quarta-feira, 23 de maio de 2012

Meu Cânone Ocidental Volume 3





Meu Cânone OcidentalVolume 3  

contém ensaios sobre as seguintes obras :


Flores do Mal- Charles Baudelaire 

Retrato de Dorian Gray- Oscar Wilde 

Orlando- Virginia Woolf 



Máquina do Tempo- H G Wells 

Fundação- Isaac Asimov 

As Crônicas Marcianas- Ray Bradbury 


Admirável Mundo Novo- Aldous Huxley 

1984- George Orwell 

Fahrenheit 451- Ray Bradbury 



Oliver Twist- Charles Dickens 

Aventuras de Tom Sawyer / Aventuras de Huckleberry Finn- Mark Twain 

Os Meninos da Rua Paulo- Ferenc Mólnar 


Os Sofrimentos do Jovem Werther- J. W. von Goethe 

O Ateneu- Raul Pompeia 

O Jovem Törless- Robert Musil 

Tonio Kroeger- Thomas Mann 

Retrato do Artista quando Jovem- James Joyce 

Catcher in the Rye- J. D. Salinger 



Para obter o Volume 3 [em pdf] basta enviar uma solicitação
ao meu e-mail : leomagalhaens3@gmail.com 

LdeM

sexta-feira, 11 de maio de 2012

sobre 'The Catcher in the Rye' - de J. D. Salinger





sobre “The Catcher in the Rye” (1951)
(Bra: “O Apanhador no Campo de Centeio”)
de J. D. Salinger (EUA, 1919-2010)


Literatura dá voz ao desassossego juvenil

    Concluindo a série sobre Literatura que tematiza os jovens, suas vidas e vicissitudes, temos a interessante obra do recluso autor J. D. Salinger sobre o jovem irônico Holden Caulfield que narra - em 1ª pessoa - suas desventuras num fim de semana na cidade de Nova York, logo depois de ser expulso do colégio-internato, onde seus pais esperavam que se se transformasse num jovem esplêndido e bem-pensante'.

    O interessante nesta obra de Salinger é a possibilidade de vazão das inquietações juvenis na voz do próprio jovem – com sua ironia, suas gírias, suas tiradas de humor negro, suas hipérboles, suas digressões e contradições, tudo o que está incluindo no 'pacote' adolescência-juventude, segundo já vemos em obras anteriores – mas sem o radicalismo deste “Catcher in the rye”, publicado em 1951, e que logo causou polêmica (assim acontece com toda obra avançada para o seu tempo...) até conquistar o público jovem, em época de contracultura e revolução sexual.

    Sabendo do contexto, vamos ao texto. O narrador-protagonista Holden Caulfield se apresenta, mas diferentemente dos heróis protagonistas dos romances clássicos, tipo 'David Coperfield', de Charles Dickens, que se perdem em digressões sobre o passado familiar e contextos históricos, etc. Holden vai direto ao assunto – ele começa seu relato desde a saída do Internato Pencey, no ano anterior.

“Se vocês realmente querem ouvir a respeito disso, a primeira coisa que vocês provavelmente vão querer saber é onde eu nasci e com oque se pareceu a minha péssima infância, e como meus pais se ocupavam e tudo antes que me tivessem, e toda esta bobagem tipo David Copperfield, mas não acho que vou fazer isso, se vocês querem saber a verdade.” (cap. 1)(trad. LdeM)

If you really want to hear about it, the first thing you’ll probably want to know is where I was born and what my lousy childhood was like, and how my parents were occupied and all before they had me, and all that David Copperfield kind of crap, but I don’t feel like going into it, if you want to know the truth.” (Ch. 1)

    Holden não é exatamente um jovem de seu tempo. Ele não se empolga muito com esportes e nada admira na industria cultural, chegando a confessar que detesta cinema. “Detesto cinema como se fosse um veneno.” E que por trabalhar em Hollywood, seu irmão escritor é um 'vendido', numa espécie de prostituição (afinal, somente a literatura é uma arte íntegra, enquanto o cinema, é visto como 'indústria cultural'...) onde a escrita serve aos interesses do sucesso e da vaidade.


    O jovem não poupa o antigo colégio – que se vangloriava por criar 'jovens esplêndidos e bem-pensantes' – mas onde tudo não passa de, digamos , uma jogada de marketing, “Eles não moldam coisa-nenhuma em Pencey além do fazem em outro colégio. E eu não conheci ninguém lá que fosse esplêndido e bem-pensante e tudo isso. Talvez uns dois caras. Se muito. E provavelmente eles vieram para o Pencey deste jeito.” (cap. 1) “They don't do any damn more molding at Pencey than they do at any other school. And I didn't know anybody there that was splendid and clear-thinking and all. Maybe two guys. If that many. And they probably came to Pencey that way.” (Ch. 1)

