sobre As Flores do Mal (Les Fleurs du Mal, 1857)
obra poética do francês
Charles Baudelaire (1821-1867)
A lírica dissonante da modernidade
obra poética do francês
Charles Baudelaire (1821-1867)
A lírica dissonante da modernidade
(2:2)
A embriaguez dos sentidos: a idealização
Na embriaguez dos sentidos – todas as sensações para afogar o tédio, o spleen – surge o culto a idealização – principalmente da artificialidade, da sedução, em suma, do que se encarna na figura da mulher enquanto uma 'promessa de prazer'. Mas não seria apenas a imagem do 'prazer vulgar' e, por consequente, a 'mulher vulgar'. Não. Aqui há uma duplicidade: a mulher ideal e a mulher vulgar. Já vimos como se processa tal dicotomia.
Na figura da mulher ideal se ressalta a imagem da mulher triste – uma espécie de tristeza gótica de tradição ultra-romântica – ou, ainda, o encanto na melancolia. Assim é nas gothic novels, assim é nos poemas de Edgar Allan Poe – a mulher amada que jaz morta é um símbolo de beleza lírica! Em Dracula vimos que o noivo considera a noiva cadáver ainda mais bela! A Lucy vampira era de uma beleza funérea que mais fascinava do que inspirava 'temor' religioso – o cadáver enquanto objeto de desejo não se restringiria assim somente aos 'necrófilos'?
É assim o belo e funesto “Madrigal Triste”,
Que m'importe que tu sois sage?
Sois belle! Et sois triste! Les pleurs
Ajoutent un charme au visage,
Comme le fleuve au paysage;
L'orage rajeunit les fleurs.
...
J'aspire, volupté divine!
...
J'aspire, volupté divine!
Hymne profond, délicieux!
Tous les sanglots de ta poitrine,
Et crois que ton coeur s'illumine
Des perles que versent tes yeux.
(“Que me importa que sejas sábia? / Sê bela! Sê triste! As dores / Dão um charme à face, / Tal o rio à paisagem; / A tormenta agrada às flores. [...] Eu aspiro, volúpia divina! / Hino profundo e delicioso! / Todos os soluços de teu peito, / e creio que teu coração se ilumina / Com as pérolas que jorram de teus olhos.” trad. LdeM)
O culto da tristeza no simbolismo, no decadentismo se revela bem próximo aos românticos de sete décadas antes – a geração do 'mal do século' – vejamos o poema Tristezas da lua, que muito deve aos idealismos melancólicos dos românticos, acrescentando as sugestões, insinuações imagéticas -sinestésicas dos simbolistas, por exemplo, ao comparar a lua a uma bela moça semi-adormecida a se acaricia com indolência,
Ce soir, la lune rêve avec plus de paresse;
(“Que me importa que sejas sábia? / Sê bela! Sê triste! As dores / Dão um charme à face, / Tal o rio à paisagem; / A tormenta agrada às flores. [...] Eu aspiro, volúpia divina! / Hino profundo e delicioso! / Todos os soluços de teu peito, / e creio que teu coração se ilumina / Com as pérolas que jorram de teus olhos.” trad. LdeM)
O culto da tristeza no simbolismo, no decadentismo se revela bem próximo aos românticos de sete décadas antes – a geração do 'mal do século' – vejamos o poema Tristezas da lua, que muito deve aos idealismos melancólicos dos românticos, acrescentando as sugestões, insinuações imagéticas -sinestésicas dos simbolistas, por exemplo, ao comparar a lua a uma bela moça semi-adormecida a se acaricia com indolência,
Ce soir, la lune rêve avec plus de paresse;
Ainsi qu'une beauté, sur de nombreux coussins,
Qui d'une main distraite et légère caresse
Avant de s'endormir le contour de ses seins,
.
(“À noite, a lua sonha com preguiça; / Assim tal uma beleza, sobre tantas almofadas. / Cuja mão distraída e ligeira acaricia / Antes de dormir os contornos do seio,” trad. LdeM)
Uma beleza idealizada mas que no mundo real encontra-se lado a lado com o grotesco, ou a beleza cujo fim é transmutar-se lugubremente em grotescas formas, tal a beleza da mulher amada que torna-se-á um cadáver em decomposição, segundo o excêntrico e célebre “Une Charogne” (Uma Carniça)
-Et pourtant vous serez semblable à cette ordure,
.
(“À noite, a lua sonha com preguiça; / Assim tal uma beleza, sobre tantas almofadas. / Cuja mão distraída e ligeira acaricia / Antes de dormir os contornos do seio,” trad. LdeM)
Uma beleza idealizada mas que no mundo real encontra-se lado a lado com o grotesco, ou a beleza cujo fim é transmutar-se lugubremente em grotescas formas, tal a beleza da mulher amada que torna-se-á um cadáver em decomposição, segundo o excêntrico e célebre “Une Charogne” (Uma Carniça)
-Et pourtant vous serez semblable à cette ordure,
À cette horrible infection,
Etoile de mes yeux, soleil de ma nature,
Vous, mon ange et ma passion!
Oui! telle vous serez, ô la reine des grâces,
Oui! telle vous serez, ô la reine des grâces,
Apres les derniers sacrements,
Quand vous irez, sous l'herbe et les floraisons grasses,
Moisir parmi les ossements.
