and to eroticism, and then come languor and decay. Cap. 5
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Somente os belos e pacíficos – mas um tanto 'abobados' – Elois habitam as ruínas esplendorosas do mundo futuro? Mas e os animais meio-humanóides que rondam as habitações coletivistas do Elois? Seres notívagos que odeiam a luz. Serão animais de caça dos Elois? Serão seres mutantes expulsos da civilização ?
O Viajante descobre que existem duas 'raças' : os Elois, os da superfície, e os Morlocks, aqueles dos subterrâneos – os nobres e os párias – como consequência da 'divisão social do trabalho' e da desigualdade social – é também um tema no filme norte-americano “Demoliton Man” (de 1993, no Brasil “O Demolidor”) com Sylvester Stallone, onde na cidade alta vive os pomposos cidadãos, enquanto nos 'subúrbios' subterrâneos toda uma 'gentalha' de marginais, contraventores sobrevive fora das vistas. Na superfície os cidadão sob um governo asséptico e paternalista, sem crimes e sem violência, enquanto sob as solas de seus sapatos o literalmente 'submundo' é a imagem contrária – impera a lei do mais forte.
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Assim, na Los Angeles de 2032 do filme, há a 'civilização' (com o Sr. Governador, ou líder paternalista, um Doutor 'esclarecido') enquanto os que habitam o submundo são uma espécie de resistência ao mundo normatizado da superfície. Assim também no filme (também norte-americano “Equilibrium”, 2002), onde os poderosos neutralizam as emoções, enquanto os marginais traficam obras-de-arte, romances clássicos, em suma, tudo o que pode causar emoção estética. (Abordaremos este filme nos ensaios sobre as Distopias, ou Utopias-invertidas)
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“Debaixo dos meus pés, então, a terra devia estar cheia de túneis em vasta extensão, e nestas cavernas vivia a nova raça. A presença dos poços e dutos de ventilação que emergiam ao longo da colina – de fato, por todo o lado, exceto no vale – mostrava o quão amplas eram as ramificações do mundo subterrâneo.
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“E era natural assumir que era no mundo subterrâneo que se realizava o trabalho que não se realizava no mundo da superfície. Era tão plausível que aceitei sem hesitar. A partir do que continuei até assumir que a separação das espécies humanas acontecera. Ousaria dizer que vocês que antecipam a forma que minha teoria apresenta, apesar de sentir há ainda pouco de verdade no caso.
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“Mas, de início, a começar pelos problemas de nossa própria era, parecia-me tão claro como o dia que o avanço gradual das diferenças temporais e sociais entre os capitalistas e os trabalhadores era a chave da explicação. Sem dúvida isso pareceria suficientemente grotesco para vocês a ponto de ser inacreditável, e ainda mesmo agora existem circunstâncias que apontam o caminho que as coisas seguirão. Há uma tendência ampla de se utilizar os espaços subterrâneos para os propósitos menos ornamentais da civilização; há o metrô de Londres, por exemplo, e todas estas novas ferrovias elétricas; e os metrôs, e as oficinas e os restaurantes nos subsolos, etc. Evidentemente, eu pensei que tal tendência teria crescido até que a indústria tivesse gradualmente perdido qualquer visão da luz do dia, com fábricas cada vez maiores no subterrâneo, nas quais os trabalhadores passariam a maior parte dos tempo. Atualmente, um trabalhador de East End vive em tais condições artificiais que praticamente o exilam da superfície natural da terra e da vida a céu aberto.”
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"Beneath my feet, then, the earth must be tunneled out to an enormous extent, and in these caverns the new race lived. The presence of ventilating shafts and wells all along the hill slopes—everywhere, in fact, except along the river valley—showed how universally the ramifications of the underworld extended.
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"And it was natural to assume that it was in the underworld that the necessary work of the overworld was performed. This was so plausible that I accepted it unhesitatingly. From that I went on to assume how the splitting of the human species came about. I dare say you will anticipate what shape my theory took, though I soon felt it was still short of the truth of the case.