    No colégio, cheio de rapazes advindos de famílias de renome-prestígio-riqueza, Holden se sente deslocado. Aliás, acredita que quanto mais filhos de ricaços havia num colégio, maior a possibilidade do colégio ser cheio de cretinos e ávidos-pelo-bem-alheio. Quem tem grana é justamente quem mais grana deseja. “O Pencey estava cheio de vigaristas. A maioria dos caras eram de famílias ricas, mas estava cheio de vigaristas de qualquer modo. Quanto mais caro é uma escola, mais vigaristas ela tem – sem brincadeira.” (“Pencey was full of crooks. Quite a few guys came from these wealthy families, but it was full of crooks anyway. The more expensive a school is, the more crooks it has - I'm not kidding.” Ch. 1)
    E, consequentemente, o jovem Holden começa a desconfiar que uns sempre ganham, enquanto outros se acostumam a perder. Será que a vida é um jogo? O professor aceita a vida como competição,

“A vida é um jogo, rapaz. A vida é um jogo que se joga segundo as regras.”
“Sim, senhor. Eu sei disto, sei como é.”
“Jogo, meu saco. Que jogo. Se você está do lado onde estão os vence-tudo, então é um jogo, tudo bem – vou admitir. Mas se você está do outro lado, onde não há os vence-tudo, então que jogo é este? Nada. Jogo nenhum.” (cap. 2)

Life is a game, boy. Life is a game that one plays according to the rules."
"Yes, sir. I know it is. I know it."
Game, my ass. Some game. If you get on the side where all the hot-shots are, then it's a game, all right — I'll admit that. But if you get on the other side, where there aren't any hot-shots, then what's a game about it? Nothing. No game.” (Ch. 2)


    O jovem não acredita muito neste jogo onde uns ganham e o resto perde. Ele tenta se situar no mundo – onde ele está? Do lado dos ganhadores ou dos perdedores? Depende de como ele se comporta, depende das atitudes diante da situação. Ora ele se sente agindo como mais maduro, adulto, ora faz coisas de criança. Ele tem oficialmente dezessete anos – quando narra – mas sabe que isso de idade é muito relativo,

“Tenho dezessete agora, mas às vezes eu me comporto como se tivesse uns treze. É irônico, pois tenho mais de um metro e oitenta e tenho cabelos grisalhos, se tenho! De um lado da cabeça, mais à direita, está com milhões de cabelos grisalhos. Tenho todos desde que era criança. E ainda me comporto como se ainda tivesse uns doze. Todos dizem isto, ainda mais o meu pai. Em parte é verdade, também, mas não é tudo verdade. As pessoas sempre acham que algo é totalmente verdadeiro.” (Cap. 2)
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I'm seventeen now, and sometimes I act like I'm about thirteen. It's really ironical, because I'm six foot two and a half and I have gray hair. I really do. The one side of my head — the right side — is full of millions of gray hairs. I've had them ever since I was a kid. And yet I still act sometimes like I was only about twelve. Everybody says that, especially my father. It's partly true, too, but it isn't all true. People always think something's all true.” (Ch. 2)


    Realmente Holden mostra-se imaturo em muitas ações, principalmente nos deveres escolares. Somente recebe elogios do professor de Inglês, pois é fato que o jovem aqui gosta de escrever (ele é o narrador-escritor do livro que estamos a ler), gosta de narrar suas impressões sobre os colegas, até  minúcias. O que o jovem Holden detesta até ao ódio é o fenômeno social da Hipocrisia. As máscaras sociais que usamos para esconder a distância entre o que se prega e o que  se faz, o famoso “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, evidente entre os pais, os professores, os artistas, 

    Mas Holden não é exatamente o cara mais verídico do mundo. O caso é que ele é deveras imaginativo, aumenta demais as coisas – é bem hiperbólico até ao cômico.

“Sou o maior mentiroso do mundo. É terrível. Se estou no caminho para a loja para comprar uma revista, e alguém me pergunta onde estou indo, sou mentiroso o suficiente para dizer que estou indo até a ópera.” (Cap. 3) (“I'm the most terrific liar you ever saw in your life. It's awful. If I'm on my way to the store to buy a magazine, even, and somebody asks me where I'm going, I'm liable to say I'm going to the opera. It's terrible.”  Ch. 3)

    É esse excesso de imaginação que liga Holden ao mundo literário que o jovem consome com voracidade. Uma série de referências literárias podem ser rastreadas, além das explicitadas. Certamente a boa influência do irmão escritor (aquele que foi se 'prostituir' em Hollywood...) leva o jovem aos textos de Shakespeare, Dickens, Burns, Maugham, Hardy, Dinesen, Lardner, Fitzgerald, Hemingway, dentre outros. Holden gosta tanto dos livros que acha uma boa ideia conhecer os autores (nem sempre é uma boa ideia, que eu saiba),

“O que me nocauteia é o livro que, quando você está lendo, você gostaria que o autor que escreveu seja um amigo chegado e você pudesse ligar para ele quando ficasse com vontade. O que não acontece muito, no entanto.” (Cap. 3) (“What really knocks me out is a book that, when you're all done reading it, you wish the author that wrote it was a terrific friend of yours and you could call him up on the phone whenever you felt like it. That doesn't happen much, though.” Ch. 3)


    O encanto com a arte literária leva Holden a superar seus traumas com a escrita – com o seu relato ele confessa seus erros e desajustes, além de mostrar o quanto o mundo é injusto para com os jovens. Certamente por isso um livro escrito por um adulto para outros adultos tenha feito tanto sucesso entre os jovens. Houve um fenômeno de identificação com a voz do narrador – sua visão de mundo, suas gírias, sua ironia voltada contra pais, professores e os hipócritas.