.
(“E então serás igual a esta imundície, / A esta horrível infecção, / Estrela de meus olhos, sol de minha natureza, / Vós, meu anjo e minha paixão! // Sim, assim serás, ó rainha de emoções, / Após os últimos sacramentos, / Quando irás, sob a erva e as florações, / Sofrer igual apodrecimento.” trad. LdeM)
As imagens fúnebres, de sepulturas, de morte precoce, são recorrentes nos decadentes, nos simbolistas – no que se reaproximam dos românticos e dos ultra-românticos (que nada mais fizeram do que 'atualizar' um tema barroco e pré-romântico. Vejamos os poetas dos cemitérios – graveyards poets – na Grã-Bretanha do século 18, o mesmo século das gothic novels (2).
No poema "Sepultura" (Sépulture) o eu-lírico se refere a alguém cujo corpo será enterrado devido a piedade de algum 'bom cristão', o que não impedirá o morto de sofrer com o convívio dos malditos,
Si par une nuit lourde et sombre
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(“E então serás igual a esta imundície, / A esta horrível infecção, / Estrela de meus olhos, sol de minha natureza, / Vós, meu anjo e minha paixão! // Sim, assim serás, ó rainha de emoções, / Após os últimos sacramentos, / Quando irás, sob a erva e as florações, / Sofrer igual apodrecimento.” trad. LdeM)
As imagens fúnebres, de sepulturas, de morte precoce, são recorrentes nos decadentes, nos simbolistas – no que se reaproximam dos românticos e dos ultra-românticos (que nada mais fizeram do que 'atualizar' um tema barroco e pré-romântico. Vejamos os poetas dos cemitérios – graveyards poets – na Grã-Bretanha do século 18, o mesmo século das gothic novels (2).
No poema "Sepultura" (Sépulture) o eu-lírico se refere a alguém cujo corpo será enterrado devido a piedade de algum 'bom cristão', o que não impedirá o morto de sofrer com o convívio dos malditos,
Si par une nuit lourde et sombre
Un bon chrétien, par charité,
Derrière quelque vieux décombre
Enterre votre corps vanté,
...
Vous entendrez toute l'année
...
Vous entendrez toute l'année
Sur votre tête condamnée
Les cris lamentables des loups
.
(“Se por uma noite pesada e sombria / Um bom cristão, por caridade, / Atrás de qualquer velho escombro / enterra vosso corpo tão caro [...] Ouvirás durante todoo ano / Sobre vossa cabeça condenada / Os uivos de lamento dos lobos [...]” trad. LdeM)
mais sobre os graveyards poets e as gothic novels
em
http://www.litgothic.com/Topics/graveyard_school.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Graveyard_poets
http://en.wikipedia.org/wiki/Graveyard_poets
http://en.wikipedia.org/wiki/Gothic_literature
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/11/sobre-abadia-de-northanger-de-jane.html
.
A presença da morte – nem sempre 'simbólica' mas também com o que exibe de mais grotesco: a decomposição – se desloca em todos os recantos das 'flores do mal' onde a fronteira entre o sonho e o pesadelo é por demais tênue: atrás de uma imagem de beleza há um horror, dentro de um ser vivo está a morte latente.
A morte passa a ser idolatrada – se não podes vencê-la, junte-se a ela! - como uma forma de evasão, de escapismo, como se nada mais restasse ao ser em sofrimento. Há uma seção em “Flores do Mal” destinada exclusivamente aos poemas sobre a temática fúnebre – A Morte – onde se destacam “A Morte dos Pobres” e “A Morte dos Artistas”.
C'est la Mort qui console, hélas! et qui fait vivre;
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(“Se por uma noite pesada e sombria / Um bom cristão, por caridade, / Atrás de qualquer velho escombro / enterra vosso corpo tão caro [...] Ouvirás durante todoo ano / Sobre vossa cabeça condenada / Os uivos de lamento dos lobos [...]” trad. LdeM)
mais sobre os graveyards poets e as gothic novels
em
http://www.litgothic.com/Topics/graveyard_school.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Graveyard_poets
http://en.wikipedia.org/wiki/Graveyard_poets
http://en.wikipedia.org/wiki/Gothic_literature
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/11/sobre-abadia-de-northanger-de-jane.html
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A presença da morte – nem sempre 'simbólica' mas também com o que exibe de mais grotesco: a decomposição – se desloca em todos os recantos das 'flores do mal' onde a fronteira entre o sonho e o pesadelo é por demais tênue: atrás de uma imagem de beleza há um horror, dentro de um ser vivo está a morte latente.
A morte passa a ser idolatrada – se não podes vencê-la, junte-se a ela! - como uma forma de evasão, de escapismo, como se nada mais restasse ao ser em sofrimento. Há uma seção em “Flores do Mal” destinada exclusivamente aos poemas sobre a temática fúnebre – A Morte – onde se destacam “A Morte dos Pobres” e “A Morte dos Artistas”.