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"But at first, starting from the problems of our own age, it seemed as clear as daylight to me that the gradual widening of the present merely temporary and social difference of the capitalist from the laborer was the key to the explanation. No doubt it will seem grotesque enough to you and wildly incredible, and yet even now there are circumstances that point in the way things have gone. There is a tendency plainly enough to utilize underground space for the less ornamental purposes of civilization; there is the Metropolitan Railway in London, for instance, and all these new electric railways; there are subways, and underground workrooms, restaurants, and so forth. Evidently, I thought, this tendency had increased until industry had gradually lost sight of the day, going into larger and larger underground factories, in which the workers would spend an increasing amount of their time. Even now, an East End worker lives in such artificial conditions as practically to be cut off from the natural surface of the earth and the clear sky altogether. Cap. 7
Temos então duas raças que se originaram de duas classes sociais. Uma segmentação que se radicalizou ao longo dos milênios. Os aristocratas, os burgueses se destacam das 'classes médias' e operárias – de forma que há um 'isolamento geográfico'- os 'belos' habitam a superfície, enquanto os 'malditos' moram nos subterrâneos.
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Aqui há toda uma denúncia de cunho socialista-marxista que se utiliza de uma narrativa de Ficção Científica: a divisão social entre donos do Capital e os donos da Força de Trabalho que se radicaliza até a formação de suas raças – uma humana abobalhada e outra sub-humana predadora! Esta divisão era tema de múltiplas teses sérias no fim do século 19 e início do 20 – época da publicação de “The Time Machine” - e que se perderiam do rumo ao longo da Guerra Fria e da Pax Americana.
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A Literatura aqui se utiliza de um terror futurístico para fazer uma denúncia de um mal-estar atual: assim como temos hoje a literatura e os filmes apocalípticos de caos ecológico e fim-do-mundo em névoas tóxicas. O recurso de se apresentar um futuro distópico – ou seja, não perfeito, mas ameaçador – é um fascínio mórbido que leva ao esperado despertar das gerações atuais – antes que o 'previsto' caos aconteça.
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Contudo, diferente do que esperavam os socialistas de outrora, a Humanidade não se segmentou: novas camadas sócias foram se 'ensanduichando' entre os Burgueses e os Proletários. Temos os burocratas (que até formou uma 'nova classe' na URSS), temos os pequenos-burgueses, temos os profissionais-liberais, temos os políticos, temos os artistas, temos a aristocracia operária (os operários qualificados, os sindicalistas, etc).
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Por outro lado, a exploração, o trabalho exaustivo, a guerra de finanças, a Mais-Valia, e a Alienação não se extinguiram – tudo ficou mais sutil e digestivo. Alguns ganham mais do que outros e aceitam assim o mundo que explora os demais 'assalariados'. Ninguém se preocupa com os proletários a não ser os próprios proletários – enquanto os pequenos-burgueses sonham em ser os burgueses de amanhã.
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Mas os Morlocks não tiveram chance. Foram deformados pela vida subterrânea ao longo de milênios, num isolamento que impossibilitou qualquer 'miscigenação', no que se produz uma outra sub-raça. Ao contrário dos Elois, seres domesticados, os Morlocks são seres selvagens. Possuem pêlos e garras, e dentes próprios de bestas carnívoras. Aliás, de onde vem a carne para o banquete bárbaro das criaturas do subsolo? A verdade é atordoante.
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“A visão que eu tive desta caverna foi aquela possível enquanto queimava-se o fósforo. Minha lembrança do que vi é agora um tanto vaga. Grandes formas como se fossem máquinas se destacavam no escuro e projetava estranhas sombras, nas quais os espectrais Morlocks se escondiam do clarão. A propósito, o lugar era abafado e opressivo, e o ligeiro hálito de sangue fresco derramado pairava no ar. Logo abaixo no área central estava uma pequena mesa de metal branco sobre a qual parecia estar uma refeição. Os Morlocks eram assim carnívoros. Mesmo naquele momento eu lembro de pensar que animal de grande porte poderia ter sobrevivido para prover as rubras juntas que eu percebi. Era bem indistinto, o cheiro denso, as grandes formas vagas, as figuras esbranquiçadas que se escondiam nas sombras, e apenas esperando a escuridão para avançar novamente. Então o fósforo ardeu até queimar-me os dedos e caiu, uma faísca sinuosa no escuro.
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“Pensei no quão mal esquipado eu estava. Quando eu começara a Máquina do Tempo eu tinha a absurda suposição de que os homens do futuro certamente estaria a nossa frente em todos os seus desenvolvimentos. Eu tinha vindo sem armas, sem remédio, sem algo para fumar – às vezes eu sentia falta de uma cigarro, - mesmo sem fósforos suficientes. Se eu tivesse ao menos pensado numa câmera fotográfica! Eu poderia ter disparo o flash que iluminaria o subterrâneo num segundo e examinar com calma. Mas o caso é que eu lá estava apenas com as armas que a natureza me dera – mãos, pés, e dentes – exceto os quatro últimos fósforos que eu ainda tinha.