    É sensível a desadaptação de Holden, seu deslocamento em relação aos colegas. Um é descuidado e estúpido, outro é arrogante, pretensioso e bon-vivant, sedutor de donzelas. Uns estudam demais, por vaidade, ou por pressão familiar, enquanto outros se divertem em torturar os alunos indefesos. Holden sente-se covarde diante dos estúpidos, hipócritas, brutos, ladrões, enfim, a escória do mundo. Ele sabe que não pode enfrentá-los, pois são a maioria. Ele é incapaz de atacá-los ou mesmo se defender. É mesmo um 'pacifista'. Daí ele se sentir sempre sozinho.

    Deslocado no colégio – entre os professores que reprovam, e os colegas que entediam ou atormentam – Holden resolve dar o fora, cair no mundo, dormir num hotel, ver o que há em Nova York, a grande metrópole. A solidão de Holden se dissipará na multidão? É possível que não. Ele a leva consigo. Holden perdeu o universo familiar e não conseguiu substituí-lo. Perdeu um irmãozinho para a morte, perdeu um irmão de talento para a indústria do cinema. Ainda tem um  irmãzinha que merece admiração. Ele não leva o pai e a mãe muito à sério, ainda que se entristeça quando imagina a mãe sabendo de mais uma expulsão...

“Meu irmão tinha esta luva de baseball para a mão esquerda. Ele era canhoto. A coisa que era descritiva sobre isto, no entanto, era que ele tinha poemas escritos todos sobre os dedos e a palma e por toda parte. Em tinta verde. Ele escreveu ali para ter algo para ler enquanto estava no campo e ninguém estava com o taco. Ele está morto agora. Ele teve leucemia e morreu quando estávamos no Maine em 18 de julho de 1946. Você teria que ter gostado dele.” (Cap. 5)
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My brother Allie had this left-handed fielder's mitt. He was left-handed. The thing that was descriptive about it, though, was that he had poems written all over the fingers and the pocket and everywhere. In green ink. He wrote them on it so that he'd have something to read when he was in the field and nobody was up at bat. He's dead now. He got leukemia and died when we were up in Maine, on July 18, 1946. You'd have liked him.” Ch. 5


    A perda dos irmãos é uma constante obsessão na fala de Holden, que está convencido que não encontrará amigos à altura. É um luto não concluído – ainda mais que sabemos que o jovem sofreu uma crise, feriu a si mesmo, quase à mutilação, e passou por uma terapia, tudo isso com apenas treze anos.

    Ele se lembra de tudo – narra com pormenores um ano depois – e tenta se explicar, justificar. É preciso abandonar outro colégio – outro antro de mediocridade, hipocrisia e lavagem-cerebral. É preciso sair para a vida – a cidade lá fora. Saber como o mundo funciona. Ainda que se tenha que ser a vítima em potencial. O jovem ingênuo e indefeso na cidade grande pronto para uma jornada, uma odisseia de aventuras? Mas em que grau ele é um herói?

    Holden é antes um observador, por demais irônico, do que um participante. Ele não consegue interlocutores. Ou acham que ele é criança, ou acham que ele é desequilibrado mental. É sempre tratado com condescendência ou indiferença. É assim com os taxistas, com os atendentes do hotel, com os artistas. Ele vê a vida dos outros, contempla as seduções e perversões alheias, nas quais ele não participa. Os perversos, os tarados, os hipócritas são sempre os outros. Os interesseiros, os sedutores, os mentirosos são sempre os outros.

    Mas Holden sabe o quanto é fantasista, mentiroso, fascinado pelas perversões alheias. Pois estas transgressões movem sua escrita, fruto de seu voyeurismo.  “Na imaginação, sou talvez o maior perverso sexual que há.” (Cap. 9) É o mesmo incentivo para as escritas 'pervertidas' de Bukowski, Artaud, Burroughs, Henry Miller, dentre outros. Com a diferença que estes participam das orgias que descrevem, enquanto Holden apenas observa. Ele liga para uma garota de programa, mas fica apenas no discurso. Ele é um ser da Escrita e sabe disso.

    É assim quando ele liga para a garota de programa, é assim quando ele vai às boates, se embebeda, ousa dançar, ou jogar conversa fora, sempre a analisar e julgar as pessoas ao redor, até quando se envolve em encrencas com um prostituta e um cafetão. Ele é um personagem de si mesmo – ele odeia cinema, mas vive imitando as personagens de filmes, as cenas pastiches da realidade. A cena da luta, do duelo, do herói humilhado pelo bandido, em suma, cenas saídas dos enlatados que esvaziam a sensibilidade. Quando mais encrencado, mas ele representa. Leva um soco e logo imagina que levou um tiro fatal, que o sangra gota a gota. Odeia o cinema, mas é um pobre influenciado.