C'est la Mort qui console, hélas! et qui fait vivre;
C'est le but de la vie, et c'est le seul espoir
Qui, comme un élixir, nous monte et nous enivre,
Et nous donne le coeur de marcher jusqu'au soir;
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(“É a Morte que consola, ai! e que faz viver; / É o alvo da vida, e é a única esperança / Que, tal um elixir, nos enleva e embriaga, / E dá-nos o ânimo de andar até à tarde;” trad. LdeM)
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(“É a Morte que consola, ai! e que faz viver; / É o alvo da vida, e é a única esperança / Que, tal um elixir, nos enleva e embriaga, / E dá-nos o ânimo de andar até à tarde;” trad. LdeM)
A morte nos anima, no sem-sentido do dia-a-dia, assim como anima ao artista,
Combien faut-il de fois secouer mes grelots
Et baiser ton front bas, morne caricature?
Pour piquer dans le but, de mystique nature,
Combien, ô mon carquois, perdre de javelots?
...
N'ont qu'un espoir, étrange et sombre Capitole!
...
N'ont qu'un espoir, étrange et sombre Capitole!
C'est que la Mort, planant comme un soleil nouveau,
Fera s'épanouir les fleurs de leur cerveau!
.
(“Quantas vezes é preciso sacudir meus guizos / E beijar tua fronte baixa, morna caricatura? / Para furar o alvo, de mística natura,/ Quantos, ó meu cesto, perder de dados? / [...] Sem uma esperança, estranho e sombrio Capitólio! / É que a Morte, tal um novo sol a planar / As flores de seus cérebros fará desabrochar!” trad. LdeM)
.
(“Quantas vezes é preciso sacudir meus guizos / E beijar tua fronte baixa, morna caricatura? / Para furar o alvo, de mística natura,/ Quantos, ó meu cesto, perder de dados? / [...] Sem uma esperança, estranho e sombrio Capitólio! / É que a Morte, tal um novo sol a planar / As flores de seus cérebros fará desabrochar!” trad. LdeM)
A Morte (ou o medo de morrer) enquanto ânimo dos vivos é uma visão de niilismo tanto quando se vivéssemos apenas porque não queremos morrer. Não há uma valorização – há uma covardia – aquela mesma que proclamava o eufórico-melancólico Hamlet, no monólogo “Ser ou não ser, eis a questão” - Ato 3, cena I
O Poeta pode – ao fim de tudo – ao menos considerar-se um morto feliz (Le Mort Joyeux), com se dirige aos vermes com singular ironia, entre amarga e cínica, tal qual as melhores páginas de nosso Brás Cubas ou os versos mais niilistas de nosso Augusto dos Anjos (3),
Ô vers! noirs compagnons sans oreille et sans yeux,
Voyez venir à vous un mort libre et joyeux;
Philosophes viveurs, fils de la pourriture,
À travers ma ruine allez donc sans remords,
À travers ma ruine allez donc sans remords,
Et dites-moi s'il est encor quelque torture
Pour ce vieux corps sans âme et mort parmi les morts!
.
(“Ó vermes! Sombrios companheiros sem olhos e orelhas, / Vejam chagar um morto livre e feliz; / Filósofos libertinos, filhos da podridão, // Através de minha ruínas podeis seguir sem remorsos, / E dizei se ainda há tortura / Para esse velho corpo sem alma e morto entre os mortos!” Trad. LdeM)
ou se entrega ao auto-desprezo, o carrasco de si-mesmo, L'Héautontimorouménos, em auto-flagelação,
Je suis la plaie et le couteau!
.
(“Ó vermes! Sombrios companheiros sem olhos e orelhas, / Vejam chagar um morto livre e feliz; / Filósofos libertinos, filhos da podridão, // Através de minha ruínas podeis seguir sem remorsos, / E dizei se ainda há tortura / Para esse velho corpo sem alma e morto entre os mortos!” Trad. LdeM)
ou se entrega ao auto-desprezo, o carrasco de si-mesmo, L'Héautontimorouménos, em auto-flagelação,
Je suis la plaie et le couteau!
Je suis le soufflet et la joue!
Je suis les membres et la roue,
Et la victime et le bourreau!
Je suis de mon coeur le vampire,
Je suis de mon coeur le vampire,
—Un de ces grands abandonnés
Au rire éternel condamnés
Et qui ne peuvent plus sourire!
.
(“Eu sou a ferida e o punhal! / Eu sou a face e o golpe! / Eu sou o corpo e a tortura, / E a vítima e o carrasco! // Sou o vampiro de meu coração, / -Um desses grandes abandonados / Ao riso eterno condenados / E não podem jamais sorrir!” Trad. LdeM)
Eis que o Poeta interioriza o desprezo de fora – aquele que antevê nos olhares alheios – e passa a sentir o desprezo em si-mesmo, a golpear a si-mesmo, a sentir seu coração gelado, assim no poema “Canto de Outono” (Chant d'Automne)
Tout l'hiver va rentrer dans mon être: colère,
.
(“Eu sou a ferida e o punhal! / Eu sou a face e o golpe! / Eu sou o corpo e a tortura, / E a vítima e o carrasco! // Sou o vampiro de meu coração, / -Um desses grandes abandonados / Ao riso eterno condenados / E não podem jamais sorrir!” Trad. LdeM)
Eis que o Poeta interioriza o desprezo de fora – aquele que antevê nos olhares alheios – e passa a sentir o desprezo em si-mesmo, a golpear a si-mesmo, a sentir seu coração gelado, assim no poema “Canto de Outono” (Chant d'Automne)
Tout l'hiver va rentrer dans mon être: colère,
Haine, frissons, horreur, labeur dur et forcé,
Et, comme le soleil dans son enfer polaire,
Mon coeur ne sera plus qu'un bloc rouge et glacé.