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"The view I had of this cavern was as much as one could see in the burning of a match. Necessarily my memory of it is very vague. Great shapes like big machines rose out of the dim and threw grotesque black shadows, in which the spectral Morlocks sheltered from the glare. The place, by the bye, was very stuffy and oppressive, and the faint halitus of freshly shed blood was in the air. Some way down the central vista was a little table of white metal upon which a meal seemed to be spread. The Morlocks at any rate were carnivorous. Even at the time I remember thinking what large animal could have survived to furnish the red joint I saw. It was all very indistinct, the heavy smell, the big unmeaning shapes, the white figures lurking in the shadows, and only waiting for the darkness to come at me again. Then the match burned down and stung my fingers and fell, a wriggling red spot in the black.
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"I have thought since how particularly ill equipped I was. When I had started with the Time Machine I had started with the absurd assumption that the men of the future would certainly be infinitely in front of us in all their appliances. I had come without arms, without medicine, without anything to smoke,—at times I missed tobacco frightfully,—even without enough matches. If I had only thought of a kodak! I could have flashed that glimpse of the underworld a second and examined it at leisure. But as it was, I stood there with only the weapons and powers that Nature had endowed me with—hands, feet, and teeth—except four safety matches that still remained to me. Cap. 8
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Se os Morlocks são carnívoros, e não havendo mais animais de grande porte sobre a Terra, só restam mesmo os Elois, que passam a ser a fonte de alimentação – ou seja, os belos seres da superfície são mesmo o 'gado' dos que vivem nos subsolos.
Horrorizado diante da Distopia – a Utopia desfeita, arruinada – O Viajante precisa enfrentar os Morlocks para sobreviver e recuperar a Máquina do Tempo. É o momento de aventura que revela o herói no Narrador. Um pouco de aventura num livro excessivamente 'sociológico', digamos.
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Cumprindo seu dever de herói, o Viajante adentra o covil dos humanóides-trogloditas subterrâneos e se apossa da Máquina do Tempo, segundos antes de ser cercado. Ele reativa o mecanismo temporal e consegue se livrar da armadilha. Mas acaba avançando mais e mais no futuro até um momento em que a Terra estará mesmo arruinada, onde seres semelhantes a gigantescos caranguejos rastejam iguais a lesmas nas praias de um mar já falecido.
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“Debaixo dos meus pés, então, a terra devia estar cheia de túneis em vasta extensão, e nestas cavernas vivia a nova raça. A presença dos poços e dutos de ventilação que emergiam ao longo da colina – de fato, por todo o lado, exceto no vale – mostrava o quão amplas eram as ramificações do mundo subterrâneo.
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“E era natural assumir que era no mundo subterrâneo que se realizava o trabalho que não se realizava no mundo da superfície. Era tão plausível que aceitei sem hesitar. A partir do que continuei até assumir que a separação das espécies humanas acontecera. Ousaria dizer que vocês que antecipam a forma que minha teoria apresenta, apesar de sentir há ainda pouco de verdade no caso.
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“Mas, de início, a começar pelos problemas de nossa própria era, parecia-me tão claro como o dia que o avanço gradual das diferenças temporais e sociais entre os capitalistas e os trabalhadores era a chave da explicação. Sem dúvida isso pareceria suficientemente grotesco para vocês a ponto de ser inacreditável, e ainda mesmo agora existem circunstâncias que apontam o caminho que as coisas seguirão. Há uma tendência ampla de se utilizar os espaços subterrâneos para os propósitos menos ornamentais da civilização; há o metrô de Londres, por exemplo, e todas estas novas ferrovias elétricas; e os metrôs, e as oficinas e os restaurantes nos subsolos, etc. Evidentemente, eu pensei que tal tendência teria crescido até que a indústria tivesse gradualmente perdido qualquer visão da luz do dia, com fábricas cada vez maiores no subterrâneo, nas quais os trabalhadores passariam a maior parte dos tempo. Atualmente, um trabalhador de East End vive em tais condições artificiais que praticamente o exilam da superfície natural da terra e da vida a céu aberto.”
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"Beneath my feet, then, the earth must be tunneled out to an enormous extent, and in these caverns the new race lived. The presence of ventilating shafts and wells all along the hill slopes—everywhere, in fact, except along the river valley—showed how universally the ramifications of the underworld extended.