    A questão da sexualidade é uma das mais centrais na adolescência, na juventude. O enamorar-se, o descobrir do corpo desejado, a vontade de ter uma interlocução física e espiritual. A mulher não apenas desejada mas enquanto possibilidade de alcançar o outro –Holden quer uma garota, mas não apenas para o sexo, ele quer gostar de alguém e não apenas deitar-se com alguém. Ao contrário dos outros rapazes que seduzem e pressionam as moças, como se elas fossem meros objetos.

    Será Holden um tímido? Ou será um idealista? Talvez um dos últimos românticos. Que deseja ver na mulher mais do que um corpo que se pode usar e depois descartar. Ele respeita as moças ao ponto de não conseguir possuí-las – ele se justifica por ser ainda virgem, quando todos os vigaristas já conseguiram ao menos agarrar uma garota no banco detrás do carro, pois parece que ele sente uma compaixão com a condição feminina, incompreensível para ele (será que ele se sente culpado em ser rapaz, o jovem homem dominador, sedutor? É uma hipótese...)

“A coisa é, na maioria das vezes quando se está quase fazendo isto [sexo] com uma garota – uma garota que não é prostituta nem nada, quero dizer – ela fica falando para parar. O problema comigo é que eu paro. A maioria dos caras não. Eu não consigo. Não se sabe se elas realmente querem que pare, ou se elas estão muito assustadas, ou se elas apenas dizem para parar assim se você continuar com o lance, a culpa é toda sua, não delas. De qualquer modo, eu vivo parando.” Cap. 13
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The thing is, most of the time when you're coming pretty close to doing it with a girl — a girl that isn't a prostitute or anything, I mean — she keeps telling you to stop. The trouble with me is, I stop. Most guys don't. I can't help it. You never know whether they really want you to stop, or whether they're just scared as hell, or whether they're just telling you to stop so that if you do go through with it, the blame'll be on you, not them. Anyway, I keep stopping.” Ch. 13


    A cena da prostituta ilustra bem esta teoria. Holden aceita a presença da garota de programa, mas acaba por perder qualquer interesse sexual e desejar apenas uma companhia, uma interlocutora. No que é frustrado – a moça só aparece mesmo para fazer o 'serviço', e não é nada sensível. Ao contrário, a mulher não dominada debocha do homem que recusa dominar! Ele não quer usá-la como os demais rapazes – e a moça passa a desprezá-lo. E não hesita em extorquir mais dólares do jovem, mesmo com o recurso da violência, corporificada dolorosamente no murro dado pelo cabineiro-cafetão no hotel (o mesmo 'cheio de pervertidos'). Toda cena é deprimente e é compreensível. Holden mostra o quanto o sexo pode ser vulgar. (Enquanto é justamente esse lado vulgar e cafajeste do sexo é 'fetichizado' pelos 'autores malditos' – basta ler Henry Miller, Bukowski, Burroughs, etc)

    O que resta de consolo para Holden? Ele sem família, sem escola, sem colegas, sem amigos, sem uma mocinha amada? Ele será uma espécie de místico? Ou de sacerdote devotado ao celibato? Um tipo de monge sem hábito vagando pelo mundo materialista? Um jovem com vocação para ermitão? Não é o caso. Ele é mais racional do que devocional, e sempre com uma sinceridade impressionante,

“Em primeiro lugar, sou uma espécie de ateu. Eu gosto de Jesus e tal, mas não me importo muito pela maioria dos assuntos da Bíblia. Por exemplo, os Discípulos. Eles enchem o saco, se quer saber a verdade. Eles até foram corretos depois que Jesus morreu e tal, mas enquanto Ele estava vivo, eles eram uns inúteis pra ele. Tudo o que eles fizeram foi deixá-Lo deprimido. Eu gosto de quase todo mundo na Bíblia mais do que dos Discípulos. Se quer mesmo saber a verdade, o cara que eu gosto mais na Bíblia, junto de Jesus, era aquele lunático e tal, que vivia nos túmulos e ficava se cortando com pedras. Eu gosto dele umas dez vezes mais do que dos Discípulos, daquele pobre bastardo.”
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In the first place, I'm sort of an atheist. I like Jesus and all, but I don't care too much for most of the other stuff in the Bible. Take the Disciples, for instance. They annoy the hell out of me, if you want to know the truth. They were all right after Jesus was dead and all, but while He was alive, they were about as much use to Him as a hole in the head. All they did was keep letting Him down. I like almost anybody in the Bible better than the Disciples. If you want to know the truth, the guy I like best in the Bible, next to Jesus, was that lunatic and all, that lived in the tombs and kept cutting himself with stones. I like him ten times as much as the Disciples, that poor bastard.” Ch. 14