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(“Em nosso ser adentra todo o inverno: ira, / Ódio, frenesi, horror, trabalho forçado, / E, tal ao sol no inferno polar, / Meu coração não será mais que um bloco rubro e gelado.” Trad. LdeM)
.
(“Em nosso ser adentra todo o inverno: ira, / Ódio, frenesi, horror, trabalho forçado, / E, tal ao sol no inferno polar, / Meu coração não será mais que um bloco rubro e gelado.” Trad. LdeM)
Ele, o Poeta, que se assemelha ao Sol que brilha para todos! Assim o poema Le Soleil – onde o sol desce sobre a cidade tal o poeta – o sol que brilha para todos , como dizem! Brilha sobre palácios e casebres, praias e morros, piscinas e lixões! Na face do mendigo sob o arco do viaduto e na face sorridente do rico no bar do clube.
Quand, ainsi qu'un poète, il descend dans les villes,
Quand, ainsi qu'un poète, il descend dans les villes,
Il ennoblit le sort des choses les plus viles,
Et s'introduit en roi, sans bruit et sans valets,
Dans tous les hôpitaux et dans tous les palais.
.
(“Quando, tal um poeta, ele [o sol] desce nas cidades, / Ele enobrece o tipo de coisas as mais vis, / E se introduz tal rei, sem ruído e sem valetes, Em todos os hospitais e em todos os palácios.” trad. LdeM)
Então poeta deve ser assim: estar e testemunhar sobre hospitais, hospícios, asilos tanto quanto estar e testemunhar sobre saraus, festas, palácios, et cetera, não havendo limites para a expansão do 'testemunho' poético. Dentro e fora das mentes, a vasculhar emoções e pecados, a palavra se propõe a devassar os corações.
O cérebro de poeta que tudo testemunha – principalmente a si-mesmo – que tudo armazena em neurônios e emoções encontra-se entediado até a náusea com miríades de dados e acontecimentos, que seria impossível relatar tudo. Assim o tédio existencial de um Spleen (o LXXVI, segundo a edição de 1964)
J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans.
Un gros meuble à tiroirs encombré de bilans,
.
(“Quando, tal um poeta, ele [o sol] desce nas cidades, / Ele enobrece o tipo de coisas as mais vis, / E se introduz tal rei, sem ruído e sem valetes, Em todos os hospitais e em todos os palácios.” trad. LdeM)
Então poeta deve ser assim: estar e testemunhar sobre hospitais, hospícios, asilos tanto quanto estar e testemunhar sobre saraus, festas, palácios, et cetera, não havendo limites para a expansão do 'testemunho' poético. Dentro e fora das mentes, a vasculhar emoções e pecados, a palavra se propõe a devassar os corações.
O cérebro de poeta que tudo testemunha – principalmente a si-mesmo – que tudo armazena em neurônios e emoções encontra-se entediado até a náusea com miríades de dados e acontecimentos, que seria impossível relatar tudo. Assim o tédio existencial de um Spleen (o LXXVI, segundo a edição de 1964)
J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans.
Un gros meuble à tiroirs encombré de bilans,
De vers, de billets doux, de procès, de romances,
Avec de lourds cheveux roulés dans des quittances,
Cache moins de secrets que mon triste cerveau.
C'est une pyramide, un immense caveau,
Qui contient plus de morts que la fosse commune.
.
(“Tenho mais lembranças como se tivesse mil anos. // Um armário com gavetas atulhadas de contos, / De versos, de bilhetes, de pleitos, de romances, / Com grossas madeixas entre as faturas, / Oculta menos de segredos que meu triste cérebro. / É uma pirâmide, uma imensa caverna, / Que contém mais mortos que a fossa comum.” trad. LdeM)
Mas o Poeta não é divino, nem auto-suficiente. Um belo dia, ele toma consciência disso: que ele não é mais o bardo adorado pela tribo. É agora um maldito que todos desprezam. É que ele perdeu a sua aura/auréola.
A perda aura / auréola – a decadência do Poeta
.
(“Tenho mais lembranças como se tivesse mil anos. // Um armário com gavetas atulhadas de contos, / De versos, de bilhetes, de pleitos, de romances, / Com grossas madeixas entre as faturas, / Oculta menos de segredos que meu triste cérebro. / É uma pirâmide, uma imensa caverna, / Que contém mais mortos que a fossa comum.” trad. LdeM)
Mas o Poeta não é divino, nem auto-suficiente. Um belo dia, ele toma consciência disso: que ele não é mais o bardo adorado pela tribo. É agora um maldito que todos desprezam. É que ele perdeu a sua aura/auréola.
A perda aura / auréola – a decadência do Poeta
O Poeta consciente de si-mesmo, em constante auto-observação tem uma noção do quanto sua 'glória' se foi – os bardos antes tão estimados! - e que sua aura lírica está caída na sarjeta, no meio da poça de lama. Mas o drama do Poeta é ampliado, amplificado até abarcar o mundo inteiro – o drama do poeta se universaliza, todo o mundo sofre, toda a Humanidade decadente sob um céu de chumbo, uma verdadeira tampa sobre uma panela fervente – guerras, pestes, catástrofes – pronta para explodir!