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"And it was natural to assume that it was in the underworld that the necessary work of the overworld was performed. This was so plausible that I accepted it unhesitatingly. From that I went on to assume how the splitting of the human species came about. I dare say you will anticipate what shape my theory took, though I soon felt it was still short of the truth of the case.
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"But at first, starting from the problems of our own age, it seemed as clear as daylight to me that the gradual widening of the present merely temporary and social difference of the capitalist from the laborer was the key to the explanation. No doubt it will seem grotesque enough to you and wildly incredible, and yet even now there are circumstances that point in the way things have gone. There is a tendency plainly enough to utilize underground space for the less ornamental purposes of civilization; there is the Metropolitan Railway in London, for instance, and all these new electric railways; there are subways, and underground workrooms, restaurants, and so forth. Evidently, I thought, this tendency had increased until industry had gradually lost sight of the day, going into larger and larger underground factories, in which the workers would spend an increasing amount of their time. Even now, an East End worker lives in such artificial conditions as practically to be cut off from the natural surface of the earth and the clear sky altogether. Cap. 7
Temos então duas raças que se originaram de duas classes sociais. Uma segmentação que se radicalizou ao longo dos milênios. Os aristocratas, os burgueses se destacam das 'classes médias' e operárias – de forma que há um 'isolamento geográfico'- os 'belos' habitam a superfície, enquanto os 'malditos' moram nos subterrâneos.
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Aqui há toda uma denúncia de cunho socialista-marxista que se utiliza de uma narrativa de Ficção Científica: a divisão social entre donos do Capital e os donos da Força de Trabalho que se radicaliza até a formação de suas raças – uma humana abobalhada e outra sub-humana predadora! Esta divisão era tema de múltiplas teses sérias no fim do século 19 e início do 20 – época da publicação de “The Time Machine” - e que se perderiam do rumo ao longo da Guerra Fria e da Pax Americana.
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A Literatura aqui se utiliza de um terror futurístico para fazer uma denúncia de um mal-estar atual: assim como temos hoje a literatura e os filmes apocalípticos de caos ecológico e fim-do-mundo em névoas tóxicas. O recurso de se apresentar um futuro distópico – ou seja, não perfeito, mas ameaçador – é um fascínio mórbido que leva ao esperado despertar das gerações atuais – antes que o 'previsto' caos aconteça.
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Contudo, diferente do que esperavam os socialistas de outrora, a Humanidade não se segmentou: novas camadas sócias foram se 'ensanduichando' entre os Burgueses e os Proletários. Temos os burocratas (que até formou uma 'nova classe' na URSS), temos os pequenos-burgueses, temos os profissionais-liberais, temos os políticos, temos os artistas, temos a aristocracia operária (os operários qualificados, os sindicalistas, etc).
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Por outro lado, a exploração, o trabalho exaustivo, a guerra de finanças, a Mais-Valia, e a Alienação não se extinguiram – tudo ficou mais sutil e digestivo. Alguns ganham mais do que outros e aceitam assim o mundo que explora os demais 'assalariados'. Ninguém se preocupa com os proletários a não ser os próprios proletários – enquanto os pequenos-burgueses sonham em ser os burgueses de amanhã.
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Mas os Morlocks não tiveram chance. Foram deformados pela vida subterrânea ao longo de milênios, num isolamento que impossibilitou qualquer 'miscigenação', no que se produz uma outra sub-raça. Ao contrário dos Elois, seres domesticados, os Morlocks são seres selvagens. Possuem pêlos e garras, e dentes próprios de bestas carnívoras. Aliás, de onde vem a carne para o banquete bárbaro das criaturas do subsolo? A verdade é atordoante.
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“A visão que eu tive desta caverna foi aquela possível enquanto queimava-se o fósforo. Minha lembrança do que vi é agora um tanto vaga. Grandes formas como se fossem máquinas se destacavam no escuro e projetava estranhas sombras, nas quais os espectrais Morlocks se escondiam do clarão. A propósito, o lugar era abafado e opressivo, e o ligeiro hálito de sangue fresco derramado pairava no ar. Logo abaixo no área central estava uma pequena mesa de metal branco sobre a qual parecia estar uma refeição. Os Morlocks eram assim carnívoros. Mesmo naquele momento eu lembro de pensar que animal de grande porte poderia ter sobrevivido para prover as rubras juntas que eu percebi. Era bem indistinto, o cheiro denso, as grandes formas vagas, as figuras esbranquiçadas que se escondiam nas sombras, e apenas esperando a escuridão para avançar novamente. Então o fósforo ardeu até queimar-me os dedos e caiu, uma faísca sinuosa no escuro.