    As teorias de Holden sobre as personagens e os episódios bíblicos são confusas e arbitrárias, cheias de caprichos, ele é subjetivo nas apreciações e desprezos. O jovem não aprecia aqueles que todos apreciam, antes prefere os tipos mais controversos. Acha que os discípulos são mais reprováveis do que Judas, o traidor. Afinal, alguém precisaria trair o Cristo para que ele se sacrificasse pela Humanidade e tal. Holden aposta uma grana na teoria de que Cristo não enviaria Judas para o Inferno, antes enviaria os Discípulos. (Uma posição meio defensor de Caim, não? Já vimos algo assim nos Künstlerroman, principalmente “Demian”, de Hesse, e a 'marca na testa', símbolo da rebeldia de Caim. O artista é um rebelde, digamos.)

    Na literatura é a mesma coisa: Holden gosta daqueles não exatamente 'canônicos'. Na peça shakesperiana “Romeu e Julieta” o mais interessante nem é o trágico par de apaixonados até a morte. Não. É o bufônico coadjuvante Mercutio, ele é o mais interessante, e assim 'rouba a cena'. Assim é preciso que o bardo logo tire Mercutio para a peça atingir o clímax trágico. Holden não se empolga muito nem com Romeu nem com Julieta – ele continua preferindo o Mercutio, que de figurante pode ser içado ao elenco principal. Holden não se importa se nossa sensibilidade é para Romeu ou Julieta,

    Eis outra amostra de desencontro, quando Holden vai ao parque, onde as crianças brincam de patinação, e não encontra a irmãzinha Phoebe. Ele não encontra as pessoas que ele quer encontrar, ele não consegue interlocução com as pessoas que ele encontra. Ele não se adapta: tudo está mudando: mas ele quer conservar as coisas que gosta, mas o tempo carrega tudo – as pessoas legais – ficam os cretinos. A imagem do museu é central aqui – lá tudo está parado no tempo. Os eventos se solidificam, engessados em outra temporalidade.

“Mas a melhor coisa naquele museu era que tudo estava sempre onde estava. Ninguém se mexia. Você podia ir até lá cem vezes, e aquele esquimó estaria apenas terminando de pescar aqueles dois peixes, as aves ainda estaria voando para o sul, os cervos ainda estariam bebendo água num buraco, com suas belas galhadas e sua belas pernas finas, e aquela índia com o peito desnudo estaria ainda tecendo a mesma coberta. Ninguém estaria diferente. A única coisa que seria diferente seria você.” Cap. 16
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The best thing, though, in that museum was that everything always stayed right where it was. Nobody'd move. You could go there a hundred times, and that Eskimo would still be just finished catching those two fish, the birds would still be on their way south, the deers would still be drinking out of that water hole, with their pretty antlers and their pretty, skinny legs, and that squaw with the naked bosom would still be weaving that same blanket. Nobody'd be different. The only thing that would be different would be you.” Ch. 16


    Sigamos. Se sinceridade é pecado, então não há dúvidas de que Holden é um pecador. Ele é tão sincero que atenta contra os próprios interesses, não sabendo 'jogar o jogo', sendo facilmente vitimizado – como demonstra o episódio em que leva um soco do cafetão – ou sendo rejeitado. Ele gosta da companhia da amiga Sally mas, ao ser demasiadamente sincero, ele acaba por magoar a mocinha e acabar novamente sozinho.

    Aqui Holden dedica um espaço para digressões – ele que adora digressões! - sobre as garotas que tanto o fascinam! As jovens em flor – na imagem proustiana -  que atraem olhares e desejos, em sua condição de seres a serem conquistados – no sentido de amadas, não dominadas,

“Um monte de estudantes estavam em casa para as férias, e lá estavam um milhão de garotas sentadas e por ali de pé a espera de seus encontros. Garotas com as pernas cruzadas, garotas com as pernas não cruzadas, garotas com pernas sensacionais,  garotas com pernas horríveis, garotas que pareciam garotas e tanto, garotas que pareciam ser umas putas se você as conhecesse. Era realmente algo belo de se ver, se você sabe o que quero dizer. De outro modo, era algo meio depressivo, também, pois você fica pensando que troço será que vai acontecer a todas elas. Quando elas deixarem o colégio, quero dizer. Você imaginaria que a maioria delas se casaria com caras idiotas. Caras que estão sempre falando sobre quantas milhas eles fazem com um galão de gasolina em seus carros fudidos. Caras que passam mal, iguais crianças, quando são derrotados no golfe, ou mesmo num jogo estúpido como o pingue-pongue. Caras que são bem sovinas. Caras que nunca vão ler livros. Caras que são bem chatos.” Cap. 17
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A lot of schools were home for vacation already, and there were about a million girls sitting and standing around waiting for their dates to show up. Girls with their legs crossed, girls with their legs not crossed, girls with terrific legs, girls with lousy legs, girls that looked like swell girls, girls that looked like they'd be bitches if you knew them. It was really nice sightseeing, if you know what I mean. In a way, it was sort of depressing, too, because you kept wondering what the hell would happen to all of them. When they got out of school and college, I mean. You figured most of them would probably marry dopey guys. Guys that always talk about how many miles they get to a gallon in their goddam cars. Guys that get sore and childish as hell if you beat them at golf, or even just some stupid game like ping-pong. Guys that are very mean. Guys that never read books. Guys that are very boring.” Ch. 17


    Pena que a sinceridade hiperbólica de Holden não permita que ele tenha na amiga uma boa interlocutora – ele que a tolera apenas porque precisa de companhia. Mas quando ele fala o que o incomoda tudo vira um 'ruído de comunicação' até que ele perde a paciência com a garota – incapaz de compartilhar as apreensões e inquietações do jovem protagonista.