É a ideia símbolo metáfora do céu firmamento enquanto 'tampa'/ 'tampo' (couvercle) presente nos poemas “Spleen” e “Le couvercle”,
Quand le ciel bas et lourd pèse comme un couvercle
Sur l'esprit gémissant en proie aux longs ennuis,
Et que de l'horizon embrassant tout le cercle
Il nous verse un jour noir plus triste que les nuits;
.
(“Quando o céu baixo e pesado cai, tal um tampo / Sobre a alma gemente, assolada aos açoites, / E deste horizonte abraçando todo o campo / Deixa um dia escuro mais triste que as noites.” Trad. LdeM)
e
En haut, le Ciel! Ce mur de caveau qui l'étouffe,
.
(“Quando o céu baixo e pesado cai, tal um tampo / Sobre a alma gemente, assolada aos açoites, / E deste horizonte abraçando todo o campo / Deixa um dia escuro mais triste que as noites.” Trad. LdeM)
e
En haut, le Ciel! Ce mur de caveau qui l'étouffe,
Plafond illuminé par un opéra bouffe
Où chaque histrion foule un sol ensanglanté;
Terreur du libertin, espoir du fol ermite;
Terreur du libertin, espoir du fol ermite;
Le Ciel! Couvercle noir de la grande marmite
Où bout l'imperceptible et vaste Humanité.
.
(“Acima, o Céu! O muro da cova que sufoca, / Teto iluminado para uma ópera bufa / Onde cada histrião pisa um chão de sangue; // Terror do devasso, esperança do tolo eremita; / O Céu! Tampa escura da grande marmita / Onde se confina a sutil e vasta Humanidade.” Trad. LdeM)
A perda da aura, a percepção da condição de poeta como um ser degradado, condenado, exilado – portanto em irmandade com Lúcifer, Caim, Manfred, Fausto... - está presente na benção-maldição onde a mãe prefere parir víboras do que um poeta! Assim no Poema intitulado ironicamente de “Benção”, Bénédiction (I),
Lorsque, par un décret des puissances suprêmes,
.
(“Acima, o Céu! O muro da cova que sufoca, / Teto iluminado para uma ópera bufa / Onde cada histrião pisa um chão de sangue; // Terror do devasso, esperança do tolo eremita; / O Céu! Tampa escura da grande marmita / Onde se confina a sutil e vasta Humanidade.” Trad. LdeM)
A perda da aura, a percepção da condição de poeta como um ser degradado, condenado, exilado – portanto em irmandade com Lúcifer, Caim, Manfred, Fausto... - está presente na benção-maldição onde a mãe prefere parir víboras do que um poeta! Assim no Poema intitulado ironicamente de “Benção”, Bénédiction (I),
Lorsque, par un décret des puissances suprêmes,
Le Poète apparaît en ce monde ennuyé,
Sa mère épouvantée et pleine de blasphèmes
Crispe ses poings vers Dieu, qui la prend en pitié:
—«Ah! que n'ai-je mis bas tout un noeud de vipères,
—«Ah! que n'ai-je mis bas tout un noeud de vipères,
Plutôt que de nourrir cette dérision!
Maudite soit la nuit aux plaisirs éphémères
Où mon ventre a conçu mon expiation!
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(“Logo que, por um decreto das potências supremas, / O Poeta aparece neste mundo entediado, / Sua mãe perplexa e cheia de blasfêmias / Ergue as mãos aos Céus, quiçá apiedados: // -Ah! Antes parir um ninho de víboras, / Que dar de comer a tal aberração! / Maldita seja a noite de prazeres efêmeros / Quando meu ventre concebeu esta expiação!” Trad. LdeM)
Ou o poema La Déstruction (CIX)(que podemos traduzir como “A Destruição” ou “A Decadência”)
Sans cesse à mes côtés s'agite le Démon;
.
(“Logo que, por um decreto das potências supremas, / O Poeta aparece neste mundo entediado, / Sua mãe perplexa e cheia de blasfêmias / Ergue as mãos aos Céus, quiçá apiedados: // -Ah! Antes parir um ninho de víboras, / Que dar de comer a tal aberração! / Maldita seja a noite de prazeres efêmeros / Quando meu ventre concebeu esta expiação!” Trad. LdeM)
Ou o poema La Déstruction (CIX)(que podemos traduzir como “A Destruição” ou “A Decadência”)
Sans cesse à mes côtés s'agite le Démon;
Il nage autour de moi comme un air impalpable;
Je l'avale et le sens qui brûle mon poumon
Et l'emplit d'un désir éternel et coupable.
...
...
Il me conduit ainsi, loin du regard de Dieu,
Haletant et brisé de fatigue, au milieu
Des plaines de l'Ennui, profondes et désertes,
(“Sem cessar, ao meu lado se agita o demônio; / ele flutua ao meu redor tal um ar impalpável; / Eu o absorvo a sentir que queima meu pulmão / e o enche de um desejo eterno e culpável. // Ele me conduz assim, longe do olhar de deus, / Ofegante e quebrado de fadiga, em meio / Às planícies do Tédio, profundos e desertas,” Trad. LdeM)
Mesmo com excessivos tons de niilismo e decadentismo, o satanismo de Baudelaire não passa de disso (negativismo, niilismo), segundo Benjamin argumenta. Não passa de uma vertigem de um libertino, de um flâneur a flertar com a morte e o lado sombrio da cidade e da vida...