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“Pensei no quão mal esquipado eu estava. Quando eu começara a Máquina do Tempo eu tinha a absurda suposição de que os homens do futuro certamente estaria a nossa frente em todos os seus desenvolvimentos. Eu tinha vindo sem armas, sem remédio, sem algo para fumar – às vezes eu sentia falta de uma cigarro, - mesmo sem fósforos suficientes. Se eu tivesse ao menos pensado numa câmera fotográfica! Eu poderia ter disparo o flash que iluminaria o subterrâneo num segundo e examinar com calma. Mas o caso é que eu lá estava apenas com as armas que a natureza me dera – mãos, pés, e dentes – exceto os quatro últimos fósforos que eu ainda tinha.
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"The view I had of this cavern was as much as one could see in the burning of a match. Necessarily my memory of it is very vague. Great shapes like big machines rose out of the dim and threw grotesque black shadows, in which the spectral Morlocks sheltered from the glare. The place, by the bye, was very stuffy and oppressive, and the faint halitus of freshly shed blood was in the air. Some way down the central vista was a little table of white metal upon which a meal seemed to be spread. The Morlocks at any rate were carnivorous. Even at the time I remember thinking what large animal could have survived to furnish the red joint I saw. It was all very indistinct, the heavy smell, the big unmeaning shapes, the white figures lurking in the shadows, and only waiting for the darkness to come at me again. Then the match burned down and stung my fingers and fell, a wriggling red spot in the black.
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"I have thought since how particularly ill equipped I was. When I had started with the Time Machine I had started with the absurd assumption that the men of the future would certainly be infinitely in front of us in all their appliances. I had come without arms, without medicine, without anything to smoke,—at times I missed tobacco frightfully,—even without enough matches. If I had only thought of a kodak! I could have flashed that glimpse of the underworld a second and examined it at leisure. But as it was, I stood there with only the weapons and powers that Nature had endowed me with—hands, feet, and teeth—except four safety matches that still remained to me. Cap. 8
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Se os Morlocks são carnívoros, e não havendo mais animais de grande porte sobre a Terra, só restam mesmo os Elois, que passam a ser a fonte de alimentação – ou seja, os belos seres da superfície são mesmo o 'gado' dos que vivem nos subsolos.
Horrorizado diante da Distopia – a Utopia desfeita, arruinada – O Viajante precisa enfrentar os Morlocks para sobreviver e recuperar a Máquina do Tempo. É o momento de aventura que revela o herói no Narrador. Um pouco de aventura num livro excessivamente 'sociológico', digamos.
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Cumprindo seu dever de herói, o Viajante adentra o covil dos humanóides-trogloditas subterrâneos e se apossa da Máquina do Tempo, segundos antes de ser cercado. Ele reativa o mecanismo temporal e consegue se livrar da armadilha. Mas acaba avançando mais e mais no futuro até um momento em que a Terra estará mesmo arruinada, onde seres semelhantes a gigantescos caranguejos rastejam iguais a lesmas nas praias de um mar já falecido.
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“Eu já narrei para vocês o mal-estar e a confusão mental que acontece durante uma viagem no tempo. E neste momento eu não estava propriamente sentado, mas num posição instável. Por um tempo indefinido eu me inclinei na máquina enquanto ela vibrava, o quão desatento eu seguia, e quando me dei conta ao olhar os números do monitor fiquei assustado ao perceber o quão longe tinha chegado. Números indicavam dias, outros milhares de dias, outros milhões de dias, e outro milhares de milhões. Agora, ao contrário de reverter os controles, eu tinha avançado mais e mais, e, quando olhei novamente os indicadores, notei que os que indicavam milhares deslizavam tão rapidamente como os de segundos, rumo ao futuro.
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“Com cautela, ao lembrar da queda anterior, eu comecei a reverter a velocidade. Mais lentamente os dígitos deslizavam, até que os números de milênios pareciam parar e os de dias não mais deslizavam nebulosos ao longo da escala. Lentamente, até que a névoa ao meu redor tornou-se distinta, e se tornaram visíveis os vultos de uma colina e do mar.