    Aqui Holden explicita seu deslocamento, na crítica aos grupinhos e 'panelinhas' dos colégios (“e todo mundo se mete juntos nestes pequenos grupos sebentos”, “ and everybody sticks together in these dirty little goddam cliques.”), a obrigação do consumismo – quem tem o carro mais potente, o vestido mais da moda, etc - , as vaidades, os exibicionismos – exagerado nos pseudo-artistas, pseudo-heróis, etc – onde as pessoas jogam jogos ilusórios e perdem toda a espontaneidade, sobrando só a hipocrisia (que ele odeia).

    Holden quer fugir, quer cair na estrada (lembramos que é a mesma época de 'On the Road' , escrito em 1951, e publicado em 1957, do beatnik Jack Kerouac), e quer a companhia da garota ao seu lado – mas é inútil, ela já é do grupo dos intelectualóides, dos consumistas, dos vaidosos. Ela não quer deixar o conforto para viver uma vida de riscos, porém com sinceridade e ousada liberdade. E quanto mais ele desabafa pior fica o 'clima' entre os jovens - até o previsível rompimento. 


    A cena no Bar Wicker – no capítulo 19 – também ilustra o distanciamento de Holden para com os 'amigos', aliás, um sujeito pernóstico que o solitário jovem chama para um drink num bar de boêmios perdidos pelo centro da metrópole nova-iorquina. Em busca de diversão os bares amontoam-se de cretinos e esnobes, na visão de Holden, que mal suporta o lugar. Os músicos se exibem para os aplausos, a plateia aplaude freneticamente, mas sem entender o que seja, os garçons servem maquinalmente.

    O amigo – um intelectualóide, logo percebemos – mal se interessa pelo que Holden tem a dizer. Antes, o intelectual só conversa o que interessa aos intelectuais. Desde o colégio – ou colégios, pois o jovem protagonista não foi expulso apenas de um colégio – Holden sabe como funcionam os intelectuais com seus discursos e bazófias. “Estes caras intelectuais não gostam de ter uma conversa intelectual com você a menos que eles dominem a coisa toda. Eles sempre querem que você se cale quando eles se calam, e volte para o seu quarto quando eles voltam pros quartos deles.” (Cap. 19) (“These intellectual guys don't like to have an intellectual conversation with you unless they're running the whole thing. They always want you to shut up when they shut up, and go back to your room when they go back to their room.”  Ch. 19)


    De desilusão em desilusão, desencontro em desencontro, solidão em solidão, Holden encontra-se consigo mesmo e chora. Ignorado e subestimado, o jovem sente-se só num momento de transição – ele abandona as ilusões infantis e se prepara para o 'mundo-cão' dos adultos. É um verdadeiro 'bem-vindo ao mundo adulto', onde o jovem se sente enganado e vitimado. Daí o choro de Holden.

    Novamente a imagem da família ressurge. Solto nas ruas de Nova York, pois não desejava ir para casa, Holden percebe que a única pessoa com quem quer mesmo conversar é a irmãzinha Phoebe. Depois da morte de Allie e da mudança de D.B. para Hollywood, em quem mais Holden pode confiar? Quem mais poderá chorar por sua morte, assim como ele chorou a morte do irmãozinho? Ele deixa a solidão da cidade e volta-se para o aconchego do lar – onde entra de forma clandestina: em surdina.

    O humor-negro de Holden sempre mostra autoconsciência. Ele ironiza a forma de entrar em casa (“eu devia é ter nascido ladrão”) e pisa macio para não ser descoberto. Entra a irmã e travam um interessante diálogo – parece que o único autêntico em todo o livro. Os pais não estão em casa, assim os irmãos podem até dançar em cima da cama, mas a menina não gosta nada da ideia de Holden ser novamente expulso de um colégio.

    Os capítulos finais apresentam diálogos que ajudam o leitor a localizar Holden nos contextos – o familiar, no capítulo 22, com a irmã, e o estudantil-social, no capítulo 24, com professor Antolini – e ir além da narrativa solipsista anterior. É uma possível abertura para o dialogismo aqui. Outras vozes podem surgir, outros discursos além daquele do narrador-protagonista (ainda que apresentados pela escrita dele).