“O satanismo de Baudelaire não deve ser tomado demasiadamente à sério. Se tem algum significado, é como a única atitude na qual Baudelaire era capaz de manter por muito tempo uma posição não-conformista.” (pp. 19-20)
Assim deve ser lida a oração lírica aos pés da entidade luciferiana, as “Litanias de Satã”, Les Litanies de Satan,
Toi dont la large main cache les précipices
(“Sem cessar, ao meu lado se agita o demônio; / ele flutua ao meu redor tal um ar impalpável; / Eu o absorvo a sentir que queima meu pulmão / e o enche de um desejo eterno e culpável. // Ele me conduz assim, longe do olhar de deus, / Ofegante e quebrado de fadiga, em meio / Às planícies do Tédio, profundos e desertas,” Trad. LdeM)
Mesmo com excessivos tons de niilismo e decadentismo, o satanismo de Baudelaire não passa de disso (negativismo, niilismo), segundo Benjamin argumenta. Não passa de uma vertigem de um libertino, de um flâneur a flertar com a morte e o lado sombrio da cidade e da vida...
“O satanismo de Baudelaire não deve ser tomado demasiadamente à sério. Se tem algum significado, é como a única atitude na qual Baudelaire era capaz de manter por muito tempo uma posição não-conformista.” (pp. 19-20)
Assim deve ser lida a oração lírica aos pés da entidade luciferiana, as “Litanias de Satã”, Les Litanies de Satan,
Toi dont la large main cache les précipices
Au somnambule errant au bord des édifices,
Ô Satan, prends pitié de ma longue misère!
...
Toi qui, pour consoler l'homme frêle qui souffre,
Ô Satan, prends pitié de ma longue misère!
...
Toi qui, pour consoler l'homme frêle qui souffre,
Nous appris à mêler le salpêtre et le soufre,
Ô Satan, prends pitié de ma longue misère!
(“Tu, cuja mão larga oculta os precipícios / Ao sonâmbulo errante na borda dos edifícios, // Ó Satã, tenha piedade de minha longa miséria!
Tu, que para consolar o homem fraco que sofre, / Nos ensinou a misturar o nitrato com o enxofre, // Ó Satã, tenha piedade de minha longa miséria!” Trad. LdeM)
O Poeta maldito tece uma reza para o Príncipe das Trevas tal como faria diante do Cordeiro de Deus, pois sabe de que lado sua lírica está. Ou julgam que a lírica dele está. Ele é maldito pelos demais – e passa a carregar tal 'maldição' como uma glória na miséria. Miséria da qual o Diabo se ri! E diante da qual Deus segue indiferente... Pouco se importa. Enquanto isso, Diabo é quem para 'ajudar' a humanidade ensinou a fabricação da pólvora (carvão, enxofre, nitrato de potássio)!
“Quase sempre a confissão religiosa brota de Baudelaire como um grito de guerra. Não quer que lhe tirem o seu Satã. Este é o verdadeiro móvel do conflito que Baudelaire teve de sustentar com sua descrença. Não se trata de sacramento e oração, mas da ressalva luciferina de difamar o Satã de quem se está à mercê.” (p. 21)
Satã seria um arqui-rebelde, justamente o símbolo luciferiano que aparece no “Caim” de Lord Byron, conforme já escrevemos.
A noite cai: o consolo do Poeta
O Poeta ainda é capaz de encontrar um alívio para as dores materiais e líricas quando se depara com o crepúsculo em promessa de um novo cair de noite, a paz que cai sobre o tumulto do dia, mas uma noite que oculta outros movimentos, mais sutis, ou mais escandalosos, nas buscas de prazeres.
Vejamos dois poemas com a temática 'crepuscular'. O poema “O Fim do Dia” (La Fin de la Journée CXLIX ),
Sous une lumière blafarde
Ô Satan, prends pitié de ma longue misère!
(“Tu, cuja mão larga oculta os precipícios / Ao sonâmbulo errante na borda dos edifícios, // Ó Satã, tenha piedade de minha longa miséria!
Tu, que para consolar o homem fraco que sofre, / Nos ensinou a misturar o nitrato com o enxofre, // Ó Satã, tenha piedade de minha longa miséria!” Trad. LdeM)
O Poeta maldito tece uma reza para o Príncipe das Trevas tal como faria diante do Cordeiro de Deus, pois sabe de que lado sua lírica está. Ou julgam que a lírica dele está. Ele é maldito pelos demais – e passa a carregar tal 'maldição' como uma glória na miséria. Miséria da qual o Diabo se ri! E diante da qual Deus segue indiferente... Pouco se importa. Enquanto isso, Diabo é quem para 'ajudar' a humanidade ensinou a fabricação da pólvora (carvão, enxofre, nitrato de potássio)!