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“Mas, enquanto meu movimento tornava-se lento, eu percebia que nenhuma mudança ocorria entre dia e noite. Um amplo crepúsculo se estendia sobre a Terra. E o aro de luz que indicava o sol, eu notava, tinha se desvanecido, mais para o quase invisível no leste, e no oeste tudo se tornava mais avermelhado. O círculo das estrelas crescendo lentamente dava lugar a crepitantes pontos de luz. Ao fim, algum tempo antes que eu parasse, o sol, vermelho e imenso, estava suspenso imóvel sobre o horizonte, um vasto domo brilhando com calor reduzido. O trabalho das marés estava completa. A Terra tinha se voltado para repousar com uma face para o sol assim como em nossa era a lua encara a Terra.”
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“I HAVE already told you of the sickness and confusion that comes with time traveling. And this time I was not seated properly in the saddle, but sideways and in an unstable fashion. For an indefinite time I clung to the machine as it swayed and vibrated, quite unheeding how I went, and when I brought myself to look at the dials again I was amazed to find where I had arrived. One dial records days, another thousands of days, another millions of days, and another thousands of millions. Now instead of reversing the levers I had pulled them over so as to go forward with them, and when I came to look at these indicators I found that the thousands hand was sweeping round as fast as the seconds hand of a watch, into futurity.
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"Very cautiously, for I remembered my former headlong fall, I began to reverse my motion. Slower and slower went the circling hands, until the thousands one seemed motionless and the daily one was no longer a mere mist upon its scale. Still slower, until the gray haze around me became distincter, and dim outlines of a low hill and a sea became visible.
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"But as my motion became slower there was, I found, no blinking change of day and night. A steady twilight brooded over the earth. And the band of light that had indicated the sun had, I now noticed, become fainter, had faded indeed to invisibility in the east, and in the west was increasingly broader and redder. The circling of the stars growing slower and slower had given place to creeping points of light. At last, some time before I stopped, the sun, red and very large, halted motionless upon the horizon, a vast dome glowing with a dull heat. The work of the tidal drag was accomplished. The earth had come to rest with one face to the sun even as in our own time the moon faces the earth. Cap. 13
[…]
“O céu não era mais azul. No rumo nordeste estava tudo escurecido, e na escuridão brilhavam as estrelas empalidecidas. Acima da cabeça havia um profundo vermelho, e sem estrelas, e , no rumo sudeste ficava mais brilhante até onde, cortada pelo horizonte, jazia a casca imóvel do grande sol vermelho.
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“As rochas ao meu redor era avermelhadas, e todo o traço de vida que eu pudia ver, de início, era a intensa vegetação verde que cobria cada ponto proeminente lá no lado sudoeste. Era o mesmo extenso verde que se vê nos musgos de florestas ou nos líquens de cavernas, plantas que, como tais, crescem num perpétuo crepúsculo.”
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"The sky was no longer blue. Northeastward it was inky black, and out of the blackness shone brightly and steadily the pale white stars. Overhead it was a deep Indian red, and starless, and southeastward it grew brighter to where, cut by the horizon, lay the motionless hull of the huge red sun.
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"The rocks about me were of a harsh reddish color, and all the trace of life that I could see at first was the intensely green vegetation that covered every projecting point on its southeastern side. It was the same rich green that one sees on forest moss or on the lichen in caves, plants which, like these, grow in a perpetual twilight.
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O Viajante anota mentalmente tudo o que viu, e resolve voltar para casa, no século 19, a tempo de narrar – como agora faz – aos amigos a experiência sensacional ao longo da 'quarta-dimensão'. Quanto a esta visão deveras apocalíptica da Terra agônica, ressecada e sem-viva, antes de ser devorada pelo Sol então inchada gigantesca Estrela Vermelha, nos milhares de milênios futuros, depois geraria um subgênero na Ficção Científica – os livros sobre a Dying Earth (Terra agonizante). O que seria um mundo sem humanos? O quão semelhante a Era dos Dinossauros? Um outro planeta Marte – desertificado e inabitável? Eis algo a excitar a imaginação dos ficcionistas. Mais detalhes nos links da Wikipedia.