    A irmãzinha Phoebe ouve os desabafos de Holden, o aluno expulso e excomungado, e quer saber o que o jovem que ser, o que vai fazer na vida. Afinal do que o amargurado e irônico Holden gosta? Ele que não gosta de intelectuais, advogados, artistas exibicionistas, roteiristas de Hollywood, cientistas que podem criar bombas arrasadoras, pervertidos de hotéis, grupos de sacanas no colégio, etc, do que será que ele gosta? Ele então narra uma imagem muito louca, mas que dá título ao romance.(1)

“Você conhece aquela canção, 'Se alguém encontra alguém vindo através do centeio? … Fico imaginando estes garotos jogando algum jogo num grande campo de centeio e tal. Milhares de pequenos garotos, e ninguém por perto – ninguém de maior, quero dizer – exceto eu. E eu fico na borda de um louco dum abismo. O que eu tenho que fazer, eu tenho que apanhar cada um se eles chegam na borda do abismo – quero dizer se eles estão correndo e não veem onde estão indo eu tenho que chegar de algum lugar e apanhá-los. Eis tudo o que farei o dia todo. Apenas ser o apanhador no campo de centeio e tal. Sei que é meio maluco, mas eis a única coisa que eu realmente gostaria de ser. Sei que é meio doido.” (Cap. 22)
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You know that song, ’If a body catch a body comin’ through the rye’? ... I keep picturing all these little kids playing some game in this big field of rye and all. Thousands of little kids, and nobody’s around – nobody big, I mean – except me. And I’m standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff – I mean if they’re running and they don’t look where they’re going I have to come out from somewhere and catch them. That’s all I’d do all day. I’d just be the catcher in the rye and all. I know it’s crazy, but that’s the only thing I’d really like to be. I know it’s crazy.” Ch. 22


    Antes de sair para visitar o prof. Antolini – em plena madrugada! - Holden novamente cede ao choro, junto à irmãzinha Phoebe, que fica até assustada. Holden mostra-se realmente emotivo depois de tudo o que suportou no fim de semana mais inesperado e revelador de sua vida até ali. Aliás, revelador é o tom que move o diálogo com o professor. Diante do jovem atormentado, o adulto tenta aplicar suas lições de didática e humanismo. Algo de psicanalítico aqui. Citação de autor psicanalista, inclusive.

    (É irônico se lembrarmos que aquele amigo chato, lá no Bar Wicker, o filho de psicanalista que sugere ao inquieto Holden uma boa conversa ao estilo freudiano. Que psicanálise poderá 'curar' Holden? Antes, não seria 'encaixá-lo' na realidade doentia? A psicanálise não devia antes 'curar' a sociedade de cretinos? )

    O professor tenta entender o contexto de Holden, sua percepção de mundo eu consequente sentir-se deslocado. Holden é um tipo de pessoa que cai no fundo do poço e precisa saber se levantar. A maioria simplesmente não cai – vai se encostando nos lugares-comuns da existência. (Aliás, eis um tema constante na literatura existencialista, a  la Sartre, Camus, Beauvoir...) O professor tenta tranquilizar o jovem, a lembra que o jovem não está sozinho – outros já se sentiram como ele e escreveram sobre isso. Como romper a mediocridade e a hipocrisia?

“Você descobrirá que não é a primeira pessoa a ficar confusa e assustada e mesmo doente com o comportamento humano. De modo algum você está sozinho neste placar, e se sentirá excitado e estimulado ao saber. Muitos, muitos homens tiveram problemas morais e espirituais iguais a você agora. Felizmente, alguns deles guardaram registros de seus problemas. Você aprenderá com eles – se você quiser. Assim, algum dia, se você tiver algo a oferecer, alguém aprenderá algo com você. É um belo arranjo recíproco. E não é educação escolar. É História. É poesia.” Cap. 24
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You’ll find that you’re not the first person who was ever confused and frightened and even sickened by human behavior. You’re by no means alone on that score, you’ll be excited and stimulated to know. Many, many men have been just as troubled morally and spiritually as you are right now. Happily, some of them kept records of their troubles. You'll learn from them – if you want. Just as someday, if you have something to offer, someone will learn something from you. It's a beautiful reciprocal arrangement. And it isn’t education. It’s history. It’s poetry.” Ch. 24


    Podemos ver e vislumbrar uma série de escritores com seus registros de crises, a compor uma série de livros que vão integrar o acervo mundial da literatura confessional, existencialista, vertida em prosa e poesia, a conectar os leitores – futuros autores – numa teia de apoio e intertextualidade. A comunhão literária que tanto defendemos aqui – neste MEU CÂNONE OCIDENTAL – e outros ensaios.

    Uma literatura enquanto expressão e denúncia, enquanto compartilhamento de impressões sobre o mundo. Não apenas uma literatura que fala de literatura. Os excessos de metalinguagem, metapoemas, metatextos, mostram isso – o esvaziamento da literatura enquanto depoimento, troca de sensações e vivências.