“Quase sempre a confissão religiosa brota de Baudelaire como um grito de guerra. Não quer que lhe tirem o seu Satã. Este é o verdadeiro móvel do conflito que Baudelaire teve de sustentar com sua descrença. Não se trata de sacramento e oração, mas da ressalva luciferina de difamar o Satã de quem se está à mercê.” (p. 21)
Satã seria um arqui-rebelde, justamente o símbolo luciferiano que aparece no “Caim” de Lord Byron, conforme já escrevemos.
A noite cai: o consolo do Poeta
O Poeta ainda é capaz de encontrar um alívio para as dores materiais e líricas quando se depara com o crepúsculo em promessa de um novo cair de noite, a paz que cai sobre o tumulto do dia, mas uma noite que oculta outros movimentos, mais sutis, ou mais escandalosos, nas buscas de prazeres.
Vejamos dois poemas com a temática 'crepuscular'. O poema “O Fim do Dia” (La Fin de la Journée CXLIX ),
Sous une lumière blafarde
Court, danse et se tord sans raison
La Vie, impudente et criarde.
Aussi, sitôt qu'à l'horizon
La nuit voluptueuse monte,
La nuit voluptueuse monte,
Apaisant tout, même la faim,
Effaçant tout, même la honte,
Le Poète se dit: «Enfin!
Mon esprit, comme mes vertèbres,
Mon esprit, comme mes vertèbres,
Invoque ardemment le repos;
Le coeur plein de songes funèbres,
Je vais me coucher sur le dos
Je vais me coucher sur le dos
Et me rouler dans vos rideaux,
Ô rafraîchissantes ténèbres!»
.
(“Sob uma claridade baça / Dança e se torce sem razão / A vida, impudente e berrante. / Também, logo ao horizonte // A noite voluptuosa sobe, / Acalmando tudo, até a fome, / Apagando tudo, até a desonra, / O Poeta se diz: 'Enfim! // Meu espírito, como minhas vértebras, / Invoca ardentemente o repouso; / O peito cheio de sonhos fúnebres, / Vou me deitar de costas / E me enrolar em vossas cortinas, / Ó refrescantes trevas!'” Trad. LdeM)
e o poema “Recolhimento” (Recueillement , CLIV),
Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
.
(“Sob uma claridade baça / Dança e se torce sem razão / A vida, impudente e berrante. / Também, logo ao horizonte // A noite voluptuosa sobe, / Acalmando tudo, até a fome, / Apagando tudo, até a desonra, / O Poeta se diz: 'Enfim! // Meu espírito, como minhas vértebras, / Invoca ardentemente o repouso; / O peito cheio de sonhos fúnebres, / Vou me deitar de costas / E me enrolar em vossas cortinas, / Ó refrescantes trevas!'” Trad. LdeM)
e o poema “Recolhimento” (Recueillement , CLIV),
Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
Tu réclamais le Soir; il descend; le voici:
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.
...
Le soleil moribond s'endormir sous une arche,
...
Le soleil moribond s'endormir sous une arche,
Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.
.
(“ Cuidado, minha dor, seja mais tranquila. / Tu reclamas a Tarde; eis aqui, ela vem: / Uma atmosfera obscura envolve a vila, / A alguns traz a paz, a outros entretém. [...] O sol agoniza, luz enfim declinada; / E, tal um longo lençol no Oriente, /Ouça, querida, a doce Noite fremente.” Trad. LdeM)
O tom decadente e fúnebre de Baudelaire não deve incomodar o leitor – afinal, compartilhamos de uma expectativa quanto a um livro saturnino denominado “Flores do Mal” - um nome deveras ambíguo! - pois o Poeta sabe o quanto o Leitor compartilha as dores e ironias do Autor, sendo que a Obra se re-faz justamente nessa 'cumplicidade', é o leitor hipócrita, o semelhante!, segundo o próprio “Prefácio”,
C'est l'Ennui! L'oeil chargé d'un pleur involontaire,
.
(“ Cuidado, minha dor, seja mais tranquila. / Tu reclamas a Tarde; eis aqui, ela vem: / Uma atmosfera obscura envolve a vila, / A alguns traz a paz, a outros entretém. [...] O sol agoniza, luz enfim declinada; / E, tal um longo lençol no Oriente, /Ouça, querida, a doce Noite fremente.” Trad. LdeM)
O tom decadente e fúnebre de Baudelaire não deve incomodar o leitor – afinal, compartilhamos de uma expectativa quanto a um livro saturnino denominado “Flores do Mal” - um nome deveras ambíguo! - pois o Poeta sabe o quanto o Leitor compartilha as dores e ironias do Autor, sendo que a Obra se re-faz justamente nessa 'cumplicidade', é o leitor hipócrita, o semelhante!, segundo o próprio “Prefácio”,
C'est l'Ennui! L'oeil chargé d'un pleur involontaire,
Il rêve d'échafauds en fumant son houka.
Tu le connais, lecteur, ce monstre délicat,
—Hypocrite lecteur, — mon semblable, — mon frère!