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Sci Fi subgênero Dying Earth
http://en.wikipedia.org/wiki/Dying_Earth_%28subgenre%29
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Apocaliptic Fiction
http://en.wikipedia.org/wiki/Apocalyptic_and_post-apocalyptic_fiction
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A abundância de material sobre Viagens no Tempo mais inviabiliza um olhar total do que informa realmente sobre as várias sub-temáticas possíveis no mundo da Ficção e Fantasia. Existem viagens no Tempo sem recurso, digamos, científico-tecnológico. Podem viajar no Tempo os deuses, os semi-deuses, os magos, as fadas, os bruxos, as vítimas de encantamentos. Mas então adentramos o terreno da Fantasia pura e simples. O que nunca faltou no âmbito da Mitologia. A Mitologia que nunca procurou se 'legitimar' com referências ao mundo da Ciência. Veremos nos próximos ensaios quanto Mitologia e Ciência se antagonizam e se interagem no discurso ficcional.
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“Eu já narrei para vocês o mal-estar e a confusão mental que acontece durante uma viagem no tempo. E neste momento eu não estava propriamente sentado, mas num posição instável. Por um tempo indefinido eu me inclinei na máquina enquanto ela vibrava, o quão desatento eu seguia, e quando me dei conta ao olhar os números do monitor fiquei assustado ao perceber o quão longe tinha chegado. Números indicavam dias, outros milhares de dias, outros milhões de dias, e outro milhares de milhões. Agora, ao contrário de reverter os controles, eu tinha avançado mais e mais, e, quando olhei novamente os indicadores, notei que os que indicavam milhares deslizavam tão rapidamente como os de segundos, rumo ao futuro.
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“Com cautela, ao lembrar da queda anterior, eu comecei a reverter a velocidade. Mais lentamente os dígitos deslizavam, até que os números de milênios pareciam parar e os de dias não mais deslizavam nebulosos ao longo da escala. Lentamente, até que a névoa ao meu redor tornou-se distinta, e se tornaram visíveis os vultos de uma colina e do mar.
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“Mas, enquanto meu movimento tornava-se lento, eu percebia que nenhuma mudança ocorria entre dia e noite. Um amplo crepúsculo se estendia sobre a Terra. E o aro de luz que indicava o sol, eu notava, tinha se desvanecido, mais para o quase invisível no leste, e no oeste tudo se tornava mais avermelhado. O círculo das estrelas crescendo lentamente dava lugar a crepitantes pontos de luz. Ao fim, algum tempo antes que eu parasse, o sol, vermelho e imenso, estava suspenso imóvel sobre o horizonte, um vasto domo brilhando com calor reduzido. O trabalho das marés estava completa. A Terra tinha se voltado para repousar com uma face para o sol assim como em nossa era a lua encara a Terra.”
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“I HAVE already told you of the sickness and confusion that comes with time traveling. And this time I was not seated properly in the saddle, but sideways and in an unstable fashion. For an indefinite time I clung to the machine as it swayed and vibrated, quite unheeding how I went, and when I brought myself to look at the dials again I was amazed to find where I had arrived. One dial records days, another thousands of days, another millions of days, and another thousands of millions. Now instead of reversing the levers I had pulled them over so as to go forward with them, and when I came to look at these indicators I found that the thousands hand was sweeping round as fast as the seconds hand of a watch, into futurity.
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"Very cautiously, for I remembered my former headlong fall, I began to reverse my motion. Slower and slower went the circling hands, until the thousands one seemed motionless and the daily one was no longer a mere mist upon its scale. Still slower, until the gray haze around me became distincter, and dim outlines of a low hill and a sea became visible.
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"But as my motion became slower there was, I found, no blinking change of day and night. A steady twilight brooded over the earth. And the band of light that had indicated the sun had, I now noticed, become fainter, had faded indeed to invisibility in the east, and in the west was increasingly broader and redder. The circling of the stars growing slower and slower had given place to creeping points of light. At last, some time before I stopped, the sun, red and very large, halted motionless upon the horizon, a vast dome glowing with a dull heat. The work of the tidal drag was accomplished. The earth had come to rest with one face to the sun even as in our own time the moon faces the earth. Cap. 13
[…]
“O céu não era mais azul. No rumo nordeste estava tudo escurecido, e na escuridão brilhavam as estrelas empalidecidas. Acima da cabeça havia um profundo vermelho, e sem estrelas, e , no rumo sudeste ficava mais brilhante até onde, cortada pelo horizonte, jazia a casca imóvel do grande sol vermelho.
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“As rochas ao meu redor era avermelhadas, e todo o traço de vida que eu pudia ver, de início, era a intensa vegetação verde que cobria cada ponto proeminente lá no lado sudoeste. Era o mesmo extenso verde que se vê nos musgos de florestas ou nos líquens de cavernas, plantas que, como tais, crescem num perpétuo crepúsculo.”