    O que o professor deseja dizer é que não basta Holden cultivar o desassossego, mas ele deve reelaborar a inquietação em escrita, em comunicação, e superar tudo de uma forma criativa – é preciso sofrer e transcender o sofrer para desenvolver a capacidade criadora – eis o que faz o Artista, o criador de textos, poemas, músicas, imagens.

    Pena que o episódio se encerre de forma tão brusca e inesperada, num anticlímax. Não sabemos se Holden imaginou tudo ou é verdade. O professor, com admiração, debruçado sobre o jovem ? Um afeto paternal ou um indício de pedofilia? Será o filosófico professor Antolini um pervertido? (O caso é que Holden odeia os pervertidos. E é compreensível que o jovem se afaste até do simpático professor.)

    É o final da narrativa. O momento mais depressivo na vida do protagonista-narrador. Ele sabe disso – mesmo um ano depois (quando finalmente escreve). Holden novamente em suas andanças e devaneios, a ponto de se perder em digressões – ele que aprecia tanto as digressões! É o mesmo desconforto, o mesmo sentir sozinho, que encontramos no narrador-protagonista de “On the Road”, o Sal Paradise, alter-ego do autor Kerouac, logo no início do livro e que leva o jovem escritor a começar suas perambulações by carona pelos Estados Unidos. Holden imagina-se viajando para o oeste norte-americano através de caronas, tal como fazia Kerouac na mesma época.

    Holden se martiriza ao imaginar incomunicável e abandonado, enquanto Sal Paradise quer conhecer o mundo e fazer amizades. Holden sofre no solipsismo, Sal-Kerouac quer mergulhar no mundo. Mas ambos têm anseios de liberdade – no sentido de deixar a vida acomodada e conformista numa sociedade de consumo e hipocrisia.

    O jovem acredita que não há lugar seguro e pacífico no mundo. Sempre alguém vai escrever um xingamento debaixo do nariz de outro alguém, sempre alguém vai atirar pedras. Nem depois de morto, o sujeito tem paz, podem pichar sua lápide. “Eis o problema todo. Você nunca via encontrar um lugar legal e calmo, porque não existe isso.” (Cap. 25)(“That's the whole trouble. You can't ever find a place that's nice and peaceful, because there isn't any.” Ch. 25)

    Mas no final ele prova que estava errado – não vale a pena ser tão negativo e niilista. Algo vai acontecer – algo simples e familiar que vai provar o quanto Holden ainda tem alguém em quem pensar, em quem abrigar sua afeição. O final é simples, singelo e destoa do livro inteiro – quem lê vai entender. Não vamos revelar aqui. Apenas que Holden não foi para o oeste com o pé na estrada a pedir carona.

    O final? O final é o próprio livro que acabamos de ler. Ele escreve. Ele narra suas aventuras e desventuras. Pensa melhor sobre o que vivenciou e confidencia seu testemunho. (Pois ao autor Salinger importa o sincero depoimento da literatura, não a exibição autoral, daí sua dedicação em escrever e não aparecer na mídia...) Ao narrar tudo o jovem Holden até sente saudades. Até dos cretinos, até do soco, até do desmaio. Tudo faz parte do desassossego e do aprendizado. E quanto a nós? O que podemos fazer além de ler e tentar compreender? A Escrita é mesmo uma mensagem numa garrafa jogada ao mar das possibilidades.

mai / 12

Leonardo de Magalhaens

http://leoliteraturaescrita.blogspot.com



nota:

(1) Através do campo de centeio, expressão do poema de Robert Burns [1759-1796]
Comin' Thro' The Rye”
http://allpoetry.com/poem/8439179-Comin_Thro_The_Rye-by-Robert_Burns
http://en.wikipedia.org/wiki/Comin%27_Thro%27_the_Rye

Comin thro' the rye, poor body,
  Comin thro' the rye,
She draigl't a' her petticoatie,
  Comin thro' the rye!

Gin a body meet a body
  Comin thro' the rye,
Gin a body kiss a body,
  Need a body cry?


(“Vindo através do centeio, pobre alguém, / Vindo através do centeio, / Ela molhou a anágua, / Vindo através do centeio! // Se alguém encontra alguém / Vindo através do centeio, / Se alguém beija alguém, / precisa alguém gritar?” trad. LdeM)





mais info sobre “Catcher in the Rye” em:

summary
http://www.free-book-summary.com/the-catcher-in-the-rye.html

http://www.sparknotes.com/lit/catcher/

Wikiquote
http://en.wikiquote.org/wiki/The_Catcher_in_the_Rye


first edition photos
http://www.fedpo.com/BookDetail.php?bk=213

videos sobre
http://www.youtube.com/watch?v=TNKRhHPmDUY

http://www.youtube.com/watch?v=r1SCbHtskfQ


Filme inspirado em “Catcher

Chasing Holden / 2003
http://www.imdb.com/title/tt0217319/

http://www.youtube.com/watch?v=zH8SLHWXavo&feature=related

Vídeo com cena baseada no romance :
'If a body catch a body'
http://www.youtube.com/watch?v=UjNeom_q5sQ&feature=related