(“É o Tédio! Olho cheio de choro involuntário, / A sonhar cadafalsos ao fumar um narguilé. / Tu o conheces, leitor, esse monstro delicado, / -Leitor hipócrita, - meu semelhante, - meu irmão!” Trad. LdeM)
jan/11
(“É o Tédio! Olho cheio de choro involuntário, / A sonhar cadafalsos ao fumar um narguilé. / Tu o conheces, leitor, esse monstro delicado, / -Leitor hipócrita, - meu semelhante, - meu irmão!” Trad. LdeM)
jan/11
por Leonardo de Magalhaens
http://leoliteraturaescrita.blogspot.com/
Poemas citados neste ensaio
seção Spleen et Idéal (Bénédiction, L'Albatros, Correspondences, Sed non Satiata, Une Charogne, Chant d'Automne, Tristesses de la Lune, Sépulture, Le Mort Joyeux, Spleen LXXVI, L'Héautontimorouménos), Tableaux Parisiens (Le Soleil, A une mendiante rousse, Les Aveugles, A une passante, Rêve Parisien), Le Vin (Le Vin des Chiffonniers, L'Ame du vin), Fleurs du Mal (La Déstruction, La Fontaine du Sang, L'Amour et le Crâne), Révolte (Les Litanies de Satan), La Mort (La Mort des Pauvres, Le Mort des Artistes, La Fin de La Journée). Outros: Le Couvercle, Le Rebelle, Les Plaintes d'un Icare, Recueillement.
Notas
(1)A imagem do poeta afastado da vida cotidiana, tal se elevado numa torre ou recluso numa cela monstérica, é central em muitos poemas dos simbolistas e parnasianos. Entre nós se destaca o poema de Olavo Bilac, o soneto “A Um Poeta”, onde a Beleza – ou seria Beletrismo? - surgiria de um trabalho de artesão meio ao mais meditativo labor em recolhida solidão,
Longe do estéril turbilhão da rua,Beneditino escreve! No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego,Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço: e trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nuaRica mas sóbria, como um templo gregoNão se mostre na fábrica o suplicioDo mestre. E natural, o efeito agradeSem lembrar os andaimes do edifício:Porque a Beleza, gêmea da VerdadeArte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade.
(2) Mais sobre os graveyards poets e as gothic novels nos links
http://www.litgothic.com/Topics/graveyard_school.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Graveyard_poets
http://en.wikipedia.org/wiki/Graveyard_poets
http://en.wikipedia.org/wiki/Gothic_literature
http://meucanoneocidental.blogspot.com/2010/11/sobre-abadia-de-northanger-de-jane.html
(3)Lembro de versos de Augusto dos Anjos em “Eu” (1912), tais como em “O Deus-Verme”
Almoça a podridão das drupas agras,Janta hidrôpicos, rói vísceras magrasE dos defuntos novos incha a mão...Ah! Para ele é que a carne podre fica,E no inventário da matéria ricaCabe aos seus filhos a maior porção!
Ou na fim da parte III de “As Cismas do Destino”,
Quando chegar depois a hora tranqüila,Tu serás arrastado, na carreira,Como um cepo inconsciente de madeiraNa evolução orgânica da argila!...
Adeus! Fica-te ai, com o abdômen largoA apodrecer!... És poeira, e embalde vibras!O corvo que comer as tuas fibrasHá de achar nelas um sabor amargo!"
Links
Eis algumas traduções de poemas de Baudelaire nos meus blogs
http://leoleituraescrita.blogspot.com/2010/05/correspondencias-charles-baudelaire.html
http://leoleituraescrita.blogspot.com/2010/11/uma-mendiga-ruiva-baudelaire.html
http://leoleituraescrita.blogspot.com/2010/11/uma-mendiga-ruiva-baudelaire.html
http://leoleituraescrita.blogspot.com/2010/12/2-poemas-de-charles-baudelaire.html
http://leoliteraturaescrita.blogspot.com/2011/01/poemas-de-charles-baudelaire.html
videos
com as flores do mal ...
http://www.youtube.com/watch?v=qH7RM-P_Cpc
http://www.youtube.com/watch?v=s-Q87doHJlA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=s-Q87doHJlA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=69eZg-VeE4w&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=69eZg-VeE4w&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=bDW-VJK-RJw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=biHNV5gxmek&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=GrGYnv6WHrs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=6vb0gT6QWUc
http://www.youtube.com/watch?v=9ZjUdO4mS1c
REFERÊNCIAS
BAUDELAIRE, Charles. Les Fleurs du Mal. Paris, Éditions Gallimard, 1947.
____. O Pintor da Vida Moderna. (Le Peintre de la vie moderne).
BENJAMIN, Walter. "Charles Baudelaire – Um Lírico no Auge do Capitalismo” In: Obra Escolhidas Volume III. São Paulo: Brasiliense, 1989.
CAMPOS, Haroldo de. O Arco-íris Branco: ensaios de literatura e cultura. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da Lírica Moderna. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1978.
pesquisa na internet
(sites / homepages / blogs acessados em janeiro 2011)
Les Fleurs du Mal online na Wikisource
http://fr.wikisource.org/wiki/Les_Fleurs_du_mal
http://fr.wikisource.org/wiki/Les_Fleurs_du_mal_(1868)
.
Le Peintre de la vie moderne online na Wikisource
http://fr.wikisource.org/wiki/Le_Peintre_de_la_vie_moderne
obras de Baudelaire na Wikisource
http://fr.wikisource.org/wiki/Auteur:Charles_Baudelaire
sobre a figura do Flâneur
http://www.theflaneur.co.uk/decadentArtFreedomC1.html
http://dystopianflanerie.blogspot.com/2004/12/le-flaneur-in-dystopian-flanerie.html
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