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"The sky was no longer blue. Northeastward it was inky black, and out of the blackness shone brightly and steadily the pale white stars. Overhead it was a deep Indian red, and starless, and southeastward it grew brighter to where, cut by the horizon, lay the motionless hull of the huge red sun.
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"The rocks about me were of a harsh reddish color, and all the trace of life that I could see at first was the intensely green vegetation that covered every projecting point on its southeastern side. It was the same rich green that one sees on forest moss or on the lichen in caves, plants which, like these, grow in a perpetual twilight.
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O Viajante anota mentalmente tudo o que viu, e resolve voltar para casa, no século 19, a tempo de narrar – como agora faz – aos amigos a experiência sensacional ao longo da 'quarta-dimensão'. Quanto a esta visão deveras apocalíptica da Terra agônica, ressecada e sem-viva, antes de ser devorada pelo Sol então inchada gigantesca Estrela Vermelha, nos milhares de milênios futuros, depois geraria um subgênero na Ficção Científica – os livros sobre a Dying Earth (Terra agonizante). O que seria um mundo sem humanos? O quão semelhante a Era dos Dinossauros? Um outro planeta Marte – desertificado e inabitável? Eis algo a excitar a imaginação dos ficcionistas. Mais detalhes nos links da Wikipedia.
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Sci Fi subgênero Dying Earth
http://en.wikipedia.org/wiki/Dying_Earth_%28subgenre%29
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Apocaliptic Fiction
http://en.wikipedia.org/wiki/Apocalyptic_and_post-apocalyptic_fiction
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A abundância de material sobre Viagens no Tempo mais inviabiliza um olhar total do que informa realmente sobre as várias sub-temáticas possíveis no mundo da Ficção e Fantasia. Existem viagens no Tempo sem recurso, digamos, científico-tecnológico. Podem viajar no Tempo os deuses, os semi-deuses, os magos, as fadas, os bruxos, as vítimas de encantamentos. Mas então adentramos o terreno da Fantasia pura e simples. O que nunca faltou no âmbito da Mitologia. A Mitologia que nunca procurou se 'legitimar' com referências ao mundo da Ciência. Veremos nos próximos ensaios quanto Mitologia e Ciência se antagonizam e se interagem no discurso ficcional.
Abr/11
por Leonardo de Magalhaens
http://leoliteraturaescrita.blogspot.com/
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Outros Links
Interessante: 'documentário' sobre viagem no tempo
http://www.imdb.com/title/tt1441914/
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The Time Machine
na Wikisource
http://en.wikisource.org/wiki/The_Time_Machine
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Versão usada nas citações
http://en.wikisource.org/wiki/The_Time_Machine_(Holt_text)
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sobre Viagem no Tempo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Viagem_no_tempo
filmes baseados em
The Time Machine
1960
http://www.youtube.com/watch?v=rcziOmxNuus
1978
http://www.youtube.com/watch?v=ljeAWqfQjsg&feature=related
2002
http://www.youtube.com/watch?v=jQbmX-TY3t8&feature=related
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filmes e livros com a temática
Viagem no Tempo
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romance de Isaac Asimov
“The End of Eternity ” / 1955
(O Fim da Eternidade)
http://pt.wikipedia.org/wiki/The_End_of_Eternity
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Em Fim da Eternidade, uma equipe de 'guardiões do Tempo', Eternals, homens de várias eras da História, unidos justamente na 'Eternidade', um lugar fora-do-tempo, a cuidarem para que a Humanidade siga determinado curso 'seguro' na História – inclusive impedindo uma expansão pela Galáxia, o que levaria a uma Império Galáctico – e aparece em vários momentos da História para 'ajustar' este curso determinado. Ou seja, a Humanidade não escolhe, mas uns poucos 'iluminados' atemporais escolhem o que seja o 'caminho seguro'. Até que uma série de paradoxos interferem, e um dos guardiões, um Técnico, 'muda de lado'. É o momento em que a Eternidade será superada – e a livre-escolha dos humanos a substituir o 'destino determinado', além da possibilidade de um Império Galáctico no futuro.
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filmes
De Volta para o Futuro
(Back To the Future / 1985)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Back_to_the_Future
http://www.youtube.com/watch?v=2SrV13F3x7Y
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Timecop / 1994
http://www.youtube.com/watch?v=jK3c6nK5izk
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série
BBC serie Doctor Who
(desde 1963)
http://www.youtube.com/watch?v=jPajMRah4hI&feature=related
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LdeM
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